Análise do Mercado – 14/06/2011

Preocupação. Este parece ser o fator predominante nos mercados globais ante tantas incertezas e ausência de sinais de recuperação das economias desenvolvidas, mantendo-se nos “discursos” a afirmação de recuperação em ritmo lento, mas com…

Preocupação. Este parece ser o fator predominante nos mercados globais ante tantas incertezas e ausência de sinais de recuperação das economias desenvolvidas, mantendo-se nos “discursos” a afirmação de recuperação em ritmo lento, mas com a crescente percepção de que pode já haver indícios de retrocesso, o que é algo que atemoriza.

Nestas circunstâncias, os movimentos dos preços dos ativos não têm como evitar a volatilidade decorrente das resistências naturais a um ajuste mais intenso num ambiente que já sinaliza um viés de baixa, dada a ausência de fundamentos que possam possibilitar sustentabilidade mínima.

Nos Estados Unidos, onde os dados da economia têm se repetido ruins e contrários às expectativas após enormes aportes financeiros por parte do governo, o grande problema está na necessidade de retomada dos investimentos pelo setor privado e geração de empregos, base do PIB americano, tendo em vista as parcas condições do governo de manter incentivos para neutralizar a elevação do desemprego e evitar o retrocesso, a recessão.

Desta forma, indicadores marginais “menos ruins”, como os de hoje, são superdimensionados pelo mercado financeiro na busca de sobrevida e resistência a uma tendência presente de desaceleração impactante nos preços dos ativos.

As vendas a varejo em maio caíram 0,2%, embora seja o 1º declínio em 11 meses, a receptividade é otimista pelo fato de ter sido menor do que o projetado.

O PPI, índice de preços no atacado, avançou 0,2% em maio, na série com ajuste sazonal, depois de alta de 0,8% em abril e 0,7% em março. O “núcleo”, expurgado alimentos e energia, também apontou alta de 0,2%, após 0,3% em abril. Nos últimos 12 meses encerrados em maio a inflação no atacado acumula 7,3%, a maior desde os 8,8% de setembro de 2008.

Por outro lado, as bolsas americanas valem-se dos dados anunciados pela China, retrospectivos, que sinaliza crescimento anualizado base maio da produção industrial de 13,3%, após 13,4% em abril, ante projeção de que recuasse a 13,2%. Da mesma forma, as vendas no varejo chinês cresceram 16,9% em maio anualizado, abaixo 0,2% em relação a abril.

Parece ignorarem, até por conveniência, a visão prospectiva, já que o governo chinês anunciou novo aumento no depósito compulsório de 0,50%, com a taxa passando a 21,50% para as grandes instituições bancárias, um recorde, isto a despeito da concessão de crédito ter crescido no ritmo mais lento desde 2008. E mais, que o índice de inflação ao consumidor na China atingiu 5,5% na comparação anual, o maior em quase 3 anos, e no atacado 6,8%.

A Europa também demonstrou algum alento com os dados retrospectivos da China, mas o problema da Grécia está se agravando, com sérios riscos de contaminação de outras economias periféricas e impacto no caixa do BCE, enquanto perduram as divergências entre a Alemanha e o Presidente do BCE quanto a estratégia de socorro.

Por outro lado, a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico confirmou a redução do ritmo de crescimento dos BRIC´s, que tem sido um dos motores da economia mundial. Destaca a desaceleração da economia brasileira; a “moderação possível” na atividade econômica da China, e na mesma linha, constata queda na atividade na Índia e na Rússia.

Acentua-se a percepção de que, enquanto a economia americana não encontrar a saída para a recuperação, o todo da economia global irá claudicante, pois os Estados Unidos, com seus 26% do PIB mundial, é o grande comprador e o grande vendedor para o mundo, tendo uma economia interna forte com elevado consumo que representa 75% do seu PIB, condição que a China não detém, pois é uma grande processadora industrial para o mundo, mas por não ter um consumo interno forte, é dependente do seu comércio exterior e este, se as economias desenvolvidas não se recuperarem, tem um viés cadente.

O PIB mundial sem os Estados Unidos, como salienta o analista Antônio Machado, cresceu 2,1% nestes últimos 40 anos. De 1973 a 2010 o PIB americano representa 26,0% e a China veio de 0,68% para 7,43%, enquanto o Brasil no mesmo período de 1,55%, o dobro da China, para 2,41% em 2010.

Por isso, como o “gigante” da economia mundial está fragilizado, parece inócuo vislumbrar-se recuperação sustentável no curto/médio prazos, até porque a China ainda é carente de mercado interno consumidor, portanto, dependente forte do comércio exterior.

Assim, se os desenvolvidos não conseguem retomar o crescimento e os emergentes estão sendo impelidos a crescer menos por precaução quanto à inflação e bolhas especulativas, é de se questionar porque os ativos, em especial algumas “commodities”, continuam com os preços tão inflados.

Nos parece que antes do restabelecimento da retomada do crescimento, o mundo global poderá ter que conviver com um novo ajuste forte e, naturalmente, com rodadas de perdas e de ganhos, já que no “jogo” dos mercados financeiros, alguns perdem para que outros ganhem.

Este é o ponto que, em última instância, causa a preocupação.

O Brasil, naturalmente, não fica alheio a este cenário pouco otimista externo, mas também tem ajustes corretivos fortes a dar curso internamente, já que cresceu forte no ano passado impulsionado por gastos excessivos da parte do governo que não podem ser replicados e uma expansão estimulada do crédito insustentável, ambos inflacionários e cujas pressões se fazem presentes neste ano, e, ademais carece de infraestrutura compatível para o crescimento sustentável, já que não foram realizados os investimentos estratégicos e fundamentais.

Tende a crescer a metade do que cresceu o ano passado, sendo necessário que aperte a política fiscal com cortes nos gastos de custeio e não de investimentos, que precisam ser priorizados.

Na inflação vem conquistando resultados com a política combinada de medidas macro prudenciais e elevação do juro, “a priori” desacreditada pelo mercado financeiro, acostumado pela conveniência única e simples de elevar o juro, onerosa ao erário e desincentivadora dos investimentos privados.

Convive com um problema de acumular reservas cambiais simplesmente pelo fato de não ter outra alternativa, acarretando ao erário enorme custo de carregamento face a disparidade de custo dos reais versus rentabilidade das divisas estrangeiras.

Embora, tenha agido de forma intensa para conter e amenizar o fluxo de capitais a busca de rentabilidade no país, sempre há uma “janela” para estes ingressos, e na ponta devemos reconhecer que o enfrentamento do governo esta sendo com a consequência, já que a causa é fundamentalmente o “tamanho do juro” que o país proporciona, absolutamente diferente dos demais emergentes, embora seja conceituado como “investment grade” e represente risco baixo.

Este cenário, mais o movimento especulativo no mercado de derivativos e, também, algumas atuações do próprio BC, promovem o real excessivamente valorizado, de certa forma até sustentável, salvo a eclosão de uma crise externa forte que promova a saída dos especuladores.

Não vemos, mesmo com o cenário precavido no cenário global, razões efetivas para o preço da moeda americana evidenciar movimento recuperatório no curto/médio prazo, porém consideramos que o ambiente predominante no todo não sugere que se especule tanto quanto os “hedge funds” estão fazendo ao assumirem posições líquidas “vendidas” nos derivativos acima de US$ 20,0 Bi líquidos.

 

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