Há leituras mais claras, embora expondo conflitos de diretrizes entre os anseios do Ministério da Fazenda e da Presidenta Dilma e o gerenciamento da politica cambial por parte do BC, deixando evidente que o BC “pode” atender as sugestões emocionais do MF e da PR ante cenários desfavoráveis até certo ponto, mas a razão impõe que não se demonstre, por isso, mais
Há leituras mais claras, embora expondo conflitos de diretrizes entre os anseios do Ministério da Fazenda e da Presidenta Dilma e o gerenciamento da politica cambial por parte do BC, deixando evidente que o BC “pode” atender as sugestões emocionais do MF e da PR ante cenários desfavoráveis até certo ponto, mas a razão impõe que não se demonstre, por isso, mais tolerante com o controle da inflação, que esta fora do ponto ideal e que o BC espera a convergência para o centro da meta em 2013.
Afora o fato da intempestividade da mudança declarada pelo BC, na forma de preocupação bem fundamentada, criar incertezas no mercado de câmbio tem um alcance nas expectativas muito maior do que se pode imaginar nos planos dos setores produtivos, deixando um “rastro” de risco de eventual retorno a um quadro antecedente que provocou desalentadora “desindustrialização” no país, com a substituição do produto nacional pelo importado e, indo além, também os insumos que passaram a representar expressivo percentual do valor agregado nos produtos ditos nacionais.
Se a indústria nacional estava pouco responsiva de imediato ao incremento que vinha sendo sugerido pela valorização do dólar, até um certo momento induzida e hoje já não tanto, e algumas desonerações tributárias, demonstrando lentidão na definição dos investimentos necessários para aumentar a oferta interna e para exportação, sem o que o a alta do dólar, provocaria o aumento das importações com preço mais elevado, inflacionária, e o choque de oferta pela baixa produtividade interna também resultaria na mesma direção.
Esta, no nosso entender foi a visão que impôs a mudança de rumo declarada pelo BC na condução do foco da taxa cambial.
A reação da indústria nacional pode ser de sentimento de desestimulo com a colocação clara desta preocupação por parte do BC, e pode deixar um “vazio” nas declarações recentes da Presidenta Dilma, e na ponta pode retardar mais ainda a esperada reação do setor à retomada dos investimentos.
E é notório que o Brasil só conseguirá recompor a sua linha de crescimento se os investimentos forem retomados fortemente, que nos parece precisar de uma melhora substancial na coordenação da economia por parte do governo, com aumento do diálogo e menos conflitos, e busca determinada da competitividade.
Este é o contexto que entendemos do que está ocorrendo, mas vemos problemas efetivos no mercado de câmbio que também ganham cada vez clareza.
O mercado de câmbio precisa de dólares à vista, portanto, precisa de leilões puros de dólar a vista. O BC tem afiançado que suprirá as necessidades com leilões, mas parece reticente ou constrangido para realizar os leilões de dólares à vista que vem sendo “requeridos” por sinalizações pelos agentes do mercado.
Realizou leilões com os instrumentos financeiros “swaps cambiais” e “swaps cambiais reversos”, até deixou de rolar parte vincenda destes, promovendo efeito oferta no mercado de derivativos, e, por fim realizou leilões conjugados de venda a vista e recompra futura, que, em principio, até entendemos que poderia atenuar as pressões altistas do preço presentes no mercado. Tudo, combinado com as quebras das amarras normativas sobre os Pagamentos Antecipados a Exportação e Empréstimos Externo, que cria a perspectiva de liquidez logo adiante que supriria a viabilização da liquidação por parte dos bancos para liquidação da ponta de recompra por parte do BC nas operações de leilões conjugadas, provocou um relativo recuou no preço, mas não despontencializou o seu viés de alta que poderá ser revitalizado a qualquer momento.
E por que? Porque o mercado deseja leilão de dólares a vista, para aliviar as pressões de demanda que estão maiores do que a oferta, e aliviar o mercado de cupom cambial.
Acreditamos que o BC não vá justificar as razões pelas quais não os realiza, a despeito da afirmação contumaz de que suprirá as necessidades do mercado. Mas nos parece haver constrangimentos mesmo nesta questão.
O fluxo cambial da primeira semana de dezembro foi negativo em US$ 1,350 Bi, os bancos “devem” com base nos números tardios do BC, base 7 tecnicamente 5 pelo fator D+2), em torno de US$ 500,0 M, que pode ter se ampliado, pois este é o período em que se acentua a demanda.
O preço da moeda americana continua sendo formado pelo mercado “flutuante sujo”, com banda atual de R$ 2,05 a R$ 2,10, mas já não está “tão na mão do BC” como até semanas atrás, há pressões típicas do mercado que precisam ser superadas e tem força própria que dificultam o simples monitoramento pela autoridade monetária, a menos que “use o bolso próprio (as reservas cambiais) e o disponibilize o volume necessário para liquidez no mercado à vista”.
A discussão entre dólar real e dólar nominal conduz a inúmeras conclusões, pois há vetores diferentes para cada análise setorial, porém no procedimento de bandas notamos a existência de estratégia que até foi pouco destacada pela grande maioria. Ao “proteger”, com a administração do preço da moeda americana, as repercussões de valorização que poderiam impactar no real no nosso mercado, mantendo, portanto, o preço focado no nosso interesse, neutralizávamos a perda de competitividade por equiparmos nossa competividade com os produtos americanos ao par e, eventualmente, ganhos maiores eventualmente nos mercados europeus. O que vai ser apurado pelos analistas é a existência desta gordura equalizadora, mas é preciso entender que em situações atípicas os procedimentos, por razões imperativas, determinam estratégias atípicas, até porque neste mercado de moedas, juros e comercio exterior, há poucos distraídos e muitos espertos.
Em parte, precisaríamos agir como agiu o FED americano ontem, eleger a prioridade, sob o risco de ficarmos repetindo o mesmo sempre e continuar “patinando”, precisa haver nova criatividade com medidas prudenciais.
Nos Estados Unidos, o FED anunciou nova rodada de estímulos à economia, com a manutenção dos juros baixos ATÉ QUE O DESEMPREGO recue a 6,5%, portanto diretamente ao cenário econômico do país, e, mostrou-se tranquilo quanto a inflação, que deixou de ser foco relevante neste momento, admitindo-a até a 2,5%. A decisão inova a diretriz da gestão, sendo tomada pela primeira vez por um Banco Central no mundo.
Reafirmou plano de recompra de bônus, títulos do Tesouro americano, de longo prazo, da ordem de US$ 45,0 Bi mensais, sem prazo para acabar.
Até este ponto animou os mercados, mas esfriou os ânimos quando voltou a alertar para os riscos cada vez mais próximos para a economia americana, caso o Congresso não chegue a um consenso para evitar o “abismo fiscal”.
Na Europa, há sinais de que haverá sucesso na Unificação do Controle do sistema bancário, com o BCE liderando o controle de todos os bancos e agindo diretamente junto aos mesmos, em conformidade com o que indicar os diagnósticos de suas situações. Será um avanço, mas é necessário que regras semelhantes sejam acordadas para o controle das situações fiscais de todos os países por um órgão superior, impondo a disciplina definida no acordo que criou a eurozona.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO