O mercado de câmbio brasileiro sinaliza que tem contraditórios na gestão coordenada pelo BC com os propósitos recentes do MF e da Presidenta da Republica, deixando evidente que há diretrizes conflitantes determinadas pela emoção frente à razão, e isto acaba provocando certo desnorteio em todos os setores envolvidos no entorno.
O mercado de câmbio brasileiro sinaliza que tem contraditórios na gestão coordenada pelo BC com os propósitos recentes do MF e da Presidenta da Republica, deixando evidente que há diretrizes conflitantes determinadas pela emoção frente à razão, e isto acaba provocando certo desnorteio em todos os setores envolvidos no entorno.
Recentemente o discurso oficial, a partir do Ministro Mantega, determinava que o dólar não poderia ficar com preço abaixo de R$ 2,00, fato repetido inúmeras vezes, desde setembro quando a indústria deu um sinal acentuado de perda de atividade.
Em 19 de novembro último, a Presidenta Dilma de forma enfática, em entrevista ao Jornal Valor, afirmou que o governo está “em busca de um câmbio que não seja esse, de um dólar desvalorizado e o real supervalorizado”. Ficou expresso pela Presidenta que a despeito da depreciação de 30% ocorrida, considerava que ainda assim estava apreciado.
O que nos parece é que tanto as enfáticas declarações em torno do tema feitas pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto pela Presidenta Dilma, tiveram origem na emoção, que provocou manifestações focando o interesse na dinamização da atividade econômica, em especial da indústria, por uma via muito rápida que é a taxa cambial, num ambiente já sem alternativa imediata diferente para este fim.
O BC, em principio, cumpriu o rito sugerido pela vontade explicita do governo, mas chamado à razão percebeu que “administrando a taxa cambial pró-indústria” estava promovendo pressões sobre a inflação de difícil reversão para a convergência para a meta em 2013, pois este estímulo estava sendo concedido sem que tivesse a concomitância do aumento do investimento pelo setor produtivo, o que leva à complementariedade do atendimento à demanda interna com produtos importados, que acabam ficando mais caros e impactam na inflação.
A razão impõe que o BC “administre a taxa cambial a serviço da inflação” e, com este foco os Diretores do BC mudaram o discurso, confrontando, em tese, com o posicionamento da Presidenta Dilma, ao declarar que “há gordura” no preço da moeda americana, ou seja, o preço está elevado.
Sabidamente o nosso câmbio flutuante sempre foi “sujo” desde 1999, fato salientado ontem pelo Diretor do BC Carlos Hamilton. É ilusório imaginar-se que um dia, de verdade, o dólar valesse tão somente R$ 1,50, num ambiente em que o BC exauria o total de ingressos de divisas no país agregando-a as “reservas cambiais” do país, e, indo mais além deixando os bancos folgadamente “vendidos” em suas posições no mercado à vista, para através do mercado de derivativos operacionalmente implementar ações apreciando o real. Por longo período do governo do então Presidente Lula, o dólar foi “administrado pró-contenção inflacionária”, o que se revelou como sucesso no controle, mas deixou no passivo a significativa “desindustrialização” ocorrida no país, consequente da invasão dos produtos importados acabados ou na forma de insumos que se tornaram valor agregado dos produtos ditos nacionais, cujos efeitos são duradouros até os dias atuais. Mas este massacre à indústria nacional foi encoberto pelo “boom” dos preços das “commodities” que nos garantiram expressivos saldos na balança comercial.
Contudo, o cenário atual não é de grande fluxo de recursos para o país, principalmente especulativos ou até para setores de renda variável ou renda fixa, pela queda da atratividade, decorrente de inúmeros fatores sobejamente conhecidos.
O BC teve problemas para promover a retração do preço quando atingiu R$ 2,13, parecendo objetivar até então o piso alto não superior a R$ 2,10, pois o mercado não “respondeu” prontamente aos leilões múltiplos de leilões no mercado de derivativos e conjugados no mercado de câmbio a vista, só não tendo utilizado o que efetivamente era necessário, leilão à vista no mercado a vista, por razões que já tivemos oportunidade de expressar nosso entendimento em comentários anteriores.
Na realidade, o mercado de câmbio brasileiro sinalizou que estava carente de fluxo de recursos à vista e isto pressionou a taxa cambial.
Reticente para realizar leilão a vista no mercado a vista, o BC e o MF optaram por “quebrar algumas amarras” que impactavam na retração do fluxo de recursos para o país. Estendeu o prazo dos Pagamentos Antecipados de Exportações de 360 dias para até 1.800 dias; e, na sequência reduziu para o prazo mínimo de 1 ano a incidência de IOF de 6% nos empréstimos externos.
No nosso entendimento, como já salientamos anteriormente, foram abertos dois canais que deverão promover substantivo aumento do fluxo de recursos para o país, oxigenando a liquidez.
Também já pontuamos que neste quadro prospectivo, o BC poderia fazer a gestão doravante com leilões de “swaps cambiais”, se subir; “swaps cambiais reversos”, se cair; e, conjugados de venda e compra no mercado a vista, para suprir a necessidade imediata de liquidez no mercado com recompra futura, cobrindo assim o hiato natural da relação causa-efeito dos canais de fluxo abertos.
Nenhuma novidade, tudo tecnicamente correto e previsível.
Ontem, segundo a mídia, o Presidente Tombini informou que realizará hoje 2 leilões conjugados, no total de US$ 1,5 Bi, com vencimentos das pontas de recompras em 14/1 e 14/2/13, o que deixou claro que o BC tem a firme intenção de apreciar o real e inibir qualquer pressão altista que venha a pressionar por demanda maior neste final do ano.
A mudança de atitude pública do BC certamente surpreende pela alteração de rumo, deixando na margem uma resposta para o mercado financeiro de que a inflação não está sendo subjugada como os analistas têm salientado. Por outro lado, cria um quadro extremamente desalentador para o setor produtivo exportador e na contrapartida atenua as preocupações das empresas com exposição passiva não coberta em moeda estrangeira.
Deixa um sentimento de “punição à indústria que não investe”, e desta forma devemos ter a complementariedade da oferta de produtos que não consegue disponibilizar sendo importada.
Estas guinadas criam desconfortos internos e, consequentemente, externos, agregando incertezas sobre as diretrizes efetivas da coordenação da gestão do câmbio, que é algo que sensibiliza fortemente as decisões na economia.
E agora? Qual é o ponto da taxa cambial administrada “com foco na contenção da inflação” e não na dinâmica do mercado?
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO