O insucesso dos esforços de discussão da questão cambial global no FMI, não permite que se anteveja cenário diferente na próxima reunião do G-20 no mês que vem, mas deixa absolutamente evidente que o sistema de câmbio flutuante, bom nos…
O insucesso dos esforços de discussão da questão cambial global no FMI, não permite que se anteveja cenário diferente na próxima reunião do G-20 no mês que vem, mas deixa absolutamente evidente que o sistema de câmbio flutuante, bom nos momentos de exuberância econômica, demonstra total esgotamento no ambiente presente de prevalência de economias, ditas desenvolvidas, mas em notória perda de atividade econômica.
Desta forma, “cada um se defende como pode” e todo o foco é carreado para o individual em detrimento da visão plural, exaurindo-se as figuras dos parceiros.
Sucumbindo o sistema de câmbio flutuante que tem a característica de rapidamente ajustar paritariamente os valores relativos entre as moedas, que parecia algo esquecido pela grande maioria, o desconforto generaliza-se, pois atinge diretamente os que estão menos pior, já que no cenário atual há muito poucos que estão bem.
O risco é que de forma imperfeita e sem conversações, cada país estabeleça regras próprias de variação admitida para sua moeda, criando um desacordo com modelagem de Bretton Woods.
A perspectiva é a desordem cambial e as consequências podem ser graves a ponto de obrigar a que todos tenham que se reunir, mas até lá estragos podem ter afetado países que demonstrem constrangimentos em se defender efetivamente.
Desde Bretton Woods a economia americana tem sido o ponto de ajuste, construindo déficits comerciais sistêmicos, enfim era a mais pujante e rica do mundo e chegava a representar 1/3 dos negócios comerciais do mundo. Ocorre que, os Estados Unidos estão perdendo a pujança econômica em consequência das inúmeras irresponsabilidades praticadas pelo sistema financeiro com reflexos diretos sobre a economia mundial.
Perdida esta referência dos Estados Unidos, e com Europa e Japão também com problemas na mesma linha e como consequência da mesma causa, o sucessor imediato dos Estados Unidos seria a China, rica, pujante, com crescimento sustentável, mas que não quer assumir o papel de liderança e defende seus interesses com “mão de ferro” sobre o câmbio.
O problema então sai do foco amplo de um G-7 ou G-20 e restringe-se ao G-2, e a discussão e o jogo de estratégias se intensifica.
Os Estados Unidos sinalizam que injetarão mais recursos de grande monta em sua economia para revitalizá-la e com isto e a manutenção de taxa de juro praticamente zero provoca forte depreciação de sua moeda no mercado internacional. É a sua estratégia visando atingir a China que mantém o seu Yuan também desvalorizado.
Na margem deste cenário, entre os “bem sucedidos”, considerando o “status quo” da maioria, está o Brasil e suas inúmeras atipicidades e incompatibilidades que o faz atraente que acabam por revelar que não dispõe de estratégias para conter as consequências disto.
O arsenal defensivo é frágil, embora o governo mantenha um “tom elevado” de que disponha de instrumentos que podem ir além do aumento do IOF já praticado. Na realidade os instrumentos que já deu evidência de uso tendem a ser mais “um tiro no pé”, pois potencializarão, se tornados efetivos, a já acentuada apreciação do real.
O Brasil tem inúmeras fragilidades próprias que nada tem a ver com o exterior e que tem provocado a apreciação do real, até por estratégias indutoras por parte do governo.
Juro alto absolutamente incompatível com o nível de risco do país; reservas cambiais formadas com aumento da Dívida Interna dada a ausência de poupança fiscal e com expressivo custo de carregamento face a arbitragem do juro interno versus juro externo; sistema cambial flutuante inadequado para um país com o nosso perfil e fortemente mutilado pelas intervenções do BC; mercado de derivativos com “todas as janelas abertas” para movimentos especulativos, etc.
Com a China na “retranca” e suficientemente rica para “peitar” as pressões mundiais, visto a sua posição estratégica no comércio mundial como forte comprador e forte vendedor, e ainda, sendo financiador dos déficits de inúmeros países de economia desenvolvida, fica o Brasil como a oportunidade disponível e atraente para o mundo especulador atrás de rentabilidade e para absorver as exportações que os países em crise precisam realizar.
Embora poucos observem e atribuam a depreciação do dólar ao fluxo cambial, o BC tem comprado do mercado à vista todo o fluxo líquido que sobra para o país e muito mais, fomentando o desenvolvimento das posições “vendidas” dos bancos no mercado físico, com as quais induz os bancos a apreciar o real e com isto conter pressões inflacionárias.
Criado o viés de apreciação do real, o mercado de derivativos aproveita a tendência estimulada e potencializa a especulação.
O país não pode reduzir o juro que oferta e não tem poupança para assumir uma reserva cambial ilimitada dada a falta de poupança fiscal devido ao fato do governo gastar em demasia, e os instrumentos que dispõe para “comprar mais ilimitadamente”, Tesouro Nacional, Fundo Soberano, o próprio BC ou a utilização dos instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais reversos”, não tem características de contenção da apreciação do real, muito pelo contrário.
O Brasil vem registrando um crescimento forte do PIB, pouco sustentável, mas não teve foco em fortalecer-se em pontos extremamente relevantes, como formação de poupança fiscal, redução de juro e gastos do governo controlados, portanto, ainda permanece subdesenvolvido em pontos cruciais. Por isso, o contraditório predomina.
Acreditamos que, gradativamente, os países irão ter que mutilar ou desprezar o sistema de câmbio flutuante, numa etapa antecedente a da inevitável reunião para discutir a questão, adotando sistemas de câmbio híbridos com o governo assumindo o controle do câmbio e flexibilizando com margens de flutuação.
Se conselho pudéssemos dar, sugeriríamos que o Brasil saísse na frente e não ficasse na rabeira, dando um golpe de um “tiro só”, pois certamente outros grandes países terão que proceder da mesma forma, sem sombra de qualquer dúvida.
Precisamos sair na frente, até porque temos inúmeros problemas internos incontornáveis e que somente poderiam ser blindados por uma postura defensiva estratégica cambial.
Se não fizermos por bem, certamente adiante teremos que fazer por absolutamente necessário, e poderá ser tarde.
Impactos no mercado de derivativos, nos movimentos especulativos, etc. Tudo isto é menor ante a necessidade do país defender-se de consequências imediatas maiores, já que os problemas internos somente poderão tirar a atratividade do país pelo capital de má qualidade, com redução dos gastos do governo, aumento da poupança fiscal e redução do juro, que implicam em política governamental de médio e longo prazo.
Estamos num momento de transição governamental e provavelmente isto dificulte um pouco a tomada de decisões tão imperativas, mas que terão que ser tomadas.
Voltando ao passado recente, quando FHC foi candidato a re-eleição em 1998 protelou a tomada das medidas imperativas na área de câmbio para pós-reeleição, fazendo-o em janeiro de 1999.
Não vemos agora a mesma folga de tempo, mas acreditamos que se o Ministro Mantega ao invés de falar em “comprar ilimitadamente”, utilizar o FSB e “outras medidas (sic)”, mencionasse a possibilidade da mudança do sistema cambial no país provocaria um ajuste muito mais rápido do que qualquer IOF.