Análise do Mercado – 08/10/2010

Um final de semana que sugere cautela, afinal segunda será feriado nos Estados Unidos e terça no Brasil, e, embora não se espere mudanças substantivas além de colocação de pleitos pontuais, ocorre a reunião do G-7 e do G-20. No ambiente…

Um final de semana que sugere cautela, afinal segunda será feriado nos Estados Unidos e terça no Brasil, e, embora não se espere mudanças substantivas além de colocação de pleitos pontuais, ocorre a reunião do G-7 e do G-20.

No ambiente interno, embora se avolumem sugestões para que o governo, BC e MF, adotem medidas pontuais para reverter a tendência de apreciação do real, afora uma ou outra conceitualmente puramente “cosmética”, não se vislumbra uma postura mais decisiva, até porque há ainda muitas contradições nos movimentos de intervenção do governo, já que algumas indutoras de apreciação do real continuam sendo praticadas, ao mesmo tempo em que procuram inserir outras, modestas, focando eventual depreciação.

Reduzir bruscamente o percentual de 30% do Patrimônio de Referência de exposição dos bancos em operações atreladas a variação cambial, não poderá ser medida abrupta e sim prudencial concedendo prazo, mas seria uma boa medida mesmo assim; impor IOF elevado às operações de derivativos seria algo bastante positivo, envolvendo os mesmos ingressos de recursos ou mesmo no caso de “dólares sintéticos”, aqueles que não entram, mas tem transações registradas no mercado futuro, e este seria o fato gerador da tributação; exigência de depósito de garantia em moeda corrente e não mais em títulos públicos de “aluguel”; avaliar detidamente o perfil deste “hedge funds” e criar fatores limitantes rigorosos face a capacidade financeira; interromper os leilões de compra no mercado de câmbio à vista, até que os bancos estejam nivelados e após isto atuar somente efetivamente sobre os excedentes, porém mantendo os bancos sempre comprados, e, se necessário for, eliminar a possibilidade dos bancos manter posições “vendidas” no mercado à vista; tornar vigente de imediato a nova formula de formação da taxa PTax que está prevista para janeiro de 2010; eliminar os instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos” que à margem de seus impactos no mercado de cupom cambial tem elevada potencialidade de apreciar o real, em detrimento da idéia teórica de que dá suporte a taxa consequente da sua estrutura de remuneração; etc.

E rever, com realismo, as fragilidades do país que não o recomendam a ter um sistema de câmbio flutuante, pois tem reservas cambiais que não representam riqueza e sim Dívida Interna, o que impõe elevado custo de “carregamento” dada à arbitragem de juro interno versus juros americano. Tem taxa de juro imutável no seu perfil, que provoca intenso atrativo para os especuladores, já que representamos baixo risco. Temos déficit orçamentário fiscal. Etc.

Quando as reservas cambiais brasileiras surgem nas abordagens e nos arroubos sugestivos de uma grandeza do país, muito embora tenhamos consciência de que foram úteis na crise sem ter sido planejadas para este fim, a despeito do elevado custo, sabemos que não representam riqueza e sim dívida interna, vem a mente o que um antigo amigo da City londrina sutilmente colocou com ironia, observando que o pais não tem preocupação com aumento da poupança:

“O Brasil comprou uma Mercedes Benz ultimo modelo e passa a impressão de que está rico, mas na realidade convive com dificuldades para pagar o juro do financiamento, já que não dispõe dos recursos efetivos”.

Não temos condições de continuar aumentando reservas cambiais indefinidamente sem poupança fiscal.

Neste momento em que as moedas repercutem diretamente reflexos de economias claudicantes, e esta é a regra estabelecida lá nos idos de 1971 quando os Estados Unidos, unilateralmente, rompeu com o Acordo de Bretton Woods, embora o Ministro Mantega clame ao G-20 e mesmo ao G-7 que o assunto câmbio seja discutido e alinhado é muito provável que não alcance sucesso, afinal a cooperação mutua vai até o momento em que o interesse individual não seja afetado. O descompasso das paridades é consequência, a causa está nas economias desaquecidas e cada país neste momento olha para o seu problema.

Difícil, também, convencer a China a repetir o Japão no passado e submeter-se a regras que impactarão na dinâmica de sua atividade econômica já que todos miram o câmbio administrado que pratica e isto afetaria todo o setor exportador chinês. O máximo que pode ser esperado é uma sinalização, já ocorrida no passado, de que agirão no sentido de atender os pleitos, mas que por fim não atendem. A China está muito forte, tem reservas trilhionárias construídas com uma poupança de 40% do PIB, é a grande compradora e vendedora global, e além disto, a financiadora dos déficits das principais economias.

Por isso, é melhor olharmos atentamente para o nosso lado interno e corrigirmos as imperfeições e defendermos, sem constrangimentos, os interesses nacionais.

Já é perceptíveil o aumento das preocupações de inúmeros setores com o desempenho da economia brasileira no próximo ano. Hoje o Instituto de Pesquisa americano Brookings emitiu relatório com análise que sugere que, para manter o ímpeto econômico, o país precisará diminuir os gargalos em infraestrutura, expandir os benefícios sociais e reduzir o peso da carga tributária. E concluiu, “alcançar tudo isso e manter a estabilidade macroeconômica não é fácil. Descobrir a solução para resolver esse quebra-cabeça será o maior desafio da nova administração”.

 

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