Amanhã a Presidente Dilma Rousseff realizará a 1ª reunião ministerial do seu governo e, espera-se, demarcará as bases da política fiscal, visando cumprir a meta de superávit primário de 3% do PIB. Aguarda-se que anuncie a criação do Conselho…
Amanhã a Presidente Dilma Rousseff realizará a 1ª reunião ministerial do seu governo e, espera-se, demarcará as bases da política fiscal, visando cumprir a meta de superávit primário de 3% do PIB. Aguarda-se que anuncie a criação do Conselho de Gestão Competitiva, ligado à Presidência, que cuidará da eficiência do gasto público, o que deixará evidente que exercerá uma efetiva liderança na gestão abrangente do seu governo.
É esperado seu posicionamento acerca da efetiva profissionalização das agências reguladoras, neutralizando as indicações políticas e capturas por interesses de mercado.
Deve ressaltar o foco rigoroso na questão cambial, de vez que não pretende deixar que o país suporte inerte os reflexos do processo de ajuste das economias desenvolvidas, fragilizadas em razão da crise iniciada em 2008, porém dentro das práticas internacionais e de forma sistemática para evitar o real em continua apreciação.
Não devem ficar fora da pauta às preocupações das exportações brasileiras de riquezas naturais sem valor agregado, e, que leva o país a importar os produtos industrializados a partir destas matérias primas exportadas, certamente sugerindo a criação de marcos regulatórios, evitando assim, perfil neocolonial nas exportações brasileiras. E, também, a defesa da indústria nacional fortemente prejudicada pelo efeito substituição do produto nacional por importações estimuladas pelo baixo preço do dólar e baixa tarifação alfandegária.
Enfim, deverá ser o primeiro momento pontificando diretrizes, que poderão deixar mais evidente a estratégia algo diferente em relação ao governo anterior, com controle da inflação a partir do foco nas causas e não nas consequências.
Acreditamos que ocorrerão sinalizações que poderão impactar nas formulações de projeções inflacionárias, juros e câmbio. A lamentar somente o fato de não poder anunciar, de imediato, a dimensão do corte orçamentário em 2011, que seria altamente relevante neste momento.
No mercado de câmbio, destaque para os números do fluxo cambial da 1ª semana do ano revelando-se positivo em US$ 4,099 Bi, composto por superávit de US$ 477,0 MM no segmento comercial e US$ 3,623 Bi no segmento financeiro.
Interessante observar, que o fluxo financeiro indica, considerando-se que os registros do fluxo são realizados com liquidação em D+2, passou a positivo com ingressos nos dias 4 e 5, que equivalem a liquidações em 6 e 7, datas que antecederam ao anúncio da Circular que estabeleceu o depósito compulsório sobre as posições “vendidas” dos bancos.
Até então, observa-se que num ambiente de fluxo negativo de US$ 167,0 MM, o BC havia retirado com seus leilões US$ 992,0 MM.
A partir de 4 e 5 os bancos demonstraram menor tendência em vender ao BC, e ante um fluxo positivo de US$ 4,267 Bi o BC só conseguiu retirar US$ 372,0 MM.
Ocorreu, então, que do fluxo cambial divulgado positivo de US$ 4,099 Bi, os bancos retiveram US$ 2,735 Bi, reduzindo suas posições “vendidas” para US$ 14,048 Bi.
Os bancos no dia 3 tinham posição liquida “vendida” de US$ 1,3 Bi no mercado de dólar futuro e ontem registravam US$ 2,6 Bi, após ter alcançado US$ 3,6 Bi em 11. No mercado de cupom cambial-DDI a posição líquida “comprada” tem se mantido em torno de US$ 9,0 Bi desde meados de dezembro até ontem.
O comportamento dos bancos no momento sinaliza que estão focando enquadrar a posição de câmbio “vendida” no mercado de câmbio à vista nos parâmetros definidos pelo BC, valendo-se do fluxo cambial positivo neste início do ano, o que os motiva a não usufruírem o prazo concedido até 4 de abril para o enquadramento.
Isto os leva a forçar a apreciação do real para que o preço de reposição de divisas nas posições ocorra a preços baixos e reduz, consideravelmente, o interesse em repassar ao BC divisas através os leilões diários.
O BC mantém a sua dinâmica de sinalização de leilões diários, mas certamente está adquirindo valores irrisórios, procurando somente limitar a intensidade da queda com a sua presença ao ofertar preços com linha de corte que evitem depreciação mais acentuada do real.
No mercado futuro, os “players” devem continuar aguardando alguma atitude do BC, manifestada pelo Ministro da Fazenda como provável, já que pode ser uma oportunidade para imprimirem forte movimento de apreciação do real, muito embora a intenção manifesta do governo seja de dar sustentação ao preço da moeda americana.
No nosso entender, o movimento que pressiona o mercado pró-apreciação do real tem origem local em decorrência do desenvolvimento do ajuste de posições por parte dos bancos, e não pela queda do dólar frente às moedas fortes no exterior. Embora, desta vez os movimentos internos e externos se direcionem no mesmo alinhamento, esta pode não ser a causa fundamental.
Volatilidade deve ser o comportamento predominante, com certo viés de baixa pressionado pelos bancos, porém sem intensificar-se, favorecido pelo fluxo cambial que se sugere positivo neste momento.
Por outro lado, as projeções dos analistas do mercado financeiro acentuam fortemente as pressões sobre o COPOM, sugerindo elevação imediata da taxa SELIC em 0,5% ou até 0,75%, com perspectivas novas de 13,0 % a.a ao final do ano.
O COPOM/BC, sob nova Presidência e num novo governo que tem foco em redução de juro e controle de inflação por uma nova estratégia, está sendo colocado sob forte pressão. Com base nas velhas práticas inegavelmente a SELIC será reajustada, até mais do que 0,50%. Porém, o novo governo sinaliza pretender romper paradigmas e assim atacar a inflação com estratégias menos nocivas ao país.
A despeito de toda a intensidade de “ruídos”, ainda há resistências setoriais, ficando a dúvida sobre qual a melhor decisão: convencional sem modificações ou estratégica evidenciando que há caminhos mais eficazes para se obter o mesmo resultado, porém menos drásticos aos cofres públicos.
No exterior, grande alívio com as performances de Portugal ontem e Espanha e Itália hoje, nas colocações de papéis soberanos no mercado.
A Espanha colocou hoje Euros 3,0 Bi, com demanda de 2,6 vezes. A Itália colocou Euros 6,0 Bi afastando as incertezas, contudo com expressiva alta nas taxas remuneratórias.
O BCE e o BOE, respectivamente bancos centrais da Europa e da Inglaterra, mantiveram inalteradas as taxas de juros de 1,0% a.a e 0,5% respectivamente, em decisões de hoje.
Nos Estados Unidos, o Livro Bege e a fala de Bernanke, Presidente do FED, não trouxeram o estimulo forte esperado, ratificando que continua evoluindo lentamente a economia americana.
Hoje foi divulgado o déficit comercial americano de novembro em US$ 38,3 Bi, menor do que os US$ 38,4 Bi de outubro e também das projeções que estavam em torno de US$ 41,0 Bi.
Divulgado também o “Initial Claims”, pedidos de auxilio desemprego, com desapontador indicativo de 445 mil novos pedidos, ante projeção de 415 mil, após 410 mil na leitura da semana antecedente.
Outro dado esperado era o PPI Índice de Inflação ao Produtor de dezembro, que apontou alta de 1,1%, acima do 0,8% que era a projeção e o índice apurado em novembro. O “núcleo” ficou em 0,2%, dentro das projeções.
Enfim, no cenário externo continua muito difícil udentificar quem está pior. Neste momento, o sentimento melhora para a Europa, como consequência o Euro se valoriza ante o dólar. Os Estados Unidos continuam não gerando indicadores que sustentem uma tendência de recuperação gradual, mesmo que lentamente, pois se revelam extremamente mutantes. Enquanto na Europa, o problema centra-se nos países periféricos, que, mesmo contra fortes opiniões contrárias, estão conseguindo superar os desafios de obter financiamentos aos seus déficits.