Análise do Mercado – 12/01/2011

Urge que o governo anuncie os cortes no orçamento, para aumentar a credibilidade nos propósitos de austeridade fiscal que vem manifestando, e, ao mesmo tempo em que “sintonize” melhor a nova dinâmica de intervenções regulatórias e…

Urge que o governo anuncie os cortes no orçamento, para aumentar a credibilidade nos propósitos de austeridade fiscal que vem manifestando, e, ao mesmo tempo em que “sintonize” melhor a nova dinâmica de intervenções regulatórias e operacionais no mercado de câmbio.

Embora o Ministro Mantega venha expondo que o anúncio do corte orçamentário não pode ser tão imediato, visto que precisa analisar todos os números, esta é uma atitude que poderá ter forte impacto no mercado financeiro, para que aumente a convicção acerca do rigor fiscal a ser praticado pelo governo, e, a partir daí, reformule as projeções, que ainda estão muito atreladas à prática do juro como instrumento básico de controle inflacionário, o que determina perspectivas de taxa SELIC fortemente elevada ao longo do ano, o que vai no sentido oposto do interesse manifesto dos membros do novo governo.

O mercado financeiro, certamente, seria sensibilizado com um corte em torno de R$ 50,0 Bi.

No mercado de câmbio, as atitudes sinalizadas pelo governo nos parecem controversas e isto criou um hiato num eventual ajuste de posições no mercado à vista e no mercado futuro.

No passado recente do governo Lula, o BC alegava que atuava no mercado de câmbio para evitar volatilidade, mas efetivamente interferia no comportamento da moeda nacional induzindo a ocorrência da apreciação a partir do fomento de posições “vendidas” pelos bancos. Na realidade o BC utilizava a prática de compras via leilões no mercado à vista de câmbio acima dos excedentes do fluxo cambial, não para evitar volatilidade mas sim para induzir os posicionamentos dos bancos condutores à apreciação do real. Aos bancos ficava a extraordinária captação de reais a custos mínimos e ao BC o real apreciado, utilizado na complementariedade da taxa de juros no controle da inflação.

Este novo governo sinaliza que irá praticar estratégias de controle de inflação focando as causas, o que o tem levado a sustentar um discurso mais incisivo de intervenção no câmbio evitando a continuada apreciação do real. Em outras palavras, não precisará mais do dólar com preço deprimido a partir de interesse do próprio governo, desejando que o preço retome o ponto de equilibro, já que não será mais utilizado como aliado da política monetária de contração inflacionária.

Deu evidência a este propósito com a medida estabelecida pela Circular 3520, de 6 de janeiro último, estabelecendo 60% de compulsório sobre as posições “vendidas” dos bancos excedentes a US$ 3,0 Bi ou a média aritmética dos valores correspondentes ao Nível I do PR, o que for menor.

Contudo, considerando que os bancos detinham posição “vendida” total de US$ 16,8 Bi ao final do ano e o BC estimou que a medida, vigente a partir de 4 de abril, promova a redução para US$ 10,0 Bi, seria normal e coerente que a autoridade monetária interrompesse suas intervenções no mercado à vista com os leilões de compra diária, já que os bancos, naturalmente, não vão se deixar penalizar pelo compulsório e vão cobrir os excedentes das suas posições “vendidas”.

Adiante, foi dada “operacionalidade” ao FSB para atuar no mercado de câmbio, por intermédio do BC, com grande ênfase para tendente atuação no mercado futuro e derivativos.

A decisão de deixar o FSB “up to date” para operar deu-se com a publicação tardia no D.O.U. da Resolução de 17 de setembro de 2010, porém o destaque a intervenção do mesmo no mercado futuro, foi, no mínimo, controversa, visto que a atuação do governo com “swaps cambiais reversos”, na ponta final tem forte poder de apreciar o real, dada a sua forma perversa de remuneração, com os bancos ficando credores do juro e o BC da variação cambial, o que motiva os bancos a apreciar o real sem limites, para ganhar também a variação cambial, certos, também, de que o próprio BC gerará a liquidez necessária no vencimento para a realização do lucro. A utilização deste instrumento estimula a formação expressiva de posições “vendidas” em moeda americana pelos bancos.

Este contraditório, inquestionavelmente, está inibindo os ajustes das posições por parte dos bancos, pois ficam aguardando o “próximo passo” do governo de intervenção no câmbio, e se este não for perfeito, poderá determinar movimentos de apreciação do real, na contramão do manifesto interesse que o governo tem sinalizado.

Com este cenário, o preço da moeda americana fica volátil e não consegue sustentar, ainda que discreta e gradual, tendência de alta.

Expurgando-se as atipicidades que eram (continuam???) praticadas pelo BC de comprar com seus leilões volumes maiores do que os excedentes do fluxo, naturalmente o preço da moeda americana tenderá a um preço mais equilibrado.

A idéia frequente de que quando um país cresce, sua moeda se fortalece, não é tão simplista visto que há um fator que o Brasil não construiu com o seu crescimento recente, ou seja poupança. A riqueza vem da capacidade do país gerar poupança e estruturar sua infraestrutura para o crescimento sustentável, e esta parte da “lição de casa” não foi realizada, muito pelo contrário.

O país precisa sair ou atenuar a sua crescente dependência de financiamento externo de qualquer qualidade para dar suporte ao seu crescente déficit em transações correntes, este ano projetados em torno de US$ 70,0 Bi.

É necessário focarmos a otimização da performance no comércio exterior, melhorar o valor agregado aos nossos produtos primários exportáveis, e atrairmos mais capitais de qualidade, ou sejam os IED´s, que vem para ficar, produzir, gerar renda e consumo.

Isto passa, rigorosamente, por um ajuste fiscal firme, redução do juro, compatibilizando-o com o nosso conceito de risco a nível internacional, e, taxa de câmbio equilibrada. Isto tudo, sem perder-se de vista a necessidade de promoverem-se as reformas tributária, trabalhista, etc.

O foco do mercado financeiro é total sobre a próxima reunião do COPOM na semana próxima e há consenso deste mercado e seus analistas de que a SELIC deverá ser elevada em 0,5%.

Entendemos que a despeito dos indicadores sustentarem pressões inflacionárias, seja procedente o questionamento sobre o poder do juro na contração dos fatores determinantes presentes.

As vendas do comércio de novembro revelam alta de 1,1% em relação a outubro, segundo o IBGE. É a 7ª alta consecutiva e o melhor resultado desde agosto, quando subiu 1,7%. Porém, é um dado tardio, além do fato de novembro e dezembro serem meses atípicos dada à propensão aumentada da tendência de consumo da população neste período, alavancada pelo 13º salário e festividades.

As medidas prudenciais adotadas pelo governo com impacto sobre a demanda das pessoas físicas, a rigor, só terão uma melhor aferição em março, e o COPOM tem a seu favor o “benefício da dúvida” para uma eventual postergação frustrante ao mercado financeiro.

Como o perfil evidenciado, em tese, por este governo é de foco em redução de juro, nos parece razoável admitir certo grau de resistência, priorizando outras estratégias para conter a inflação, ainda mais quando as causas parecem ser pouco sensíveis a elevações de juro.

Certamente, o COPOM poderia estar numa situação de maior conforto para uma decisão contrário ao consenso do mercado financeiro, se já houvesse sido definido o corte orçamentário com montante de peso.

No cenário externo, atenção focada na Europa, onde Portugal enfrentou o desafio de expor-se ao mercado com a colocação de papéis, com receio de encontrar dificuldades e elevação abrupta de juro. Colocou US$ 1,249 Bi aliviando as expectativas. Ao mesmo tempo, o Presidente do BC português salienta que o país pode entrar em recessão consequente do plano de austeridade.

A Espanha, por sua vez, procura não perder tempo e promete reformas para tentar conter contágio. Banqueiros espanhóis vêm salientando a hipótese de que se Portugal sucumbir, o que no entender dos mesmos pode se confirmar em duas ou três semanas, a Espanha pode ser a próxima, por isso precisa agir contra o tempo.

A União Européia, por sua vez, através a Comissão Européia, aprovou hoje o 1º passo de um ambicioso plano para coordenar as políticas econômicas dos países integrantes, focando a melhora da situação orçamentária, o crescimento econômico e o emprego. Uma boa decisão para o futuro, mas que não resolve o “espólio” sucateado das economias, principalmente dos países periféricos, decorrente da vigilância normativa e a distância que foi praticada.

A Alemanha surpreendeu ao fechar 2010 com o maior crescimento em 20 anos. O PIB cresceu 3,6%, maior aumento desde a unificação do país em 1991. O excelente nível de exportações e o notável aumento da demanda interna foram os principais responsáveis pelo forte crescimento da maior economia européia. Outros sinais positivos vieram da produção industrial da zona do euro, crescimento de 1,2% em novembro, após 0,7% em outubro, enquanto que na União Européia a ampliação da produção industrial foi de 1,4% em novembro, após 0,4% em outubro.

Fato que desde já concentra atenções é o encontro do dia 19 do Presidente da China, Hu Jintao, em Washington, com o Presidente Barack Obama, durante a sua visita aos Estados Unidos de 18 a 21 de janeiro próximo. Certamente, Obama pressionará o tema envolvendo o Yuan desvalorizado, enquanto Hu Jintao já apontou que abordará garantias dos Estados Unidos sobre os investimentos chineses em ativos norte-americanos. A China detém US$ 2,85 Tri em reservas cambiais e é a grande financiadora do déficit americano.

As bolsas operam em alta, com os alívios momentâneos, e nos Estados Unidos há expectativa com a divulgação do Livro Bege.

O T-Bills revelam o sentimento de menor preocupação, caem e elevam a rentabilidade para 3,38% a.a nos papéis de 10 anos, após 3,34% ontem.

 

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