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Análise do Mercado – 12/08/2011

Buscando potencializar os anseios frente à realidade presente e valorizando sinais positivos discretos da economia e minimizando os negativos, o mercado americano procura animar-se sobre os seus “cacos”, depois da brusca tentativa do Congresso…

Buscando potencializar os anseios frente à realidade presente e valorizando sinais positivos discretos da economia e minimizando os negativos, o mercado americano procura animar-se sobre os seus “cacos”, depois da brusca tentativa do Congresso de conduzir o país a quase “eutanásia” com reflexos extremamente danosos à imagem e a confiança, que foi fortemente atingida pela forma com que foi conduzido o embate político e a exposição mais minuciosa das dificuldades presentes na economia do país e da gestão do endividamento, as bolsas americanas, com um acentuado viés especulativo, buscam evidenciar uma recuperação cuja sustentabilidade, certamente, não resistirá a um indicador econômico negativo de maior relevância.

A queda do “rating” do pais imposto pela S&P tem sido utilizada como “causa determinante”, mas a evidência é que, passado o momento pontual, isto já é passado e desconsiderado, restando a realidade da economia americana ter acentuado sinais de queda das perspectivas de recuperação e o surgimento de questionamentos sobre um eventual “Double dip, que envolve uma passagem pela recessão antes da retomada da recuperação sustentável da atividade econômica.

Não há solução indolor para o quadro americano, muito embora seja menos grave do que a crise que afeta o Velho Continente.

Um número menor de pedidos de seguro desemprego na semana ao registrar 395 mil ante antecedente 402 mil é algo muito pouco para entusiasmos, da mesma forma que um aumento nas vendas de varejo de 0,5%, num período afetado fortemente por problemas climáticos de excessivo calor com os magazines antecipando a oferta de preços para alavancar vendas, percepção fortalecida pelo fato do percentual ser idêntico incluindo-se ou excluindo-se as vendas de automóveis, são indicadores de áreas importante do país, mas não em dimensões para provocar o euforismo reversivo que se presencia. Ao mesmo tempo o país registra em junho um expressivo déficit de balança comercial de US$ 53,0 Bi, crescente ante o antecedente de US$ 50,3 Bi e projeções dos analistas de US$ 48,0 Bi, que pode ser um indicativo de que nem o dólar desvalorizado consegue alavancar a balança comercial, podendo ser um sinal de PIB cadente no 3º trimestre.

Um sinal que na percepção real há preocupações que confrontam com o comportamento das bolsas é a valorização ocorrida nos T-Bills, que em consequência fecharam significativamente suas curvas de taxas de juros e as mantém baixas. O ouro também vem se sustentando valorizado, com discreta volatilidade em alguns momentos. Estes são indicadores que sinalizam a postura do investidor sensato ante o cenário presente.

Portanto, acreditamos que o que as bolsas americanas vem sinalizando seja fruto direto de movimentos especulativos pontuais sem sustentabilidade.

Por outro lado, entendemos que a situação da Europa seja extremamente vulnerável e em tendência de agravamento. Requer diretrizes mais complexas até porque complexas são as situações dos países integrantes da eurozona, com desequilíbrios diversos e falta de credibilidade de gestão.

A ESMA (European Securities and Market Authority) proibiu as vendas à descoberto nas bolsas da França, Espanha, Itália e Bélgica, procurando blindá-las e bloquear a especulação no descrédito destas economias. Grécia e Alemanha já adotam medidas nesta linha.

A Coréia do Sul é outro país não envolvido com a euro-zona que também tem o seu mercado blindado pela proibição as vendas à descoberto.

A Turquia está em fase de estudo para adotar medida semelhante.

Merece destaque também a atitude do Banco Central da Suíça, que por seu Vice-Presidente, manifestou intenção de atrelar o franco suíço ao euro, temporariamente, para conter a forte especulação que a moeda vem sofrendo, como alternativa a reserva de valor.

Portanto, os movimentos “recuperatórios”, tanto ou mais do que os dos Estados Unidos, precisam ser entendidos como fundados em movimentos especulativos, portanto não sustentáveis e passiveis de reversões fortes ante novos fatos negativos.

No Brasil, a taxa cambial está volátil mas se mantém acima de R$ 1,60, havendo pressão de demanda com saída de investidores na busca da liquidez e segurança, fato que, como previsto, ao elevar a taxa para entre R$ 1,62 a R$ 1,63 atraiu a oferta de dólares de exportações depositados no exterior que assim ingressaram no país, e, acabaram por determinar um fluxo positivo de US$ 3,579 Bi na 1ª semana de agosto, sendo US$ 3,940 Bi positivos comercial e US$ 362,0 M negativos de financeiro, dos quais o BC retirou US$ 2,574 Bi com seus leilões, restando algo como US$ 1,0 Bi para os bancos reduzirem suas posições vendidas que estavam em US$ 6,3 Bi na semana antecedente, para US$ 5,3 Bi.

Em perspectiva, na 3ª semana de agosto, acreditamos que o fluxo cambial tenda a tornar-se negativo, porém, tudo leva a crer que os bancos tenham praticamente zerado suas posições vendidas no mercado físico a vista, visto que desfizeram suas posições compradas líquidas de US$ 4,5 Bi no mercado de dólar futuro, na virada da semana, para residuais US$ 200,0 M, e, com isto proveram com liquidez os “hedge funds” que estavam com posições vendidas líquidas de US$ 3,9 Bi no mercado de dólar futuro, na virada da semana, que as reduziu para US$ 450,0M.

Contudo, no mercado de cupom cambial-DDI, os bancos ainda permanecem comprados líquidos em US$ 10,0 Bi e os “hedge funds” vendidos líquidos em US$ 14,6 Bi.

Para os “hedge funds” o desconforto virá se o dólar continuar sustentando tendência de alta e a SELIC vier a cair, pois, certamente a aposta contava com uma nova alta do juro e dólar em queda.

Aparentemente estas posições se mantém dada a baixíssima liquidez deste mercado, que poderá aumentar na ponta da oferta se o dólar atingir preço um pouco mais elevado, mas certamente os “vendidos” relutarão em comprar.

Cada vez mais fica consensual no mercado financeiro que a SELIC não será mais elevada, mas perduram dúvidas se será reduzida e quando, visto que há dois fatores importantes a observar mais detidamente, o comportamento do crédito neste novo cenário, já que é fator que pressiona a inflação e os preços das “commodities” que cedendo aliviam as pressões inflacionarias.

Embora o país não tenha problemas de dependência de crédito externo, pois dispõe de US$ 350,0 Bi em reservas cambiais e depósitos compulsórios de R$ 420,0 Bi que poderão irrigar com liquidez o sistema financeiro com o propósito de manter aquecido o consumo interno, resta o detalhe mais relevante, qual seja, conhecer-se a propensão ao consumo da população brasileira, atualmente mais endividada, sentindo os efeitos da inflação e que terá que suportar um aumento de custo dos financiamentos. Sem considerar os efeitos prováveis da crise externa, são notórios os sinais de retração no consumo de eletroeletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, e, os estoques de bens não duráveis revelam-se em alta.

Por isso, é bastante provável que tenhamos algum reflexo no crescimento do PIB, pois embora tenhamos condições de superar os reflexos externos da crise, podemos encontrar um mercado interno mais cauteloso e menos vigoroso.

Muito provavelmente o Brasil terá que rever as projeções de ingressos de IED´s e investidores em renda variável e fixa e o déficit em transações correntes poderá elevar-se com o incremento das saídas de dividendos, etc., impactando nos fluxos cambiais estimados.

A BOVESPA, no nosso entendimento, tem poucas perspectivas de recuperação sustentável neste ano. Dependência de investimentos estrangeiros, que deverão sofrer retração, e, influência dos papeis ligados a “commodities”, que tendem a queda nos preços, deverão afetar e inibir o comportamento.

 

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