Câmbio News

Análise do Mercado – 11/01/2011

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece extremamente focado em manter o mercado de câmbio em “estado de alerta” com as suas insinuações de intervenções normativas e/ou operacionais. Ontem, o D.O.U. publicou tardiamente uma…

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece extremamente focado em manter o mercado de câmbio em “estado de alerta” com as suas insinuações de intervenções normativas e/ou operacionais.

Ontem, o D.O.U. publicou tardiamente uma Resolução do Conselho Deliberativo do FSB – Fundo Soberano do Brasil, datada de 17 de setembro de 2010 oficializando a operacionalidade do FSB-Fundo Soberano do Brasil no mercado de câmbio, mediante assinatura de convênio com o Banco Central do Brasil, com o objetivo de comprar ou vender moeda estrangeira e/ou realizar outras operações cambiais, inclusive mediante contratos de derivativos.

Em concomitância, o Ministro realizou arroubos que o FSB atuará no mercado futuro.

Evidentemente, a Resolução habilita o FSB a operar, nada diferente do que o BC já pode fazer isoladamente, o que pode ou não ocorrer de imediato.

Após o normativo certeiro focando o desmonte parcial de posições “vendidas” pelos bancos no mercado à vista, que o próprio BC havia fomentado o estabelecimento, e com a qual colherá, seguramente, resultados no objetivo de obter uma melhora no preço do dólar contendo a manipulação indutora da apreciação do real, é imperativo que a autoridade não se deixe levar pelo excessivo entusiasmo e ao dar iniciação à operacionalidade do FSB no mercado futuro não o faça erraticamente, promovendo inúmeras repercussões, mas dentre elas a aparente in-desejável apreciação do real.

No mercado de câmbio nem sempre o que teoricamente é sugerido, na prática se revela em linha de coerência e lógica.

Se o FSB entrar no mercado futuro fazendo “swap reverso”, ou seja “comprando” dólares, operação em que fica devedor de juros e credor de variação cambial, pode ser surpreendido por movimento de apreciação do real, até porque ainda permitiu a manutenção de um confortável volume de US$ 3,0 Bi de posições “vendidas” pelos bancos no mercado à vista.

Entrando “comprando” no mercado futuro dará liquidez para desmonte das posições “compradas” dos bancos neste mercado que se contrapõe as posições “vendidas” do mercado à vista.

Contudo, os bancos poderão buscar a zeragem das posições “compradas” no mercado futuro e construírem neste segmento posições “vendidas” com os “swaps reversos” do FSB. A partir desta situação, em que ficam credores de juros, poderão passar a agir apreciando o real, anulando o ganho do FSB na transação e tornando-se, também, credor da variação cambial, alcançando duplo ganho.

Importante ressaltar que movimentos de apreciação do real ancorados em transações de “swaps reversos” perdem o limite de queda do preço da moeda americana, visto que tem a segurança que, ao final, o “swap reverso” terá que ser liquidado pela autoridade e assim a liquidez para que realizem o lucro é garantida.

A rigor, intervenções operacionais das autoridades monetárias não são bem aceitas pelo mercado, excepcionalmente admitidas até o ponto que retira excedentes do fluxo cambial para as reservas cambiais do país, a despeito do elevado custo de carregamento. No mais, a atuação da autoridade monetária deve ser regulatória, visando eliminar práticas atípicas pelos “players” e mitigando riscos.

Ainda que, idealmente, no câmbio a autoridade monetária não devesse “pré-anunciar” o que fará, mas fazê-lo quando entender necessário, é importante que não erre na direção de suas sinalizações de ações, para não conspirar contra os propósitos que tem manifestado.

Sinais controversos podem criar volatilidade e conter a gradual recuperação do preço da moeda americana.

Todos os países estão se articulando e agindo em defesa de suas moedas, seja com instrumentos normativos, seja com intervenções operacionais retirando excessos de moedas estrangeiras, que no caso brasileiro é feito com os leilões de compra diários do BC, que contudo não devem ir além dos excedentes, como tem sido largamente praticado, que acabou por provocar a apreciação da moeda nacional que o governo, neste momento, procura reverter. Aliás, como boa técnica o BC deveria evitar ser cotidiano nos seus leilões.

Na semana próxima teremos a reunião do COPOM que analisará e definirá a taxa de juro SELIC que deve prevalecer por mais 45 dias. Embora os índices inflacionários sinalizem pressões consideráveis e o mercado financeiro sancione em suas projeções necessidade de elevação imediata de 0,5% na SELIC e a projeção mediana de inflação para 2011 em 5,34%, com destaque para o TOP 5 que tem projeções em torno de 6,0%, há, ainda, inúmeros setores, não vinculados ao mercado financeiro, que continuam entendendo que os fatores de pressão inflacionária não se sensibilizam com a elevação do juro.

A pressão do item alimentos é, neste momento, problema global já que as “commodities” têm sido utilizadas pelos fundos de investimentos como reserva de valor. Por outro lado, reajustes de transporte, educação e afins também não respondem a elevação do juro, já que decorrem de inflação já consumada e de forte distorção entre o IGP-M que corrige os preços administrados e contratos e o IPCA que é o índice oficial de inflação do governo.

Restaria então a pressão de demanda interna, que teve foco por parte do governo com as medidas “prudenciais” de dezembro, que elevaram o depósito compulsório dos bancos, com a re-tirada de estimados R$ 61,0 Bi, que deve repercutir na seletividade e menor disponibilidade do crédito para consumo das pessoas físicas, e, também contingenciava prazos para financiamentos, o que era pontual para elevar as parcelas.

Como o governo de forma muito evidente, embora ainda não tenha divulgado o corte orçamentário, está mudando a matriz de controle inflacionário, que focará as causas e não as consequências, o que retira da taxa de juro a condição de ação única de contenção das pressões inflacionárias, sutilmente coadjuvada pelo real apreciado, prática que também está em foco ser descartada, é razoável o questionamento presente sobre a efetiva necessidade da elevação da taxa de juro SELIC.

No setor externo, a OCDE Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico divulga que vê crescimento na economia mundial e desaceleração no Brasil. Destacam economias em aceleração na China, Estados Unidos, França e Japão e estabilidade na Alemanha, Canadá, Itália, Reino Unido e Índia. No entender do organismo, o Brasil dá sinais de queda da atividade econômica.

O problema na eurozona continua provocando apreensões ao mercado global, especialmente em torno da situação de Portugal, que pode vir a revelar dificuldades em levantar recursos. O governo japonês anunciou que pretende adquirir 20% da dívida da eurozona emitida em janeiro, num sinal de apoio. Este anúncio provocou discreta recuperação do euro frente ao dólar, que contudo não se sustentou, sendo cotado no momento a US$ 1,2979 após ter atingido US$ 1,2999.

 

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