Análise do Mercado – 11/03/2011

Como salientamos ontem, parece estar cada vez mais difícil juntar os “cacos” da economia mundial de forma a direcioná-la de maneira segura à recuperação. Sinais negativos afloram cotidianamente num cenário que precisaria receber doses fortes…

Como salientamos ontem, parece estar cada vez mais difícil juntar os “cacos” da economia mundial de forma a direcioná-la de maneira segura à recuperação.

Sinais negativos afloram cotidianamente num cenário que precisaria receber doses fortes de otimismo, e os problemas vão ganhando maior complexidade.

Os investidores reagiram negativamente ao aumento do déficit comercial da China, atribuído aos feriados do Ano Novo chinês, mas também, aos dados de desemprego nos Estados Unidos e ao rebaixamento do rating da Espanha, que está com o sistema bancário fortemente fragilizado.

A crise política no Oriente Médio e no norte da África continua no foco, sendo um campo fértil para os especuladores que criam cenários atemorizantes sobre o comportamento do preço do petróleo atual e em perspectiva.

Na eurozona, todo o desconforto da aglutinação de economias díspares em desempenho, com as principais tendo sinais inflacionários que requerem elevação dos juros, o que seria drástico para as economias periféricas que provavelmente não teriam condições de suportar esta decisão. E o problema é que não dá para aplicar tratamento diferente para economias que estão comprometidas com a submissão a decisões únicas do BCE.

Há muitos riscos ao euro à frente.

No Brasil, a Ata do COPOM jogou “uma pá de cal” sobre qualquer possibilidade de atenuar a inflação e conduzi-la à meta objetivada de 4,5% neste ano, havendo mesmo um reconhecimento implícito sobre isto, ao projetar que somente no 4º trimestre haverá sinais de arrefecimento. Em 2012, quem sabe, a meta possa ser cumprida se as relações causa-efeito se alinharem ao exercício teórico posto.

A idéia de que só teremos mais uma alta de juro da ordem de 0,50% parece ter se fortalecido, deixando claro que o governo não pretende exagerar na utilização deste instrumento, valendo-se mais de medidas prudenciais impactantes sobre a liquidez, crédito, e por ai esfriando a demanda. E, além disto, fazendo valer o corte orçamentário de R$ 50,0 Bi, que já se configura uma cifra pequena ante os R$ 128,0 Bi que tem sido comentado como “restos a pagar” deixados pelo governo anterior.

Ainda há sinais expansionistas neste governo. Ilusório imaginar que a “colocação da casa em ordem” não implicará numa política fiscal muito mais rigorosa, sendo mesmo recomendável um plano de longo prazo para o controle dos gastos públicos e foco em investimentos estruturais inadiáveis sem o que continuaremos “patinando” na ambição do crescimento sustentável.

Cresceu muito a consciência predominante de que a exuberância do crescimento do PIB em 7,5% acarretou problemas que comprometerão necessariamente o crescimento dos próximos 2 ou 3 anos. Na média nos últimos 3 anos, crescemos tão somente 3,5% ao ano.

E neste contexto surge então o câmbio com o real apreciado, situação fortemente induzida pelo governo anterior para tê-lo compartilhando com o juro o controle da inflação orquestrada por excesso de gasto público e consumo interno alavancado por estímulo ao crédito ao consumidor, afora isenções fiscais direcionadas, com certo equívoco, a setores pontuais da economia.

E, acreditamos que este governo, por mais sinalizações e retóricas aplicadas à situação, terá que conviver ainda por um longo período com o real apreciado e o preço da moeda americana no entorno de R$ 1,65/1,67.

Primeiro, por que não há mágica no câmbio, o preço foi conduzido a este patamar sob os olhares complacentes do governo que até o induziu à apreciação focando o controle da inflação, atribuindo publicamente que era decorrente do fluxo cambial, que, por outro lado, retirou totalmente o excedente do mercado e foi além, tirou adicionalmente mais de US$ 20,0 Bi que o fluxo não disponibilizara e com isto fomentou as posições “vendidas” dos bancos, que promoveram a apreciação do real.

Agora, não há estratégia que retire o preço do fundo do poço, visto que o que determina a queda tecnicamente como realizada não determina a elevação quando se pretende.

Portanto, após o IOF ter inibido o ingresso dos investimentos para renda fixa e com isto ter aliviado a necessidade de compra de volumes maiores por parte do BC, sem afetar a formação do preço, não há muito a fazer que sugira resultados que apreciem o dólar. As operações a termo proporcionam ao governo balizar melhor a flutuação do preço, mas não elevá-lo.

Portanto, a despeito do falatório, e até mesmo que venham medidas extremas que possam envolver quarentena, se efeitos houver serão de curto prazo, e tudo voltará ao que predomina hoje.

Até porque, neste momento, o governo (COPOM/BC/MF) precisa do real apreciado e no entorno de R$ 1,65/1,67 para controlar a inflação, pois qualquer alta seria “mais fogo na fogueira da inflação”.

Por isso, temos defendido a idéia de que, com a economia em desaquecimento, será necessário “abrir a janela” do mercado externo para a indústria nacional não agrícola, e a solução passa pela desoneração, recompondo assim a competitividade de forma indireta, mantendo o segmento estimulado a continuar gerando emprego e renda, e mais, a continuar investindo.

Dá-se destaque neste momento ao fato do fluxo cambial positivo dos dois meses iniciais do ano ter equivalência ou superar o fluxo cambial positivo do ano passado. É verdade que os IED´s fazem parte deste montante, mas predominam as captações de recursos externos por empresas brasileiras, não havendo destaque para os investimentos em renda fixa ou bolsa.

Face a isto é preciso muito cuidado nas medidas que o BC/MF vierem a tomar no câmbio, para não serem inócuas e atingir o que não interessa.

Contudo, é importante não deixar de considerar a perspectiva nesta área que indica um déficit em transações correntes da ordem de US$ 70,0 Bi para este ano, portanto, a demanda ainda virá e, provavelmente, a exuberância deste fluxo cambial positivo poderá perder um pouco do brilho.

 

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