Análise do Mercado – 11/01/2013

Inflação, sob pressão altista, fomentando discordância entre os analistas do mercado financeiro e as convicções do Banco Central do Brasil, num ambiente em que a taxa de juro SELIC tende a ser vigente ao longo do ano, sugere que o câmbio seja o “coadjuvante potencial” na

Inflação, sob pressão altista, fomentando discordância entre os analistas do mercado financeiro e as convicções do Banco Central do Brasil, num ambiente em que a taxa de juro SELIC tende a ser vigente ao longo do ano, sugere que o câmbio seja o “coadjuvante potencial” na estratégia de contenção, mas este caráter colaborativo da moeda americana, sob “administração da autoridade monetária”, pode ter ambiente confortável somente no curto prazo – 1º trimestre- se as perspectivas, acreditadas neste momento, de que o fluxo cambial melhorará neste período vierem a ser confirmadas. Caso contrário haverá pressão sobre o preço do dólar.

O quadro é favorável para a autoridade monetária monitorar o preço entre R$ 2,00 e R$ 2,05, pois tendo colocado liquidez abundante para os bancos com as operações conjugadas de venda à vista e recompra à prazo de 90 dias, aliviou a pressão, sem, contudo, eliminar as posições “vendidas” dos mesmos no mercado a vista de câmbio, que assim podem, até por conveniência, aderir ao interesse do governo visto que procedem à cobertura daquelas posições expostas com aquisição de dólares a preço bastante baixo e sem pressa, suportando-as nesta transição com a utilização de linhas externas, o que lhes permite até captar reais a custo baixo enquanto mantidas vendidas.

A expectativa é que o fluxo cambial melhore no 1º trimestre com o aumento de captação de empréstimos no exterior e também dos Pagamentos Antecipados de Exportações, mas a 1ª semana do ano evidenciou fluxo negativo e o que se observa é a intensificação pelas empresas de captação de recursos no mercado doméstico com a colocação de debentures e não indo ao exterior.

Com um nível de inflação forte de 5,84% fechada no ano e juros SELIC de 7,25%, a taxa real fica em 1,33% e acaba tornando pouco atrativa as aplicações em renda fixa no Brasil, até porque há também o efeito preço da moeda americana, que sofre interferência do governo, e o contraditório entre colocá-la em posicionamento pró-atividade industrial num momento e noutro como fator estratégico na contenção das pressões inflacionárias, que ocorreu recentemente, causa incertezas quanto ao risco destas variações cambiais.

Parece-nos que o Brasil, que nos anos recentes vinha sempre sendo focado por suas perspectivas favoráveis, ao ter crescimento claudicante, passou a ser observado mais detidamente por suas fragilidades estruturais, e isto pode levar a queda no ingresso de recursos externos, que tem atualmente opções de países em situação de maior atratividade.

Por isso, temos ressaltado nossas preocupações com o fluxo cambial que pode ser desfavorável para o país neste ano.

Viver da esperança da recuperação da China, nosso grande parceiro comercial, tem riscos, visto que a própria China é dependente de seu modelo de crescimento atrelado às exportações e, portanto, dependente da situação da Europa e Estados Unidos, que estão em crise.

Consideramos que o dólar seja efetivamente um risco este ano, podendo ter um comportamento de agravamento do preço mesmo com a intervenção do BC, e este fato pode inibir a tomada dos empréstimos externos por parte das empresas nacionais e mesmo acentuar a retenção no exterior de recursos de exportações já liquidadas e recebidas na expectativa de uma alta no preço da moeda americana.

Vemos um quadro muito complexo em perspectiva no mercado de câmbio, em especial após o 1º trimestre.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

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