Análise do Mercado – 10/01/2013

O Banco Central do Brasil divulgou ontem o fluxo cambial fechado em 2012, e o numero total final ingressado se revelou muito abaixo da performance de 2011, mas merece algumas considerações para que ajustes sejam feitos para realizar-se uma análise com maior acurácia.

O saldo do fluxo cambial em 2011 foi de US$ 65,2 Bi, mas como tivemos oportunidade de comentar em janeiro de 2012, este valor estava agregando “restos a receber líquido de fluxo comercial em 2010” (diferença entre saldos de exportações retidos no exterior com câmbio a ser contratado menos importações realizadas com câmbio a ser contratado) da ordem de US$ 21,0 Bi que foram consolidados ao fluxo cambial de 2011, e, ainda foi deixado para 2012 “restos a pagar liquido de fluxo cambial de 2011”, da ordem de US$ 14,0 Bi, situação contrária a que 2011 recebeu de 2010.

Desta forma, se do fluxo comercial de 2011 que evidenciava US$ 43,9 Bi, se retirar os US$ 21,0 Bi ingressados relativos a 2010 e mais o que foi deixado de 2011 a pagar para 2012 da ordem de US$ 14,0 Bi, liquidamente o fluxo comercial relativo a 2011 fora de tão somente US$ 8,0 Bi efetivos, e não o exuberante US$ 43,0 Bi.

No ano de 2012, que já começou agravado com um saldo a pagar (importações realizadas com cambio ainda não contratado maiores do que exportações liquidadas com valores retidos no exterior a contratar câmbio) migrado de 2011 da ordem de US$ 14,0 Bi, tivemos um fluxo comercial liquido de US$ 8,3 Bi e 2012 deixou saldo a receber (exportações liquidadas com valores retidos no exterior a contratar câmbios maiores do que importações realizadas com câmbio ainda não contratado) da ordem de US$ 11,05 Bi para 2013.

Visto com estes ajustes para adequação correta do que corresponde a cada ano, 2012 assumiu US$ 14,0 Bi a pagar de 2011 e deixou a receber para 2013 US$ 11,05 Bi. Desta forma, conclui-se que o fluxo efetivo de 2012 foi de US$ 8,3 Bi mais US$ 14,0 Bi a pagar assumidos e mais US$ 11,05 Bi a receber deixados para 2013. No total de US$ 33,35 Bi efetivos.

Estes são aspectos, no nosso entender, que precisam ser considerados para uma análise mais rigorosa, e que nos leva a ter a evidência de que o fluxo comercial cambial de 2012 depurado de vetores influentes não foi tão desapontador como vem sendo posto, muito pelo contrário, principalmente num ambiente de crise internacional.

O fluxo financeiro apontou saldo positivo de US$ 8,38 Bi ante US$ 21,32 Bi, uma queda substantiva, e o pior, fechou sem brilhantismo e com tendência cadente.

A rigor, poder-se-ia até dizer que o fluxo comercial foi melhor do que o fluxo financeiro, após esta análise.

Para 2013 o fluxo cambial abre com uma reserva a receber transferida de 2012 da ordem de US$ 11,05 Bi.
 
O BC ao reverter as regras contingenciadoras que havia imposto para os Pagamentos Antecipados a Exportação e Empréstimos Externos, notoriamente sentiu a presença da tendência do fluxo cambial vir a se tornar negativo, e procurou melhorar a perspectiva de ingressos, pelo menos no curto prazo, ou seja, no 1º trimestre, mas vemos um ano difícil para o Brasil no fluxo de ingressos de recursos externos.

A questão energética não bem assumida como real, com uma postura do governo de negação e não de reconhecimento e indicação das soluções, cria incertezas a investidores nacionais e estrangeiros no Brasil, visto ser uma questão fundamental na visão do empreendedor.

O baixo crescimento do país, que já começa o ano com revisões sobre as projeções realizadas para 2013; baixa atratividade com fundamentos do mercado acionário face ao contexto; perda de atratividade da renda fixa pela redução da taxa de juro e presença de inflação resistente como evidenciou o IPCA de dezembro com 0,79% e fechando o ano de 2012 com 5,84%, são fatores inibidores ao ingresso de recursos externos.

O BC vem administrando o câmbio com mão forte com operações conjugadas e swaps cambiais que inundaram a liquidez à vista e futura e, com os mais recentes indicadores inflacionários não deverá facilitar, mas acreditamos que a moeda nacional já esteja valorizada considerando-se o comportamento do fluxo cambial negativo da primeira semana, o mesmo tendo ocorrido com a balança comercial. A tendência do fluxo cambial nos primeiros 90 dias será fundamental para verificarmos se será possível o BC continuar contendo a pressão altista com os seus instrumentos operacionais.

Esta foi a perspectiva que permitiu a acomodação da taxa cambial após a forte pressão altista de dezembro, e que requeria oferta à vista de moeda americana pelo BC e que acabou sendo acomodada pelas operações conjugadas ao prazo de 90 dias e swaps cambiais. Não se confirmando esta perspectiva de melhora do fluxo no 1º trimestre, o mercado de câmbio poderá sofrer pressão altista, o que será ruim para o controle da inflação que vem se revelando resistente.

Nossa projeção para o câmbio este ano é que atinja R$ 2,30 ao final.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

 

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