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Análise do Mercado – 10/12/2010

Notoriamente há impaciência, em especial por parte do mercado financeiro, quando tudo sugere paciência e observação neste momento de “transição” governamental, que propaga continuísmo com alteração relevante da matriz de políticas monetária…

Notoriamente há impaciência, em especial por parte do mercado financeiro, quando tudo sugere paciência e observação neste momento de “transição” governamental, que propaga continuísmo com alteração relevante da matriz de políticas monetária, fiscal e cambial, sem alterar o regime de metas e focando lastrear com sustentabilidade o crescimento do país.

O mercado financeiro que, certamente, pressente redução de ganhos num ambiente de contração de crédito com a elevação dos depósitos compulsórios e um foco mais rigoroso em reduzir taxa de juro nominal e real da economia, continua projetando tudo à moda antiga e semeando desconfianças em relação à sinalizada mudança de atitude do novo governo em relação a gastos e política fiscal, e, fomentando as preocupações acaloradas a partir dos índices inflacionários recentes.

É preciso admitir, pensando num Brasil grande e sustentável, que é inviável manter-se a matriz atual de contenção inflacionária com juros elevadíssimos e câmbio depreciado, deixando a conta para a indústria nacional, que já deu sinais firmes no 3º trimestre de estar “sentindo” os reflexos. Na mesma linha, não será suportável a continuidade do gasto excessivo por parte do governo expandindo a dívida pública e praticando uma política fiscal expansionista. No final deste túnel não há luz, mas sim um muro onde pode ocorrer a reversão brusca do sucesso para o insucesso.

O PIB deste ano está dado entre 7,5% a 8,0% excelente para o perfil do Brasil recente, mas ainda abaixo de China, Índia e de países menores como Cingapura, Taiwan e até mesmo nosso vizinho Peru. Mas, sabidamente, o país não tem infraestrutura capaz de suportar este ritmo, precisa maior rigor fiscal para poder investir nesta base fundamental ao crescimento, o que vem conduzindo as projeções para 2011 para crescimento entre 4,5% a 5,0%, devendo ser considerado que sobre uma base de PIB mais alta.

O mercado financeiro está ignorando as estimativas preliminares do governo de que as medidas “prudenciais” adotadas, focando liquidez e o crédito, poderá ter um impacto equivalente a uma elevação da SELIC de 1 ponto percentual. E foi com base neste fundamento que o COPOM não precipitou uma elevação da SELIC, mantendo-a em 10,75%, e também não sancionou expectativa de que isto possa ocorrer em janeiro, atenuando com a observação de que é necessário avaliar os reflexos das medidas.

A redução do juro nominal e real da economia e uma taxa cambial mais equilibrada somente tornar-se-ão viáveis com a mudança da atual matriz, que não compromete o plano de metas e é menos maléfica ao controlar a inflação com terapia mais adequada e duradoura.

Contudo, devemos considerar que esta mudança poderá reduzir os extraordinários níveis de lucratividade do mercado financeiro, tornando-os mais equânimes, e fortalecendo o setor produtivo da economia, que foi muito pressionado pelas excessivas importações de bens de consumo e sobreviveu sem expandir preços a despeito da pressão de consumo interno movido, em grande parte, pelo crédito fácil e longo ao consumidor pessoa física, insustentável como algo duradouro por conduzir a riscos de “bolhas”, pelo excessivo endividamento e surgimento da inadimplência.

Superar as resistências e construir a credibilidade no propósito de uma nova matriz de política econômica sem alterar o objetivo final de manutenção do crescimento sustentáve,l num ambiente de inflação controlada, nos parece o grande desafio do novo governo.

No meio deste cenário todo está o câmbio.

Se o novo vier teremos uma taxa de câmbio mais equilibrada, revitalizando a nossa participação no comércio exterior como exportadores e reduzindo o volume de importações não essenciais.

Certamente, num contexto novo, o governo precisará corrigir assimetrias que ainda dificultam nossas exportações, corrigindo-as e concedendo incentivos específicos, já que o país precisará aumentar o superávit comercial em 2011, hoje projetados em níveis baixíssimos em torno de US$ 8,0 Bi, visto o crescente e preocupante déficit em transações correntes projetado.

Se o novo não vier, provavelmente teremos mais do mesmo, embora consideremos impraticável a continuidade por um período maior da utilização do real apreciado para ser “co-âncora” do controle inflacionário, inviabilidade que se acentua na medida em que, também, teremos um crescimento menor.

O cenário externo não emite sinais de que Estados Unidos, Europa e Japão, principalmente, consigam a redenção no curto e médio prazo de suas economias, tudo levando a crer que as incertezas continuarão predominando sobre as certezas, e as dificuldades, por decurso de tempo, poderão até se agravar, visto que as opções de saída vão ficando menores.

Todas as “fichas” estão apostando no desenvolvimento chinês, mas a China demonstra estar preocupada com os sinais inflacionários, já tendo anunciado hoje elevação dos depósitos compulsórios dos bancos. Como todos precisam “vender mais e comprar menos” não podemos descartar a possibilidade dos países fortes iniciarem ao longo de 2011 retaliações contra os produtos chineses, como recurso extremo para vencer a relutância em valorizar o Yuan.

Precisamos estar mais precavidos em relação aos fluxos de capitais que poderão viabilizar o financiamento do nosso déficit em transações correntes, pois num cenário de economia necessariamente desaquecendo o grau de atratividade pode diminuir. A nossa BOVESPA pode não despertar tanto interesse já que vem surgindo concorrentes com ótimas oportunidades de ganho e a renda fixa está com o ingresso especulativo cerceado por tributos.

Dada esta nossa percepção, entendemos como inviável a utilização pelo governo do mecanismo de quarentena para recursos externos que ingressem no país em busca de rentabilidade, seria altamente negativa face a nossa necessidade de financiamento do déficit, mas não descartamos que possa vir a impor à incidência do IR sobre os ganhos disseminando alíquotas indutoras ao alongamento da aplicação, já que as aplicações longas continuam interessando ao país.

Por ora, continuamos acreditando que um real apreciado continue sendo objetivado pelas autoridades monetárias neste período de transição, mesmo que o BC realize um, dois ou até mais leilões por dia, o que não pode ser rigorosamente entendido como ação visando dar suporte ao preço.

As pressões momentâneas devem perdurar provavelmente até o final da próxima semana, visto que neste período acentua-se a demanda com as remessas de dividendos, lucros, juros sobre capital, etc., com as multi transferindo seus resultados e todos, nacionais e estrangeiros, zerando seus compromissos externos aproveitando o preço de oportunidade da moeda americana.

 

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