O COPOM, seguramente, agiu sob a influência do novo governo ao adotar decisão de manter a taxa SELIC na reunião terminada ontem, e, também, em linha com as recentes medidas direcionadas à redução da liquidez, através do aumento dos…
O COPOM, seguramente, agiu sob a influência do novo governo ao adotar decisão de manter a taxa SELIC na reunião terminada ontem, e, também, em linha com as recentes medidas direcionadas à redução da liquidez, através do aumento dos compulsórios dos bancos e indutoras à contração do crédito de longo prazo às pessoas físicas, desacelerando o consumo.
Sensato, a despeito das pressões inflacionárias presentes, aguardar, ainda que num curto espaço de tempo de 45 dias, os efeitos resultantes das medidas adotadas, que podem se revelar mais intensos do que uma alta da SELIC diretamente, que tem um alto grau de desincentivo à economia brasileira e oneroso aos cofres do Tesouro.
Pela prática conhecemos a relação causa efeito quando o enfrentamento da espiral inflacionária ocorre com elevação de juro, mas temos pouca noção dos efeitos quando se restringe o crédito em volume e tempo. E é importante, em especial para o próximo governo, conhecer a sensibilidade da inflação a esta medida clássica monetária, para depois reforçar-se ou não com a elevação da taxa SELIC.
A performance do BC, naturalmente, dada pela conjuntura consequente da atuação do governo como um todo e do ambiente favorável no exterior após 8 anos, apresenta um balanço indicando que a inflação, o juro, o juro real foram reduzidos a algo em torno da metade desde final de 2002. Um resultado positivo, mas certamente pelo crescimento que o país registrou, seguramnete, poderíamos ter conseguido mais se tivéssemos gastos governamentais menores e mais qualificados e uma política fiscal menos “expansionista”. Enfim, foi bom, mas poderia ter sido “melhor” e estaríamos a alguns passos à frente para o crescimento sustentável.
Afinal, parece bastante claro que o próximo governo tenderá a ter inúmeras similaridades ao que sucede, porém estará bem acuado para dar continuidade ao uso dos mesmos instrumentos e artifícios para contenção da inflação. E, acreditamos, se não o fizer diferente corre o risco do insucesso.
O modelo utilizado até agora pelo Governo Lula de taxa de juro elevadíssima combinado com dólar depreciado para combater a inflação, em grande parte decorrente dos excessivos gastos de governo com baixa qualidade, parece absolutamente superado.
Os indícios de convencimento do novo governo sobre a necessidade de conter os gastos de governo expansionistas, que comprometem à política fiscal e desacelerar o consumo estimulado ao crédito, indicam uma rota adequada para o crescimento sustentável, em detrimento da política de mão única com o juro, altamente oneroso aos cofres públicos, e o dólar depreciado, altamente danoso à indústria nacional, promovendo inclusive a inversão comportamental destes itens, ou seja, viabilizando a redução gradual do juro e a liberação do câmbio, desatrelando-o da submissão absoluta a política monetária, como “coadjuvante” da taxa de juro no controle da inflação.
Este movimento de convergência se constitui um grande desafio, e, parece, no primeiro momento, não ter muito apoio do mercado financeiro, seja porque afetaria a rentabilidade dos seus negócios, seja ainda por falta de credibilidade para sancionar a percepção de que o novo governo seja capaz de implementá-lo com eficácia.
Neste período “transitório” entre o velho e novo governo, sem que tenha ocorrido a elevação da taxa SELIC em ambiente de pressões inflacionárias presentes, especialmente do item alimentos, nos parece seja desejável pelo governo manter o real mais apreciado que de hábito, otimizando-o como âncora da contenção da inflação.
Contudo, acreditamos que, em especial até o final da semana próxima, a demanda no mercado de câmbio à vista deverá se acentuar com as remessas de dividendos, juros, lucros e até mesmo transferências de caixa para matrizes, bem como liquidações de vencimentos “em ser” de importações e outros compromissos.
Este fato pode ser determinante de volatilidade no comportamento do preço da moeda americana neste período, mas entendemos que para o BC será importante manter o real apreciado como antídoto à inflação, o que pode levar o dólar há fechar o ano com preço abaixo de R$ 1,70.
O IBGE divulgou hoje o PIB do 3º trimestre com alta de 0,5% no confronto com o 2º trimestre, que havia crescido 1,2% ante o 1º, que por sua vez havia crescido 2,7% em relação ao 4º trimestre de 2009. Em relação ao mesmo período de 2009 o crescimento foi de 6,7%, evidenciando a desaceleração gradual, já que havia registrado no 2º trimestre crescimento anual de 8,8% e no 1º trimestre 9%.
No que diz respeito diretamente ao câmbio é importante destacar que as importações no 3º trimestre cresceram 40,9% em relação ao mesmo período do ano de 2009, maior alta desde 1996, enquanto as exportações cresceram tão somente 11,3%.
Este dado é um indicativo concreto do quanto a taxa cambial sacrificou a indústria nacional afetando o seu desempenho no 3º trimestre, tendo o setor industrial recuado 1,3% frente ao 2º semestre.
Como se trata de números oficiais, não há como contestar-se o fato da taxa cambial extremamente desalinhada com a realidade ser uma efetiva ameaça a desindustrialização no Brasil, inibindo uma expansão maior do emprego e renda nacional e contribuindo para solucionar o problema do desemprego em outras economias.
A convergência para uma nova matriz de política monetária, fiscal e cambial é fundamental para o Brasil, ainda que ocorram resistências aqui ou acolá de setores que perderão privilégios circunstanciais.