Análise do Mercado – 08/12/2010

Emitir entendimentos a partir de leituras imediatas sobre o mercado de câmbio pode nem sempre corresponder à realidade dos fatos, pois, sabidamente, neste segmento do mercado financeiro onde estão presentes inúmeros vetores de influência, ainda…

Emitir entendimentos a partir de leituras imediatas sobre o mercado de câmbio pode nem sempre corresponder à realidade dos fatos, pois, sabidamente, neste segmento do mercado financeiro onde estão presentes inúmeros vetores de influência, ainda mais quando como há uma clara mixagem com objetivos de política monetária, nem tudo que parece ser, por vezes o é.

O fato do BC realizar um ou dois e até mesmo que viesse a fazê-lo três leilões, numa primeira leitura pode sugerir que esteja atuando para conter a apreciação do real, e esta pode ser uma conclusão imperfeita.

Num ambiente em que os bancos estão com forte posicionamento “vendido” no mercado à vista, uma melhora da oferta e não havendo a interferência da autoridade monetária, o BC, com seus leilões, ocorreria naturalmente à redução das mesmas, levando os bancos a ficar “menos vendidos”. E é fundamental observar-se que os bancos estão “vendidos”, ou seja, com posições a descoberto, financiadas por linhas externas, em decorrência da própria indução do BC a esse posicionamento, já que retira do mercado volumes acima do excedente do fluxo cambial.

Notoriamente, a estratégia adotada pelo governo para confrontar as pressões inflacionárias tem dois vetores, quais sejam, taxa de juro SELIC e taxa cambial com real apreciado, que complementa o que o juro elevado não consegue fazer isoladamente.

Então, a ação do BC intensificando os leilões pode visar retirada do excesso de eventual oferta e, fundamentalmente, não permitir a redução das posições “vendidas” dos bancos, que dão sustentabilidade ao real apreciado, fator importantíssimo neste momento em que as pressões inflacionárias se acentuam, e, ao que tudo indica, o COPOM não elevará a taxa SELIC, deixando esta definição para o novo governo, no mês de janeiro, quando também já se terá sinais, ainda que prematuros, dos impactos das medidas recentes do BC restringindo liquidez do mercado financeiro, com reflexos no crédito, e cerceando prazos.

Portanto, o preço do dólar abaixo de R$ 1,70 nos parece absolutamente desejável por parte das autoridades monetárias neste momento, cujo efeito é mais imediato do que a elevação da taxa SELIC, cuja decisão de elevar ou não ficaria para os novos ocupantes do COPOM.

Por enquanto acreditamos que será assim, porém tudo nos leva a crer que teremos estratégias diferentes no decorrer do próximo ano.

Inquestionável que o plano de metas será mantido ou até endurecido com metas objetivadas mais baixas, mas o conjunto de juros altos e câmbio depreciado para conter a inflação fomentada por gastos governamentais elevados e política fiscal expansionista, e consumo interno aquecido a crédito, tem sinalização de que será alterado para contenção do crédito interno reduzindo o consumo interno, gastos governamentais e política fiscal com controles mais rigorosos, construindo rota para juros mais baixos e câmbio liberado de atrelamentos à política monetária.

A queda do consumo interno precisará ser compensada com o aumento da atividade de comércio exterior da indústria não agrícola e, para tanto, precisará de uma taxa cambial mais equilibrada, algo em torno de R$ 1,90, além de alguns incentivos direcionados para estimular a atividade exportadora, a exemplo do que se deu internamente no pico da crise para alguns segmentos.

As projeções para o saldo de balança comercial precisarão superar em muito as projeções atuais para 2011, o país terá necessidade de que o setor entre em fase de forte recuperação, mesmo com um cenário externo que não enseja euforismos.

 

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