Análise do Mercado – 09/05/2011

O mercado financeiro havia emitido sinais pelo mercado de juros, ao final da semana passada, de que aumentara a convicção sobre a tendência cadente da curva da inflação após ter alcançado o pico ao longo do 1º quadrimestre, consequência da…

O mercado financeiro havia emitido sinais pelo mercado de juros, ao final da semana passada, de que aumentara a convicção sobre a tendência cadente da curva da inflação após ter alcançado o pico ao longo do 1º quadrimestre, consequência da aglutinação típica do período de inúmeros reajustes de preços pontuais, colocando-se mais em linha com o ideário que o BC tem manifestado para conter as pressões inflacionárias presentes.

O BOLETIM FOCUS, datado de 6 (sexta-feira), divulgado hoje confirma percepção na mesma linha ao reduzir a projeção para o IPCA nos próximos 12 meses de 5,34% para 5,27% e para o ano de 6,37% para 6,33%.

Para o dólar mantém a projeção de R$ 1,62 para o final do ano, mantendo também a taxa SELIC em 12,50%, sugerindo aguardar mais 2 altas de 0,25%, reafirma a projeção do PIB-2011 em 4,00%. Sinaliza projeção cadente de 4,00% para 3,78% da produção industrial. O déficit em conta corrente foi mantido com projeção para 2011 em US$ 60,0 Bi e elevou a projeção dos IED´s de US$ 46,0 Bi para US$ 50,0 Bi.

Naturalmente, este cenário de inflação recrudescendo envolve alguns eventos como queda da pressão dos preços das “commodities”, aumento da taxa SELIC e resultados das medidas prudenciais no crédito e consumo.

O que o mercado financeiro está sinalizando é uma melhora na aderência à confiança na estratégia do governo para fazer convergir a curva da inflação, principalmente depois que o Presidente do BC acentuou a indicação de que continuará elevando a taxa SELIC.

Tanto o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto o Presidente do BC, Alexandre Tombini, face a acentuada percepção crescente de que o câmbio esta tendo papel importante na política de contenção das pressões inflacionárias, apressaram-se a salientar a improcedência desta assertiva.

Evidentemente, nem do governo passado e nem deste poderia ser esperada uma declaração confirmatória a respeito, já que os impactos altamente negativos nos setores industriais brasileiros seriam imediatos e contundentes, e, haveria um enorme desanimo nos investimentos, que acabaram se sustentando com o efeito compensatório que o mercado interno proporcionou com a queda expressiva das exportações.

A questão é que a visibilidade desta estratégia é absolutamente evidente no fato do BC comprar mais dólares do mercado físico de câmbio do que o fluxo cambial proporciona e com isto estimular os bancos a constituírem posições “vendidas”, excelente para rentabilidade dos bancos que assim aderem à indução, e, em contraposição atuam apreciando o real, objetivo do governo para a contenção das pressões inflacionárias.

Na prática, como o uso pelos bancos de linhas de crédito externas não impacta no fluxo cambial, não criam “ruídos”, e as autoridades podem publicamente atribuir ao fluxo cambial a causa da apreciação do real, muito embora seja notório e disponível até em dados no próprio site do BC que absorve não só o fluxo cambial positivo, que já seria suficiente para neutralizar os impactos do mesmo na ponta da oferta, mas que suas compras do mercado superam em muito o fluxo cambial positivo.

Portanto, a afirmação é puramente retórica, e claramente o preço do dólar está sendo utilizado firmemente como “antídoto” às pressões inflacionárias, e continuará sendo, visto que o próprio Presidente do BC reafirmou que o organismo continuará agindo para aumentar as reservas cambiais brasileiras.

Esta afirmação somente será crível quando o BC reduzir os limites para as posições “vendidas” dos bancos a parâmetros meramente temporários e não expressivos, retirando das mesmas a condição operacional atual pelo volume permitido de serem captadoras de recursos em reais a custo quase irrisório e fomentarem a apreciação do real, sem contar os reflexos diretos no mercado de derivativos.

O mercado de câmbio no Brasil, neste momento, tem um quadro de forte queda na liquidez do segmento físico, face às medidas desestimuladoras do ingresso de capitais especulativos, seja por parte de estrangeiros, seja por parte de nacionais captando empréstimos de curto prazo para fomentar suas carteiras de crédito, e, isto, acaba por pressionar o mercado de cupom-cambial-DDI que passa a praticar taxas de juros em dólares muito elevadas e que complicam os investidores posicionados neste mercado localmente e até no exterior, em posições de balcão.

Os “hedge funds” estão “vendidos” líquidos em US$ 10,5 Bi no mercado de cupom cambial-DDI e esta é uma posição em desconforto face ao quadro atual, e, de difícil reversão, o que provoca pressões altistas no preço do dólar, que assim encontra alguma resistência para retornar aos parâmetros de R$ 1,57/R$1,58, que seria possível somente com a oferta dos instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos” por parte do BC, que, contudo, desta vez, desde a semana passada, quando se esperava que atuasse, não o fez.

Este é um fator pontual e interno que conspira contra a reapreciação do real aos parâmetros antecedentes e o sustenta pressionado, cotado hoje acima de R$ 1,62. Não diríamos que diretamente a alta do dólar no mercado externo tenha influência de maior peso, mas de toda forma ajudar a pressionar os “hedge funds” em posição especulativa no Brasil.

Este quadro coloca os “hedge funds” que estão especulando a favor do real em risco de perda, e acreditamos que isto possa gradativamente ir desestimulando a massiva especulação que fez do real a 2ª moeda em nível de giro no mercado internacional.

O cenário externo observa a situação da Europa, mais especificamente da Grécia que claramente não conseguirá cumprir o plano definido quando recebeu a ajuda da Comunidade Européia e precisará ter reavaliada a sua situação para novo plano de ajuda. Como Portugal já foi socorrido na semana passada, com plano bastante rigoroso envolvendo também o FMI, a situação da Grécia acentua as preocupações de que os PIGS possam voltar a ser o grande foco de dúvidas no cenário global, e isto está afetando o Euro que está perdendo valor frente ao Dólar.

As “commodities” que após os dados do emprego nos Estados Unidos reverteram a tendência de ajuste e voltam a ter seus preços em alta, atenuam suas recuperações sem interrompê-las em razão do quadro europeu.

Ocorre então volatilidade, mas o viés é de recuperação dos ativos.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress