Ajuste técnico ou, enfim, o mergulho que era esperado em algum momento? Seja o que for é uma evidência clara de que os preços atuais das “commodities” podem ser a próxima “bolha” a revelar-se de forma contundente no cenário global…
Ajuste técnico ou, enfim, o mergulho que era esperado em algum momento? Seja o que for é uma evidência clara de que os preços atuais das “commodities” podem ser a próxima “bolha” a revelar-se de forma contundente no cenário global.
As cotações das “commodities” começaram a derreter de forma rápida e intensa, sinalizando que os “especuladores”, que haviam “esticado muito a corda”, estão correndo para a porta de saída.
Afinal, os países emergentes que vinham puxando o crescimento mundial começaram a ter os reflexos decorrentes do ritmo acelerado de suas economias, sendo a inflação a consequência mais imediata indicando que é preciso ir mais lentamente para não haver descontroles e a alta do juro é o “remédio” em primeira instância, que por si só já provoca a contração.
Os países desenvolvidos não conseguem confirmar a perspectiva de recuperação, e, o maior deles, Estados Unidos, dá sinais de que está “derrapando” mais do que avançando, ao revelar indicadores conflitantes entre si, sendo que os ruins têm relevância maior na economia do que os bons. Japão e Europa idem.
Esta “quebra” nas perspectivas retira a sustentabilidade da forte manipulação dos indicadores de preços promovida pelos especuladores e que os fez apresentar expressivas altas, principal causa da disseminação da inflação global.
Segundo a Bloomberg, NY, o índice GSCI da S&P composto por 24 “commodities” caiu pesadamente ontem, já acumulando perdas em torno de 11%. A prata “derreteu” suas cotações em 11% e já acumula neste mês perdas de 28%. O petróleo caiu 9,7% ficando abaixo de US$ 100,00 o barril pela 1ª vez desde 17 de março. O índice MSCI All-Country World Index formado por ações de 45 países caiu 1,4% e o dólar subiu 2,2% frente ao euro.
A economia americana continuou gerando dados ruis e voltou a decepcionar ao registrar, segundo o Departamento do Trabalho, 474.000 pedidos de seguro-desemprego na semana passada, um avanço de 43.000 sobre o resultado antecedente (revisado) de 431.000, superando em muito as projeções dos analistas que se situavam em torno de 410.000 pedidos, em meio ao fechamento de fábricas de automóveis e indicativos de queda da produtividade do trabalhador americano no 1º trimestre contraposta ao aumento do custo de mão de obra ocorrida.
Hoje as expectativas estavam centradas na divulgação dos dados sobre o emprego e o nível de desemprego na economia americana não ligada à agricultura em abril. Em março houve a criação de 216.000 vagas e as projeções para o mês de abril estavam em torno da criação de 185.000 (Bloomberg) e 181.000 (CNN) novos postos.
O Departamento do Trabalho anunciou a criação de surpreendentes 244.000 novos postos, com 9% de desemprego, e este dado “revitalizou” os ânimos abatidos de ontem e tiraram as bolsas americanas da postura indecisa para uma acentuada rodada de alta.
Os T-Bills de 10 anos logo após o anúncio recuaram suas cotações e abriram sua curva de juros “yeld” de 3,17% para 3,23%.
O dólar ainda se mantém com ganho frente ao euro e o yen, após a notícia, porque o quadro americano parece melhor do que o da Europa e Japão, contudo o petróleo que estava cotado a US$ 97,40 o barril na Nymex antes do fato, imediatamente, está em alta com viés de que retomará o preço de US$ 100,00, rapidamente.
As demais “commodities” devem estancar o forte ajuste e revitalizarem-se ou estabilizarem-se nos parâmetros atuais, porém o ocorrido deixou evidente que há uma forte propensão a ser detonado um movimento de desmanche rápido das posições especulativas, caso o cenário global não emita sinais consistentes de melhora.
O dado positivo divulgado hoje da economia americana permite “dar-se um tempo” para a efetivação do ajuste, mas deixou claro o quanto são irreais os parâmetros de preços das “commodities” na atualidade.
Esta evidência pode determinar que o ajuste seja retomado em bases mais lentas, mas que ocorrerá não há dúvidas. Parece certo.
Este cenário ocorrido em torno das “commodities” se presta a reflexões, pois, caso se tornasse sustentável e poderá sê-lo em momento futuro, afetaria o Brasil numa ponta positiva, pois poderia tirar pressões inflacionárias externas, noutra ponta negativa, visto que o Brasil, atualmente, é predominantemente exportador de “commodities” e com a alta ocorrida nos preços internacionais pode sustentar um superávit na balança comercial brasileira, mesmo num ambiente de real apreciado e perda de competitividade externa da industria não agrícola que neutralizou suas exportações.
Este movimento pendular de queda dos preços das “commodities” com elevação do preço do dólar poderia provocar quebra nas expectativas de montante de divisas de exportações das “commodities”, e, rigorosamente, poderia não trazer o benefício esperado para as exportações do setor industrial, já que com o dólar em alta frente às demais moedas os preços em dólares poderiam ter quedas não rigorosamente compensadas pela alta do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
A viabilização dar-se-ia favorável com um ajuste no preço da moeda americana no nosso mercado mais intenso do que o do dólar em relação às demais moedas no exterior, mas isto é improvável que aconteça desta forma.
Continuaria, certamente, a necessidade já presente do governo incentivar o setor industrial para que ganhe competitividade no comércio exterior, até porque perderia volume de ingresso de moeda das exportações de “commodities”.
A complexidade do quadro é que a queda do preço das “commodities” aliviaria pressões inflacionárias, mas uma eventual elevação do preço da moeda americana reduziria a contribuição deste para o controle inflacionário.
O Ministro da Fazenda voltou a insistir hoje que o governo não está utilizando o preço do dólar depreciado para controlar a inflação, mas entre a teoria e o que se vê na prática, não há dúvidas de que não só continua utilizando a moeda americana depreciada como antídoto às pressões inflacionárias, como neste momento é a principal peça do conjunto de medidas neste sentido.
Só consideraremos crível este posicionamento quando o BC deixar de estimular e fomentar as posições “vendidas” dos bancos, fonte de pressão de apreciação do real, captação de recursos de curto prazo no exterior que irrigam a liquidez no mercado financeiro e influência no mercado de derivativos.
O dado americano positivo no emprego “despressuriza” a forte tendência de baixa das “commodities” e volta a fragilizar a moeda americana, no movimento pendular típico, e aqui, no nosso mercado de câmbio, causa grande alívio aos “hedge funds” que estão fortemente “vendidos” no dólar futuro e no cupom cambial-DDI e que, certamente, sentiram os temores do elevado risco de perdas com este movimento.
A queda da liquidez no mercado físico de câmbio causou estragos elevando sobremaneira o juro brasileiro sobre dólares no mercado de “cupom cambial-DDI” onde os “hedge funds” estão soberbamente “vendidos” liquidamente em US$ 10,4 Bi.
Este fato tem tido repetência desde o mês de abril quando o fluxo cambial financeiro tornou-se negativo e o fluxo cambial total foi drasticamente reduzido, porém frequentemente o BC ofertava os instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos” que aliviava a pressão altista do juro no cupom cambial.
Ocorre que, nesta semana, o BC não compareceu com oferta de “swaps cambiais reversos e continuou com suas intervenções com os leilões de compra no físico num ambiente de fluxo não intenso e com os bancos já “vendidos” em suas posições físicas em torno de US$ 11,0 Bi, que, contudo, estão com “hedge” no mercado futuro.
Este quadro, certamente, já trazia desconforto aos “hedge funds” posicionados “vendidos”, e, que com a derrocada forte dos preços das “commodities” que provoca o movimento pendular de recuperação do dólar, se sentiram mais pressionados pela perspectiva de perdas, pois a moeda americana poderia ganhar alguma recuperação de preço sustentável internamente.
Com isto, o preço da moeda americana sofreu apreciação considerável para estes tempos no nosso mercado.
Como mencionamos acima, o “suspiro positivo” relevante dado pela economia americana hoje atenua certamente o movimento de queda dos preços das “commodities” no mercado internacional e o viés de alta da moeda americana no cenário global, e, consequentemente, a retirada dos elevados receios de perda irreversível dos “hedge funds” com suas apostas no mercado de derivativos brasileiro.
Este quadro retira pressões fortes que exerciam e que repercutiam no preço da moeda americana, que assim entra em tendência de ajuste para os parâmetros antecedentes, ou seja, é retomada a apreciação do real.
Apesar disso, o ocorrido sugere que os “hedge funds” precavidamente procurem, agora não de forma abrupta, reverter suas apostas, ao mesmo tempo em que continuarão mantendo expectativa de que o BC possa ofertar os instrumentos financeiros “swaps cambiais reversos” que poderia lhes tirar do sufoco.
No nosso entender, o BC não deveria ofertar os “swaps cambiais reversos”, pois somente com o agravamento do risco de perda, o especulador perde força especulativa.
Se assim agir, o preço da moeda americana naturalmente ainda será depreciado, porém com um ponto de sustentação acima do nível antecedente.
Internamente, o destaque preocupante é a divulgação do IPCA de abril com alta de 0,77%, após 0,79% em março deste ano e 0,57% em março de 2010. Nos últimos 12 meses acumula alta de 6,51% suplantando a meta do governo que no pico alto é de 6,5%. O mercado está projetando o IPCA para este ano em 6,37% e o BC em 5,6%.
A ambição de manter a atividade econômica em ritmo que garanta crescimento da economia a ponto de preservar as conquistas antecedentes, num ambiente de pressões inflacionárias consistentes decorrentes do fato do Brasil ter crescido no ano antecedente além da sua capacidade para tanto, situação que precisa ser enfrentada com medidas que possam ocasionar forte retrocesso, forja um cenário de altíssima complexidade.