Análise do Mercado – 09/01/2013

Parece-nos que seria fundamental a presença da Presidenta Dilma na reunião ordinária do Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico que avaliará a situação energética do país, nesta quarta feira em Brasília, dada a relevância do assunto.

Contudo, a ausência anunciada sugere o entendimento de que seja estratégia exatamente para dissimular o caráter de elevada importância, que o assunto efetivamente tem, procurando mitigar os intensos ruídos que vem sendo gerados sobre a questão energética no atual contexto do país.

Os níveis baixos nos reservatórios de água provocam que 24% da energia consumida no país venha sendo fornecida por pelo menos 60 usinas termoelétricas, segundo noticias de imprensa,  que despacham força de todos os tipos de fontes: eólica, a carvão, a óleo diesel e combustível, nuclear e a gás natural. Todas são mais caras e mais sujas, e criam perspectivas ruins pelo fato em si e também por colocar na linha de preocupações também eventuais problemas com fornecimento de gás ao parque industrial brasileiro.

Afinal, ao que comentam os especialistas estamos usando a má solução encontrada pelo governo FHC lá pelos idos de 2001 quando ocorreu o apagão, para sanar problema atual transcorrido uma década.

Ruídos intensos sobre questões muito perceptíveis, porém não admitidos claramente como problema presente, impactam forte sobre as perspectivas econômicas e inibem atitudes empreendedoras dos investidores, que contraem sua dinâmica definida para o ano, causando efeitos mais intensos do que o fato em si, caso venha a se confirmar, ou perdas de oportunidades de investimentos, caso não se confirme.

Em boa linguagem, o dano está causado e, lamentavelmente, impacta nas projeções prospectivas a respeito da atividade econômica do país, fomentando, logo ao inicio do ano, alterações nas projeções formuladas sobre o comportamento da economia do país em 2013.

Na Bovespa o preço das ações das energéticas sofre desvalorização, mas naturalmente a questão energética é plural e na medida em que as incertezas possam prosperar, naturalmente haverá repercussões em outros setores fortemente dependentes da utilização de energia.

No mercado de juros as taxas subiram com o risco da questão da energia poder impor ajuste inflacionário inevitável, além das incertezas fiscais. Mas por enquanto podemos considerar mais uma reação “especulativa” do que fundamentada, visto que o BC já deu evidências de que não pretende mexer na taxa por um longo período de tempo.

O dólar apresentou movimento discreto de alta, mas que consideramos mais psicológico pela presença de incertezas do que por outras razões efetivamente operacionais, visto que está “sob controle do BC”.

Havendo ruídos críveis, haverá sempre incertezas e incertezas encontram sempre os “especuladores” de plantão, se bem que os espaços atualmente são bastante restritos.

Nós tínhamos e temos uma perspectiva sobre o fluxo cambial neste 2013 pouco otimista.

Entendemos que no 1º trimestre poderemos ter uma melhora do fluxo cambial para o Brasil, para posteriormente enfrentarmos um recrudescimento gradual que impactará na formação do preço da moeda americana, visto considerarmos que o país perdeu atratividade ao reduzir bruscamente a taxa de juro SELIC, medida correta focando os interesses do país, mas que afasta os recursos especulativos que sempre foram seduzidos pela grandeza do juro real que era proporcionado pelo Brasil, e ter, corretamente, dificultado as operações especulativas no mercado de derivativos.

Contribui para este cenário também o fato do baixo crescimento do PIB em 2012 não ter base fundamentalista que o coloque em forte recuperação em 2013, como os 4,5% projetados pelo governo. O modelo consumo estimulado por crédito não nos parece sustentável e, acreditamos, pode até provocar problemas sérios.

Diminuição maior na propensão a investir do empresariado nacional, que já não era muito grande, impacta na geração de emprego e renda e manterá a nossa produção nacional dependente da complementariedade até maior das importações e não deixa otimismos quanto à evolução das exportações.

O país com um cenário de fortalecimento dos problemas estruturais, como o caso da energia, certamente afeta a disposição dos investidores externos, e poderemos ter uma queda expressiva neste quesito.

Estes são pontos que “afetam a formação do preço do câmbio”, e que devemos considerar como factíveis ao longo do cenário deste ano, e embora o BC venha exercendo o controle do preço da moeda americana, que já consideramos valorizada no contexto atual, terá que confrontar-se com as forças do mercado de câmbio em si, e o jogo poderá ser mais forte do que a pressão altista que presenciamos no mês de dezembro passado, quando o fluxo cambial foi fortemente negativo.

2013 parece revelar uma tendência de ser um ano com enormes desafios ao Brasil, muitos dos quais não bem avaliados quando, num ambiente de excessivo otimismo, foram pouco considerados nas projeções propagadas.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

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