O ano de 2013 começa a apresentar seus contraditórios que foram pouco considerados nas projeções otimistas divulgadas, e que, já começam a ser, ainda que discretamente, revisadas considerando melhor a realidade e não o anseio.
Há “pedras”, e não pequenas, na trajetória do ano de 2013 que se inicia e, poderão causar repercussões nas perspectivas para o mercado interno e externo.
No câmbio já não se pode negar que o real está valorizado perante o dólar “por conta e ordem do BC” que, bruscamente, passou a focar o preço da moeda americana como fator adicional de controle das pressões inflacionárias, relegando a segundo plano a ambição inicial do governo de utilizar o câmbio desvalorizado como instrumento de fomento à recuperação da debilitada atividade industrial brasileira, que se revelou equivocada por gerar mais pressão inflacionária e não ter repercutido melhora de investimentos por parte da indústria focando aumentar seu nível de atividade.
O preço do dólar tem fatores de mercado para estar mais elevado de forma natural.
As pressões fortes do mercado de câmbio requisitando do BC oferta de liquidez à vista, atitude que a autoridade monetária relutou em atender utilizando inúmeras alternativas operacionais e até reversão de normativos, tendo, por fim, conseguido com as operações conjugadas de venda à vista com recompra a 90 dias, gerar a liquidez necessária versus uma expectativa de que o fluxo cambial melhore no transcorrer dos 90 dias próximos. Contudo, o BC colocou liquidez excessiva, o que permitiu fragilizar o preço a um patamar irreal.
Portanto, acomodou, pelo menos temporariamente, a pressão altista que poderá retornar se não se confirmar a presunção de que o fluxo cambial será melhor, o comportamento da formação da taxa cambial.
Embora os bancos estejam contabilmente “vendidos” em suas posições à vista, na pratica dispõe de liquidez feita abundante pelo Banco Central do Brasil e tem tempo para cobrir sua posição efetivamente vendida no mercado à vista e a termo, beneficiando-se da queda pontual que o excesso de liquidez colocada pelo BC provoca no preço da moeda americana. Estão no melhor dos mundos e não tem interesse nenhum em elevar o preço do dólar neste contexto atual, salvo se o fluxo cambial persistir negativo, contrariando as expectativas.
Fatores recentes poderão ter repercussão no mercado interno e externo como salientamos.
O MF pratica “matemágica” para superar os problemas com a meta fiscal repercute e é observado pelos investidores estrangeiros. Denotam gasto demasiado por parte do governo. Embora o Ministro Mantega destaque que crescemos menos, etc., o que sugere que a gestão direcionasse menores gastos; a alegação das renuncias fiscais concedidas sempre anunciadas com números dantescos carecem sempre de maiores evidencias, pois sabidamente ao reduzir tributos ocorre o aumento da quantidade vendida que acaba por provocar a recuperação por outros tributos da queda destacada, por vezes até superando-a.
Este tipo de “ajuste” sempre chama muita atenção dos investidores estrangeiros.
A questão inflacionária e as inúmeras manobras para tentar mitigá-la com instrumentos vários, passando pelo dólar apreciado; manobras fiscais para cumprimento de meta; Petrobrás vendendo combustível mais barato do que compra, etc., são pontos que começam a ser melhor observados.
Mas, provavelmente, nenhum deles afeta mais a propensão a investimentos oriundos do mercado interno e externo do que “a sinuca de bico” em que o país está envolvido com a questão da energia.
A relutância em alegar inexistência de problema onde é notória a existência causa desgastes ao governo e certamente tem forte impacto na retração dos investimentos na economia, sejam de origem interna, sejam de origem externa.
Podem ocasionar retração nos Investimentos internos, absolutamente necessários para aumentar a capacidade de oferta da indústria nacional, e nos investimentos externos, fundamentais para que o fluxo de recursos externos contribua para o financiamento do nosso déficit em transações correntes, afora principalmente do incremento a atividade da nossa economia.
O problema energético “mexe” com o todo da economia, inibe atividade, inibe capacidade de atrair recursos externos para todos os setores, produtivos e mercado de renda variável, já que todos tendem a repercutir o problema.
Esta incerteza é extremamente danosa ao nosso país.
Afinal, crescemos em 2012 algo ligeiramente abaixo de 1%, difícil imaginar se houvéssemos crescido os 4,5% projetados pelo Ministro Mantega.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO