O mercado de câmbio brasileiro está operando com fraco volume de negócios, fato evidenciado pelo baixíssimo volume de negócios no interbancário operado nos últimos dias, algo em torno de US$ 1,0 Bi diários no mercado à…
O mercado de câmbio brasileiro está operando com fraco volume de negócios, fato evidenciado pelo baixíssimo volume de negócios no interbancário operado nos últimos dias, algo em torno de US$ 1,0 Bi diários no mercado à vista, e, com bancos e “hedge funds” mantendo posicionamentos no mercado de derivativos quase inalterados.
Os exportadores que detinham considerável estoque de dólares de exportações já liquidadas no exterior, ao que os números mais recentes indicam, já ingressaram a quase totalidade, ficando o fluxo agora dependente dos novos negócios de exportações, enquanto que na ponta das importações ainda existe um montante remanescente a ser liquidado, que tem um viés de alta, tendo em vista que a balança comercial passou a indicar que as importações estão superando as exportações, o que determinou o saldo negativo da última semana.
O mercado acionário dos países emergentes recebeu um considerável volume de recursos estrangeiros até o dia 2, mas o Brasil, como destacamos ontem, baseados em matéria do jornal Valor Econômico, na contramão deste fluxo.
A BOVESPA tem “andado” até descolada em alguns momentos do mercado internacional, sustentando alta amparada pelas “blue chips”, em especial Petro e Vale, que têm grande peso no índice, mas o volume do mercado de câmbio à vista não sugere que esteja ingressando novos recursos estrangeiros.
Como salientamos ontem, podemos ter um recuo do fluxo cambial antecipado às expectativas e este fato pode pressionar a taxa cambial além do intervalo entre R$ 1,70 a R$ 1,75, que estávamos projetando para o período até o final do ano.
Como temos salientado com frequência acreditamos que observar dados retrospectivos tem pouca valia para as projeções prospectivas, o cenário global mudou muito rapidamente com forte agravamento, provocando impactos contínuos nas principais economias mundiais e reflexos no
Brasil, que ainda não tão atingido já demonstra desaceleração da atividade econômica acima do esperado.
Como projetar fluxo de capitais para o Brasil em 2012 se o que se observa é uma situação amplamente ambígua e sem definições nas economias europeia, americana e japonesa, isto sem ter bases críveis para aferição de impactos na atividade da China e seus reflexos nos preços de “commodities”?
Teremos fluxo suficiente de investimentos para financiar nosso déficit em transações correntes?
Toda e qualquer projeção neste momento “para o bem ou para o mal” será pura futurologia, afinal nem sabemos que rumos tomará a situação crítica presente na Europa e não menos importante nos Estados Unidos.
A existência de crise no cenário global reduz a propensão aos investimentos por parte das multinacionais, face à necessidade de preservação de liquidez ante o natural recuo do crédito.
Afinal, a geração de poupança interna, pública e privada, no Brasil é baixíssima, o que nos faz dependentes do financiamento externo, e quanto mais o formos poderemos ter efeitos na taxa cambial, mesmo com o país detendo reservas cambiais da ordem de US$ 350,0 Bi.
Fazer a nossa indústria manufatureira exportadora promover um aumento do fluxo de divisas pode até ser estimulado pela alta do preço da moeda americana, o que agrega de forma indireta competitividade, mas há, inegavelmente, uma premente necessidade do Brasil repensar sua matriz exportadora, desonerando a indústria exportadora e promovendo a diversificação da nossa pauta, estimulando o desenvolvimento de produtos com valor agregado aos nossos produtos primários, e, isto leva tempo e não acontece no curto prazo.
Contrariando a nossa expectativa e de muitos analistas, passamos a considerar a probabilidade do câmbio ser uma surpresa negativa numa perspectiva mais curta do que estávamos prognosticando para uma apreciação do preço da moeda americana.
A percepção predominante é que a inflação está desacelerando, embora ainda ocorram índices conflitantes. O IGP-DI da FGV de outubro confirmou desaceleração de 0,75% para 0,40%, porém, o IPC-S da mesma FGV na 1ª medição de novembro registrou avanço de 0,08% pontos sobre a medição antecedente ao registrar 0,34%.
Outra percepção que se confirma é a desaceleração da atividade industrial. O IBGE mostrou que metade dos 14 estados brasileiros pesquisados apresentou queda na produção industrial. No ano até setembro a expansão da atividade industrial medida pelo IBGE, em termos nacionais, está em 1,1%.
No exterior, o foco continua na Europa e mais especificamente sobre a ITÁLIA, que está sendo pressionada pelo elevado endividamento da ordem de Euros 1,6 Tri, maior que a somatória das dívidas de Espanha, Portugal e Irlanda, da qual Euros 37,0 Bi precisam ser rolados até o final do ano e mais Euros 307,0 Bi em 2012. A perda de credibilidade do governo italiano e, em especial, do Primeiro Ministro Berlusconi, que hoje se submete a novo voto de confiança, faz com que o mercado exija juros elevadíssimos do governo em seus títulos. Ontem os títulos de 10 anos atingiram juros de 6,6560% quando à exato 1 ano atrás pagavam 3,7890%. Para se ter ideia a taxa básica para o Euro é da Alemanha que está em 1,76%, assim a Itália, 3ª maior economia europeia, pagou 490 pontos acima.
Segundo analistas mais próximos do problema italiano, a “situação difícil tende a impossível”, e as pressões pela renúncia de Berlusconi se intensificam.
A França, procurando preservar o seu “rating” AAA, antecipou-se com o anúncio de cortes nas despesas objetivadas de Euros 65,0 Bi até 2016, sendo Euros 7,0 Bi em 2012 e Euros 11,6 Bi em 2013.
Mas a “roda gira” e o mercado financeiro no meio da tempestade constrói um frágil otimismo fundamentado no fato de que o pior imediato tende a ser evitado, embora não haja perspectivas críveis sobre o momento seguinte e nem se saiba quais serão os próximos personagens desta crise que tende a persistir ainda por um bom tempo.
Então, bolsas europeias e Bovespa sobem, americanas indicam no pré-mercado que abrirão também em alta. Petróleo sobe 0,68% na Nymex cotado a US$ 96,17 o barril; ouro sobe 0,11% cotado a US$ 1,793,00 a onça troy; dólar cai frente ao euro cotado a US$ 1,3793 e os “T-Bills” de 10 anos valorizam-se e fecham sua curva de juro “yeld” para 2,03%.
Alguns sinais desalinhados, o que deixa evidente a insegurança e incerteza presentes, mas no fundo a única tendência certa é a volatilidade.