Muita transpiração e pouca ação, esta parece ser a melhor definição da cena externa da crise global, que se agrava de forma mais rápida e aguda do que os governantes e participantes das gestões em torno da acomodação das situações críticas conseguem…
Muita transpiração e pouca ação, esta parece ser a melhor definição da cena externa da crise global, que se agrava de forma mais rápida e aguda do que os governantes e participantes das gestões em torno da acomodação das situações críticas conseguem evoluir na transposição das ideias para a prática.
A Itália, 3ª economia da Europa, acaba por constituir-se neste momento um problema maior do que a Grécia com a expressiva dimensão de sua dívida e encurralada por vencimentos de curto e médio prazos, sofrendo forte aviltação das taxas de juros. Hoje, após o Primeiro Ministro Berlusconi ter “acertado” a sua renúncia e com o plano de austeridade sendo analisado pela comunidade europeia, a taxa de juros para 10 anos surpreendentemente superou os 7% aa., quando se esperava um arrefecimento, mas, ao que parece, ocorre um forte movimento especulativo.
Já há dúvidas se será pior sem ou melhor com Berlusconi, e se antevê muitas dificuldades para definir um sucessor ou antecipação das eleições. O Primeiro Ministro pode até estar “blefando” sabendo que sua sucessão no momento atual pode tornar as coisas mais difíceis e, não é improvável, que numa antecipação das eleições procure ser novamente conduzido ao posto.
Tudo é possível, afinal Berlusconi é um político hábil e espertíssimo, e poderá “dar a volta por cima” e ficar mais forte.
A situação da Itália, pela dimensão dos montantes envolvidos, deixa evidente que o Fundo de Euros 1,0 Tri é algo muito pequeno para o tamanho do problema na Europa.
A Diretora-Gerente do FMI, Christine Lagarde, em manifestação feita hoje na China, onde se encontra em visita, alertou sobre o risco de instabilidade mundial e apelou para atuação conjunta dos países para combater os efeitos da crise econômica mundial, afirmando: “Há um risco de espiral de instabilidade financeira mundial”, e ainda, “Se não agirmos em conjunto, a economia mundial corre o risco de uma espiral de incerteza e de instabilidade financeira”.
Consideramos extremamente perigoso o momento, pois a inércia dos dirigentes na tomada das ações para acomodação ante o rápido agravamento da crise fiscal dos países, pode levar os mercados a um estado de pânico, e, uma operação “desmonte” de posicionamentos no mercado financeiro mundial poderia provocar um quadro caótico.
Para tanto, basta um risco imediato de “default” e o efeito dominó proporciona o restante.
O Ministro Mantega já percebeu que o “vento passou a ventar contra os emergentes” no fluxo de capitais, embora de forma sutil procure excluir o Brasil, mas esta é uma atitude política, pois a realidade já está presente.
Já faz semanas que temos destacado que as projeções de ingressos feitas pelo BC/Governo não deveriam se consumar com o otimismo posto, visto que a contração seria natural com o agravamento da crise.
Também fica cada vez mais evidente que o BC/COPOM realizou o diagnóstico correto sobre as perspectivas de agravamento da crise externa, e que, muito provavelmente tenham errado ao ter cortado a SELIC na última reunião em tão somente 0,5%, reassumindo o gradualismo em detrimento da ousadia que havia demonstrado no corte anterior.
A SELIC precisará ter redução mais drástica ainda este ano.
Tudo leva a crer que os efeitos da crise internacional chegarão aqui antes do esperado, e, que o fluxo de recursos externos tenderá a negativo impactando na taxa cambial, e, deve ganhar consistência a visão de que não cresceremos mais do que 3% neste ano.
Cresce a percepção de que a solução para a Europa demandará muito mais tempo do que o imaginado e que a recessão parece inevitável. Não se vislumbra para os Estados Unidos melhor sorte, mas tudo leva a crer que o problema americano, embora sério, é menor do que o problema europeu, mas isto pode não ser suficiente para evitar um período de recessão.
Com quadros recessivos na Europa e nos Estados Unidos, reflexos negativos ocorrerão na Ásia e, inevitavelmente, nos países emergentes.
Há incertezas demais e praticamente nenhuma certeza neste momento, consequência: volatilidade e perda absoluta de fundamentos nas oscilações de preços e indicadores no mercado financeiro global.
E no nosso fluxo cambial de outubro, mais um enigma:” O fluxo foi negativo em US$ 134,0M, e a posição comprada dos bancos subiu de US$ 1,294 Bi para US$ 3,713 Bi”. Com a palavra o BC.