O que era uma perspectiva para o início do próximo ano parece antecipar-se e isto, confirmando-se, causará impactos no preço da moeda americana.
Entendemos que os IED´s estimados poderão…
O que era uma perspectiva para o início do próximo ano parece antecipar-se e isto, confirmando-se, causará impactos no preço da moeda americana.
Entendemos que os IED´s estimados poderão ser retardados face à crescente necessidade dos investidores estrangeiros preservarem liquidez ante a natural retração do crédito em tempos de crise.
Da mesma forma, consideramos que as rentabilidades das aplicações de renda fixa em ambientes incertos perdem para a segurança, o que também provoca não acréscimos de ingressos, mas sim saídas destes investimentos do país.
Por outro lado, temos uma visão que não permite muitas ilusões a respeito da sustentabilidade dos preços das “commodities”, base das nossas exportações, e cujas ações das empresas ligadas ao ramo tem enorme peso na BOVESPA. Dado recente divulgado pelo jornal Valor Econômico evidencia que os investidores globais voltaram a demonstrar interesse por aplicações mais arriscadas e que estes países emergentes receberam dos fundos internacionais de ações, na semana finda em 2, algo como US$ 3,5 Bi, e que o Brasil foi o único país que registrou predomínio dos resgates, destoando dos demais.
A nossa balança comercial registrou na semana de 1 a 6 déficit de US$ 543,0 M. O varejo brasileiro continua aquecido enquanto a indústria brasileira desacelera a um ritmo já forte, deixando claro que o produto importado continua substituindo o produto nacional.
O fluxo cambial da semana de 24 a 28 apontou saldo negativo de quase US$ 4,0 Bi, e o fluxo do mês esta negativo.
A nossa matriz exportadora está bastante desalinhada com um país que objetiva crescimento sustentável. Cada vez mais somos exportadores de matérias primas, sendo que a nossa indústria manufatureira vem perdendo performance significativamente.
A indústria automobilística teve queda de produção de 9,5% no confronto anual base outubro, período em que as exportações cresceram 2,2%, e em outubro só não foi pior porque conseguiu exportar mais 17% na comparação com setembro, face à melhora do preço do dólar.
Somos preponderantemente exportadores de nossas riquezas “in natura”, sem valor agregado e não basta a nossa Presidenta desejar que o nosso maior cliente de produtos primários compre produtos manufaturados, de vez que é necessário que os tenhamos e a preços competitivos. É preciso estimular a indústria exportadora e a diversificação.
Ao longo da história todos os países que basearam suas exportações em produtos primários não lograram sustentabilidade de crescimento, já que é a industrialização que agrega valor, gera mais empregos e mais renda, e tem impactos efetivos na melhora da qualificação da mão de obra, o que sugere avanços educacionais.
Portanto, é conveniente que observemos mais atentamente o fluxo cambial, pois poderemos ter pressão sobre a taxa cambial colocando-a um pouco acima dos preços projetados.
Merece destaque o fato de o Tesouro Nacional ter colocado com extrema facilidade US$ 1,0 Bi de títulos denominados em dólares a prazo de 30 anos, quando tenciona tão somente US$ 500,0 M e teve demanda no montante de US$ 6,5 Bi. A taxa de juros “yeld” 4,694% aa, melhor do que a obtida na colocação anterior que foi de 5,2% aa.
O Boletim FOCUS, que divulga as medianas das projeções de 100 instituições financeiras, manteve estável em 6,50% a projeção para o IPCA-2011 e nos próximos 12 meses elevou de 5,62% para 5,63%, evidenciando baixa consideração aos impactos da crise externa no país. Para o PIB uma nova redução do crescimento para 3,20%, o que nos parece um pouco elevado ainda, pois entendemos que a curva já esteja tendente a 3%, face a forte perda de atividade econômica que vem sendo observada neste trimestre. Para a SELIC a projeção continua em 11%, acima do que sugere a necessidade presente, que consideramos algo entre 10% a 10,5%. O dólar continua com a projeção de R$ 1,75, com a qual concordávamos, contudo face ao comportamento do fluxo cambial é possível que possa ficar um pouco acima.
No exterior, a cena continua nebulosa e tudo indica que além do Primeiro Ministro grego Papandreou, o Primeiro Ministro italiano Berlusconi também perderá o cargo.
O quadro da Grécia sugere que agora “aceitará” o acordo, mas sem apoio popular vai ser muito difícil conduzi-lo ao sucesso, o que já o faz frágil no nascedouro. Mas cresce a percepção de que, se a Grécia cumprir a risca o programa, será necessário uma década para sua recomposição.
O quadro da Itália é preocupante por ser a 3ª maior economia da Europa, ter um enorme passivo e grande concentração no curto prazo, o que a deixa à mercê do mercado que exige taxas de juros muito elevadas.
E ainda temos entre a Grécia e a Itália, temos Portugal, Irlanda, Espanha, etc., que podem ser os próximos, já que o descontrole fiscal é predominante e as recomposições exigem mudanças radicais.
Enfim, serão sempre composições para ir administrando a crise, procurando fazê-la gradualmente menor, mas não solução, o que sugere que o estado de tensão deva ser duradouro na região.
Não se descarta que ocorra um período de recessão na Europa.
No outro lado, os Estados Unidos com seu endividamento, desemprego oficial estabilizado em elevados 9%, proximidade da intensificação da disputa eleitoral, crescimento baixo, mercado financeiro esperando novas “benesses” e muita dificuldade para reencontrar as diretrizes capazes de reanimar a atividade econômica de forma sustentável.
A recessão também transita como perspectiva na cena americana.
Enfim, não há razões para euforia, mas sim para o exercício contínuo da sensatez, de forma à minimizar os riscos nas tomadas de decisões.