Parece irônico, mas a única certeza presente em relação ao cenário macro da economia global é que o risco de melhora é baixíssimo, por isso as reações em linha de desânimo estão coerentes, e, não se pode descartar, que ajustes mais intensos…
Parece irônico, mas a única certeza presente em relação ao cenário macro da economia global é que o risco de melhora é baixíssimo, por isso as reações em linha de desânimo estão coerentes, e, não se pode descartar, que ajustes mais intensos nos preços e indicadores exacerbados dos ativos fortemente especulados possam vir a ocorrer, pois o contexto presente é sugestivo.
Os números da economia americana têm acentuado a percepção de que ocorre mesmo uma reversão quanto às expectativas de recuperação, ainda que lenta, fato ainda não admitido pelo FED, porém, Bernanke, em seu pronunciamento de ontem, não fez nada para dissuadir os temores sobre o crescimento, que continua rotulando como lento e transitório. Nada do que disse foi considerado positivo, não deixou sinais de que o FED considere novos estímulos monetários, aliás já havia manifestado anteriormente que uma nova rodada de estímulo para o mercado pode não compensar o risco inflacionário com a alta das matérias primas.
O FED já cortou as taxas de juros de 1 dia para zero e recomprou mais de US$ 2,0 Tri em bônus do governo para tirar a economia da recessão e incentivar recuperação, mas os resultados são pífios. O balanço patrimonial do FED está pesado, não comportando maiores afrouxamentos na política monetária. No final deste mês encerra-se o “QE2” com a retirada de US$ 600,0 Bi.
Bernanke também foi duro com o Congresso americano que pressiona por cortes elevados no orçamento, apontando que as reduções podem comprometer seriamente a trajetória da recuperação da economia; e não admitiu qualquer responsabilidade pela elevação dos preços das “commodities”, em especial o petróleo. Destacou que, enquanto a demanda por petróleo subiu graças ao crescimento global, a oferta continua abaixo dos níveis de 2008, afirmando: “Com a demanda por petróleo subindo rapidamente e a oferta de petróleo estagnada, os aumentos nos preços do petróleo estão longe de ser um quebra-cabeça”, disse Bernanke.
Além disso, Bernanke observou que, enquanto o dólar utilizado pelo comércio perdeu 15% de seu valor desde que os mercados foram ao fundo do poço no início de 2009, o preço do petróleo subiu 160% e o preço de uma cesta de commodities não baseadas em petróleo subiu 80%”.
Por outro lado, a Europa que convive com os problemas de crise fiscal e de gestão nos países periféricos, devendo revelar novos integrantes nesta “banda podre” da comunidade nos próximos meses, tende, pelos sinais emitidos pelo Presidente do BCE, Trichet, sinalizar que poderá elevar o juro na próxima reunião de política monetária, face a preocupação com a inflação.
No Japão, a recessão continua, enquanto a China atua para conter a inflação e com isto coloca a economia em tendência de um crescimento menor, até porque, se os desenvolvidos não se restabelecem, as repercussões negativas repercutem na economia global.
Bolsas, num cenário desapontador como o prevalecente, têm poucas razões para altas, ficando mais suscetíveis a movimentos de vendas e volatilidade e busca pelos investidores de opções mais conservadoras, por isso os T-Bills americanos estão fechando suas curvas de taxas de juros “yeld”, com os para 10 anos recuando de 3,01% para 2,96% aa.
O fato do FED não ter se manifestado a favor de novos “socorros” acaba por fortalecer o US$ frente ao Euro, o que poderá acentuar-se mais se o BCE não demonstrar-se focado no controle da inflação na próxima reunião de política monetária. Neste momento a cotação é US$ 1,4616.
No Brasil, superado o “stress político” do qual não se espera reflexos no comportamento do mercado financeiro, a expectativa está centrada na decisão do COPOM sobre a taxa SELIC, que será anunciada hoje pós-expediente. O consenso do mercado é de alta de 0,25%, mas o interesse maior é pelas colocações do órgão em sua Ata, que será divulgada na próxima semana.
A atividade econômica vai gerando dados que confirmam a perda de ritmo.
A CNI informou que a utilização da capacidade instalada do parque industrial brasileiro caiu para 82,0% em abril ante 82,4% em março.
A confiança do consumidor brasileiro caiu também em maio apontando 143 pontos ante 150 pontos em abril, e, segundo a Associação Comercial de São Paulo, caiu também no confronto com maio de 2010 quando registrou 146 pontos.
O IPCA de maio recuou para 0,47% em maio após 0,77% em abril, acumulando 6,55% nos últimos 12 meses, porém a expectativa é de confirme a tendência cadente nos próximos meses, havendo preocupação, contudo, em relação ao mês de setembro, quando ocorrem os dissídios de categorias fortemente representadas por sindicatos.
O IGP-DI de maio, ao registrar tão somente alta de 0,01%, surpreendeu ante projeções acima de 0,40%, após ter registrado 0,50% em abril. Tudo indica que poderá tornar-se negativo no mês de junho. As quedas foram bem disseminadas, houve aumento de oferta de produtos agrícolas e especulação menor no mercado de “commodities”.
Há um debate presente no mercado de câmbio quanto aos ingressos de recursos no país que estariam sendo utilizados ou não para os fins declarados, numa busca de burla a legislação presente do IOF.
É possível que esteja ocorrendo, não necessariamente com toda a engenharia que tem sido propagada, visto que as estratégias inteligentes por vezes são mais simples.
O ponto que temos focado e procurado observar tem uma linha diferente.
Ao classificar “empréstimos inter-company” como IED´s, o BC pode estar propagando um dado inexato para fundamentar análises. Seria necessário que se conhecesse qual o perfil destes empréstimos em tempo de vigência, pois, se vieram no intervalo do 1º trimestre, quando ainda não prevalecia a tributação com o IOF de 6%, podem ter prazos vincendos mesmo neste ano, assim, ao considerarmos o mesmo com a estabilidade de um IED poderemos ser surpreendidos com um volume de saída ainda neste ano, redutor do ingresso apontado até o momento, que deixará de confirmar os números que vêm sendo propagados e enaltecidos pelas autoridades.
Aliás, entendemos que esta prática classificatória para efeitos estatísticos precisa ser revisada pelo BC, pois já faz muitos anos que as empresas multinacionais deixaram de praticar esta opção de investimento disfarçado, que decorria da insegurança em relação ao risco político do país, e que lhes permitia retornar os recursos “emprestados” e remunerados com juros, houvesse lucro ou não na atividade.
O dólar continua com o seu preço combalido e contido, principalmente por posicionamentos no mercado de derivativos, que vem se mantendo com saldos líquidos próximos da estabilidade, o que, como temos salientado, favorece o governo no controle das pressões inflacionárias de forma complementar à taxa SELIC.
Não vislumbramos mudança no contexto atual de preço da moeda americana.
Contudo, em perspectiva, este comportamento inerte poderá ser ligeiramente pressionado por eventuais elevações de taxas de juros no mercado europeu, quem sabe também nos Estados Unidos, que poderão motivar os investidores a “trocar de ares”, o que pressionaria a demanda e, a provável – não se conhece a planilha de prazos – ocorrência de vencimentos dos empréstimos de curto prazo ingressados no país ao longo do 1º trimestre.
A alta da SELIC poderá fomentar o fluxo de investimentos para os títulos brasileiros, porém não temos expectativa favorável quanto à recuperação da BOVESPA num cenário que sugere perda de atividade econômica do país e, pelo quadro dos países desenvolvidos e China, uma queda nos preços das “commodities”.
Os investidores estrangeiros, dos quais a BOVESPA é muito dependente, estão comprando à vista, mas estão aumentando substantivamente sua posição “vendida” futura que atingiu pouco mais de 92.000 contratos na última segunda feira, evidenciando não acreditar em recuperação, muito pelo contrário.
O fluxo cambial de maio fechou positivo em US 5,256 Bi, com destaque para o fluxo comercial positivo que atingiu US$ 7,263 Bi, compensando o fluxo financeiro negativo de US$ 2,007 Bi. O BC retirou do mercado de câmbio físico US$ 4,272 Bi com seus leilões de compra. Os bancos reduziram suas posições vendidas de US$ 11,731 para US$ 9,301 Bi.