Análise do Mercado – 06/07/2011

Inegavelmente, há “perigo na esquina” para os “hedge funds” que estão apostando demasiadamente na apreciação do real com uma posição “líquida” vendida da ordem de US$ 23,1 Bi, e que exacerbaram, enquanto isto foi mais fácil, na depreciação do…

Inegavelmente, há “perigo na esquina” para os “hedge funds” que estão apostando demasiadamente na apreciação do real com uma posição “líquida” vendida da ordem de US$ 23,1 Bi, e que exacerbaram, enquanto isto foi mais fácil, na depreciação do preço da moeda americana.

Tudo indica que impondo uma apreciação ao real acima do que seria razoável, auto-colocaram-se num “corner”, visto que a liquidez praticamente desapareceu nos parâmetros de preços a que foi conduzido o dólar, portanto, inviabilizando a reversão das posições especulativas, dada a inexistência de oferta, e, portanto, inviabilizando também a realização do lucro.

A nova formulação e horário de apuração da taxa PTax, a partir do últímo dia 1º, neutralizou os movimentos de giro no interbancário com o objetivo de manipulação e artificialização desta taxa referencial, e, isto impacta diretamente no mercado de derivativos, que normalmente é o gerador da liquidez para a realização das operações casadas com o mercado físico.

Se observarmos, a posição líquida vendida dos “hedge funds” vem se mantendo praticamente inalterada desde o dia 1º, quando ainda conseguiram aumentá-las, o que deixa evidente que a liquidez é muito baixa, e isto também se pontifica no volumes de giro do interbancário, que sofreram significativa queda desde aquela data.

Não há como ignorar que a manutenção do real apreciado frente ao dólar, até um certo parâmetro em torno de R$ 1,60, atende interesses presentes do governo nas suas estratégias de busca de convergência da taxa inflacionária para a proximidade da meta.

É fruto de pura especulação! Nesta semana tivemos oportunidade de tecer as seguintes considerações, que nos permitiremos repetir e reproduzir face aos detalhes:

“O volume de captação externa no semestre atingiu US$ 30,6 Bi, porém não nos parece justo atribuir a este fato a forte apreciação do real que se verifica neste momento.

Uma análise mais detida dos números evidencia que no 1º trimestre ocorreu um fluxo cambial financeiro líquido positivo da ordem de US$ 31.3 Bi, sabidamente empréstimos externos especulativos de curto prazo, ingressados para “driblar” as medidas prudenciais do governo visando redução de liquidez e contenção do crédito com o objetivo de atingir as pressões inflacionárias advindas do consumo e que motivaram a elevação do IOF para 6% e extensão de incidência para os empréstimos até 2 anos.

Contudo, no 2º trimestre o fluxo cambial financeiro líquido foi negativo em todos os 3 meses, totalizando US$ 6,6 Bi, portanto, deixando evidente que há uma precipitação ao atribuir-se ao fluxo cambial financeiro a causa da apreciação do real até o extremo de R$ 1,55.

O que viabilizou a manutenção de saldo líquido positivo do fluxo cambial no 2º trimestre foram os saldos positivos comerciais de US 3,3 Bi em abril e US$ 7,2 Bi em maio, que contudo até o último dia 24 não se repetiam em junho, o que determina que o fluxo cambial esteja negativo no mês passado.

Nos meses de abril e maio houve uma melhora de preço da moeda americana repercutindo a queda no fluxo financeiro e que ensejou oportunidade para os exportadores realizarem suas ofertas, arbitrarem fortemente utilizando a alta taxa de juro sobre dólar no cupom cambial-DDI, respondendo então, pelo fluxo cambial positivo naqueles meses.

Para verificarmos como a tese por si só não se sustenta, tivemos junho repetindo o fluxo cambial financeiro negativo, a exemplo de abril e maio, e, neste mês um fluxo cambial comercial positivo bastante discreto, o que determina que o mês de junho tenha um fluxo negativo total de US$ 2,3 Bi até 24, fora o fato de o BC ter retirado adicionais US$ 2,0 Bi com seus leilões de compra, o que totaliza um negativo de US$ 4,3 Bi.

Toda a tese assentada sob o fundamento de que é o fluxo que está determinando a apreciação do real não se sustenta, vira retórica viciada de quem não examina os números do fluxo, pois afinal, como explicar que exatamente no mês em que consolida um fluxo negativo o preço da moeda americana sofre a sua maior depreciação?”

O Ministro Mantega que voltou a repetir-se e com isto ganhar manchetes internacionais e nacionais, voltando a reclamar da existência, em sua visão, de uma “guerra cambial”, não se sustenta no caso brasileiro, já que o saldo remanescente de liquidez “deixada” pelo BC no mercado físico em 2011 de próximos US$ 3,0 Bi, só serviu para os bancos reduzirem suas posições “vendidas” no mercado físico de US$ 17,0 Bi na virada do ano para atuais US$ 14,0 Bi.

O que incomoda de fato ao Ministro Mantega e tem sido o objetivo de suas medidas é a necessidade do BC ter que continuar aumentando as reservas cambiais brasileiras, já desnecessário e com recursos de má qualidade ingressados no país, tendo em vista que já não sensibilizam o nosso conceito de risco e nem os parâmetros de juros que são oferecidos ao país, mas oneram o erário face a excepcional diferença do juro interno brasileiro e o juro externo.

As medidas adotadas até o momento neutralizaram parte do fluxo que poderia ter ocorrido, mas é uma irrealidade afirmar-se que sem elas o dólar estaria com preço mais baixo do que o presente, pois contiveram parte do fluxo especulativo e aliviaram a necessidade do BC de comprar com os seus leilões mais divisas para as reservas cambiais. Esta é a realidade.

O problema do Brasil é praticar juros totalmente incompatíveis com o seu conceito de risco e situação econômica e fiscal, algo inexplicável, isto atrai capitais especulativos visíveis ou disfarçados, que embora neutralizado pelas compras do BC, criam o “sentimento” de que o real tende a valorização, o que não desgosta o governo por ajudar na contenção da pressão inflacionária, e cria este viés de apreciação do real que estimula a especulação.

Como decorrência o Brasil tem múltiplas oportunidades para especulação, que são fartamente exploradas por multi modelos de arbitragens.

Se admitirmos que alguns países praticam e fomentam “guerra cambial”, e desvalorizam suas moedas, teríamos que ironicamente considerar que o Brasil pratica e fomenta “guerra cambial reversa”, pois as causas efetivas da apreciação do real estão, basicamente, por aqui mesmo com predominância sobre os fatores externos, a partir do juro elevadíssimo.

Ao invés de ficar declarando, operando verbalmente, que poderá utilizar o seu arsenal, o Ministro deveria estar enaltecendo a mudança no cálculo da PTax por parte do BC como um passo correto no sentido de neutralizar a manipulação da formação do preço da moeda americana. Contudo, caso tencione tomar alguma medida, que certamente poderá ter repercussões como barreira na entrada de divisas de má qualidade aliviando a necessidade do BC ter que comprar mais, porém sem efeitos na formação da taxa cambial, deverá baixá-las e comentar posteriormente.

Por enquanto, entendemos que o BC não deva ofertar “swaps cambiais reversos” ao mercado futuro, forçando a sua perda de liquidez no cupom cambial, pois com a alta do juro em dólar os exportadores é que promoverão a liquidez no mercado físico.

No entanto, dada a dimensão do posicionamento vendido dos “hedge funds” continuará persistindo o empenho dos mesmos para evitar depreciação do real, o que resultará em comportamento volátil no mercado físico.

No cenário externo não há alivio. A China elevou o juro em 0,25%, elevando-o sobre os depósitos para 3,5% e empréstimos 6,56%, e este fato sugere controle de inflação e possível retração na atividade econômica, o que é bastante para tornar o humor negativo nos mercados globais.

A China desde outubro elevou o juro por 5 vezes e aumentou os depósitos compulsórios, e vem se esforçando para conter desaceleração nas suas exportações visando a manutenção dos preços, mas mesmo assim projeta-se que a inflação atingirá 6% em junho.

A situação da Grécia segue mal resolvida; a Moody´s rebaixou o “rating” de Portugal e parece ser uma questão de tempo para que todos os periféricos sejam reavaliados para pior. Os Estados Unidos revelaram alguns indicadores melhores, mas a economia precisa gerar, além das recolocações, 150 mil vagas mensais somente para acompanhar o ritmo de crescimento populacional e não se revela apta para tanto.

Enfim, há um claro sentimento de que tudo caminha contra as expectativas, e, então os mercados criam “fantasmas” e permanecem voláteis.

 

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