Não é postura nova, visto ter sido claramente perceptível o afastamento da política do governo da busca efetiva de valorização do dólar, propagada ao início da gestão, mas o fato novo é os responsáveis pela gestão da política econômica do país…
Não é postura nova, visto ter sido claramente perceptível o afastamento da política do governo da busca efetiva de valorização do dólar, propagada ao início da gestão, mas o fato novo é os responsáveis pela gestão da política econômica do país admitirem, agora, esta realidade presente.
Difícil prescindir do real apreciado como elemento potencialmente contingenciador das pressões inflacionárias presentes, ante a resposta lenta da curva inflacionária às medidas prudenciais inplantados a partir de dezembro passado.
É bem verdade que o “drible” dado pelo mercado financeiro na elevação dos depósitos compulsórios, ao internar rapidamente algo como US$ 31,0 Bi no 1º trimestre em empréstimos externos de curto prazo, conspirou quanto aos objetivos de provocar a contração da oferta de crédito e consumo no mercado interno, que desta forma acabou por manter a atividade econômica mais aquecida do que desejável pelo governo.
Tardiamente, ao que parece, o governo então agiu para conter o fluxo de recursos para o mercado financeiro por este “nicho”, estabelecendo o IOF de 6%, inicialmente para os empréstimos até 1 ano, e, posteriormente, estendendo-o até 2 anos.
Ficou evidente que todo o “arsenal” propagado pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e que provocou muitos “ruídos” e a enganosa impressão de que poderia apreciar o preço da moeda americana, em realidade não atingiu o “cerne” da formação do preço do mercado de câmbio, impactando é verdade na intensidade do fluxo cambial, porém este fato praticamente somente aliviou a pressão sobre o caixa do BC que precisou comprar menos, e assim pode conter a elevação abrupta das reservas cambiais brasileiras que ocorreria, impondo na contra-ponta ao erário a expansão dos custos de carregamento.
É preciso entender que o BC absorve a totalidade e um pouco mais dos valores líquidos do fluxo cambial, não o deixando em poder do mercado de câmbio, com isto neutraliza o impacto da oferta, mas, em contrapartida, ao retirar do mercado volumes maiores do que o saldo líquido do fluxo cambial, estimula e fomenta os bancos a operar com posições “vendidas” e estas sim, têm o poder de determinar a apreciação do real, e, não o fluxo cambial em si.
Esta é a estratégia adotada pelo governo para manter o real apreciado, mas publicamente propaga que é o fluxo cambial que determina a apreciação, o que seria verdadeiro se fosse deixado no mercado de câmbio pressionando a oferta, fazendo-a excessiva, mas não é o que ocorre.
A retomada desta estratégia, após ter constatado a inviabilidade de impor normativamente uma depreciação do real, foi por nós destacada há já algum tempo, ao mesmo tempo em que salientamos que se tornaria inevitável a necessidade de concessão de estímulos ao setor industrial não agrícola, para que, num ambiente de queda de atividade econômica do país, possa recompor a competitividade para suas exportações.
Se quiser manter a indústria com atividade econômica forte, estimulada a manter investimentos, gerando emprego e renda, é absolutamente inevitável que o governo faça concessões fortes para viabilizá-las como exportadoras.
Portanto, nos parece cada vez mais evidente que uma valorização do dólar não é desejável pelo governo nesta fase em que a inflação ainda está aquecida e com viés de alta.
O dólar depreciado poupa o governo de elevações mais fortes na SELIC, podendo optar ainda por medidas prudenciais adicionais que se revelam eficazes quando afetam prazos de financiamentos de forma mais intensa do que a elevação do juro.
Os dados do fluxo cambial liquidado até 29 de abril, portanto, composto por operações predominantemente realizadas até 27, revelou-se positivo em US$ 1,541 Bi, resgatado de uma tendência firme de ter sido negativo por surpreendentes US$ 5,190 Bi de exportações registradas nos últimos 3 dias. O fluxo comercial então fechou o mês positivo em US$ 3,310 Bi enquanto o fluxo financeiro ficou negativo em US$ 1,769 Bi. Embora com um fluxo positivo líquido de tão somente US$ 1,541 Bi, o BC retirou do mercado com seus leilões de compra US$ 5,845 Bi, fomentando assim o crescimento das posições “vendidas” dos bancos de US$ 8,8 Bi em março para US$ 11,7 Bi em abril.
Esta dinâmica é o “certificado” de que a manutenção do real apreciado é objetivo de governo.
Porém, os bancos, “vendidos” US$ 11,7 Bi no físico, estavam “comprados” na mesma data no mercado de cupom cambial-DDI e dólar futuro pouco acima de US$ 12,0 Bi, enquanto os “hedge funds” apostavam fortemente a favor do real com uma posição “vendida” de cupom cambial-DDI e de dólar futuro no entorno de US$ 17,0 Bi.
Os “hedge funds” mantêm suas apostas a favor do real, convictos de que esta é uma tendência perene no país por ser o real apreciado um instrumento de controle inflacionário desde o governo passado e assumido também por este, registrando ontem posição “vendida” líquida de US$ 10,4 Bi em cupom cambial-DDI e US$ 3,8 Bi em dólar futuro, totalizando US$ 14,2 Bi.
Com a forte queda da liquidez do mercado físico pela retração dos ingressos externos, o mercado de cupom cambial-DDI fica pressionado com a taxa de juros sobre dólar sendo excessivamente elevada e isto, naturalmente, provoca a alta da taxa do dólar e, certamente, provoca desconforto aos “hedge funds”, que contam sempre com a possibilidade do BC ofertar “swaps cambiais reversos”, que retira a pressão que eleva a taxa de juro decorrente nos cupons.
Só que, até o momento, o BC não anunciou oferta de “swaps cambiais reversos” para impactar no mercado de cupom cambial-DDI, e isto pressiona a taxa do mercado físico, o que é bom para os exportadores brasileiros que assim podem vender os seus dólares a um preço melhor e mesmo internar parte dos mais de US$. 20,0 Bi que possuem já liquidados no exterior.
Certamente, esta pressão sobre o preço da moeda americana deixa claro para os “hedge funds” que há risco em especular a favor do real, e o risco é sempre um fator desestimulador, por isso o real está perdendo terreno no cenário global como moeda de escolha para a especulação, que já a fez a 2ª em giro, abrindo espaço agora para outras moedas emergentes.
Contudo, acreditamos que em algum momento o BC ofertará os “swaps cambiais reversos” e a apreciação do real será retomada, pois não convém ao governo elevar o preço do dólar agora com as pressões inflacionárias presentes, e os “swaps cambiais reversos” têm a característica de corrigir a distorção da taxa de juro sobre dólares no país, e, na margem, garantem um viés de apreciação do real quando de seus vencimentos.