Análise do Mercado – 05/01/2011

O Ministro Mantega criou um fato, atraiu as atenções dos “players” do mercado de câmbio, fomentou expectativas, preocupou os especuladores que logo colocaram o preço da moeda americana em alta, mas, por fim, não anunciou nada de novo, a…

O Ministro Mantega criou um fato, atraiu as atenções dos “players” do mercado de câmbio, fomentou expectativas, preocupou os especuladores que logo colocaram o preço da moeda americana em alta, mas, por fim, não anunciou nada de novo, a não ser ratificar para todos, de forma objetiva, o que já vinha sinalizando, que a inflação vai ser combatida a partir do controle de suas causas mais evidentes e, não mais, focando só suas consequências, como até então vinha sendo, o que implicava, parte não enunciada pelo Ministro, no uso sistêmico de juro elevado e real apreciado.

Fiel ao estilo, reafirmou que o governo dispõe de inúmeros instrumentos de intervenção no câmbio, não os nominando, até porque não cabível. Porém, no nosso entender procurou colocar “sombras de dúvidas” nos “players” do mercado de câmbio, certo de que “especuladores” não convivem bem com incertezas e imprevisibilidades.

Enfim, num momento em que o real fortaleceu sua apreciação ante a moeda americana, o Ministro deve ter sentido que precisava “quebrar” o silêncio que poderia deixar transparecer que o governo estivesse desatento ao fato.

E além da verdade, entendemos que esta apreciação mais acentuada “atende” um interesse momentâneo do governo, já que se antepõe as pressões inflacionárias presentes, de vez que não houve elevação da SELIC em dezembro, e, a rigor, não é algo tão desejado pelo governo para que ocorra em janeiro como “todo mundo” está esperando ansiosamente, pois pode o governo avocar o “benefício da dúvida” a respeito da efetividade das medidas prudenciais adotadas em dezembro como contracionistas das pressões inflacionárias. Certamente, se conseguir construir um bom argumento protelará a alta na próxima reunião do COPOM.

Temos abordado este tema de mudança da matriz da política econômica quase que cotidianamente, especialmente na mudança de atitude do novo governo na condução da política monetária, juros e câmbio, por termos entendido esta sinalização desde as falas iniciais do Ministro Mantega, tão logo definida a sua continuidade à frente da Fazenda.

O mercado financeiro como um todo está como São Tomé, “ver para crer”, já que o propagador do anúncio da mudança para gastar menos e o mesmo que até a pouco orquestrava o gastar mais, defendendo que o excessivo gasto governamental não impactava na inflação.

Por isto, embora não tenha anunciado nenhum normativo novo, entendemos que tenha sido importante a atitude do Ministro, já que fortaleceu e reafirmou o propósito do governo de alterar a matriz da estratégia de combate a inflação e o seu efetivo engajamento, como principal personagem.

Ademais, temos destacado o esgotamento do perfil de ação do antigo governo na busca do crescimento do PIB, visto que insustentável a prática continuada e o crescimento até então obtido.

Juros elevados e real apreciado já não são suportáveis pela economia brasileira, e, se persistido colocaria o país num lento retrocesso e perda de credibilidade, a partir da deterioração fiscal.

A nova matriz retira o excessivo estimulo do consumo interno através o crédito abundante e com baixa seletividade, absolutamente necessário para coibir “bolhas” inevitáveis pela inadimplência, especialmente numa sociedade com acesso recente ao consumo e ao crédito e que concentra expressiva demanda reprimida. Tenciona implementar rigor fiscal cortando gastos, revertendo aquele ambiente de fartura de “benesses” com afastamento da preocupação com a poupança e com os investimentos de infraestrutura de sustentação ao crescimento.

Gastos governamentais e consumo interno tendem a ser realinhados melhor a nossa realidade, visto que “sacar sobre o futuro” é perigoso e comprometedor quando não há planejamento.

Agindo sobre as causas de pressões inflacionárias que pode administrar, o governo vislumbra a possibilidade, que é efetiva se realizada com rigor, da redução do juro sem a utilização sistêmica da mão única aparente do juro e não tão aparente do real apreciado.

Liberando a formação do preço da moeda americana das amarras que o colocam a serviço da contenção da inflação, o mercado poderá estabelecê-lo de forma mais equilibrada, nada explosivo, mas em torno de R$ 1,85 a R$ 1,90, e certamente com alguma desoneração/incentivo governamental nosso setor industrial manufatureiro poderá empenhar-se na recuperação da parcela perdida de participação no mercado externo.

O país pode crescer a partir da redução dos seus custos e isto passa necessariamente pela redução do juro, que será possível com a redução dos gastos governamentais. Mais superavit, menor endividamento e menores despesas de custeio, inclusive das nossas reservas cambiais.

É imperativo que se realinhe o país, eliminando suas assimetrias, compatibilizando-o com o conceito de “investment grade” e focando o crescimento sustentável. Os problemas que se antepõe ao Brasil grande estão aqui, internamente, se conseguirmos superá-los o crescimento sustentável tornar-se-á realidade.

Os paradigmas precisam ser modificados.

Certo é que quanto mais rápido o governo poder sinalizar a sua determinação em promover a mudança de atitudes, maior será a sua capacidade de agregar credibilidade ao propósito.

Mas, como já salientamos, entendemos que o real apreciado atende uma necessidade do governo para controle da inflação até que se tenha mais efetividade das mudanças em perspectiva. E isto, mesmo a contragosto do Ministro Mantega e seus pares, será suportado por inevitável.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress