O momento ainda sugere muita observação e poucas conclusões, mas acentua-se a percepção de que o rigor no controle inflacionário será persistente, embora seja perceptível uma preocupação mais acentuada em controlar as causas e não, tão…
O momento ainda sugere muita observação e poucas conclusões, mas acentua-se a percepção de que o rigor no controle inflacionário será persistente, embora seja perceptível uma preocupação mais acentuada em controlar as causas e não, tão somente, combater as consequências, o que implica em mudanças relevantes na gestão, com repercussões que poderão ser altamente relevantes objetivando a sustentabilidade do crescimento e não somente o crescimento como foi linha prevalecente no antigo governo.
“Falas” diversas apontam para maior rigor fiscal, o que passa necessariamente pela redução e melhor qualificação do gasto público, focando mais acentuadamente em termos efetivos os investimentos na infraestrutura e até privatizando iniciativas inadiáveis que poderão ser melhor dinamizadas por setores privados. Mencionam-se também as reformas, imprescindíveis mas sempre postergadas pelos governos anteriores que se restringiram a efetivar “remendos” e não amplos processos revisionais. Desonerações, estímulos, etc., até a criação do BNDES-Exim, uma idéia antiga.
Enfim, são menções ainda rudimentares do que pode ser o perfil alinhado do novo governo, que, sem perder o sentido continuísta evidente, precisará sem dúvida preservar os objetivos finais, ainda que menos eloquentes, utilizando uma nova matriz de gestão de política monetária, fiscal, câmbio, etc., para que o crescimento seja preservado, porém ancorado em fundamentos que garantam a sustentabilidade.
Não será tarefa fácil já que implicará em redução de “benesses” e efetivação de “apertos” inevitáveis, o que gera opositores, mas não nos parece possível o país suportar a dinâmica de gastos públicos excessivos e de má qualidade, baixo rigor fiscal e consumo interno alavancado por excesso de crédito com riscos de “bolhas” por inadimplência, fatores que exercem pressões relevantes inflacionárias, controladas, já com relativo insucesso em 2010, com juros elevados e taxa cambial deprimida.
Nota-se certo “ufanismo” ao destacar-se que as nossas exportações, a despeito da debilidade da taxa cambial, cresceram 31,4% atingindo o “recorde” de US$ 201,9 Bi. Porém, não se observa o quanto poderíamos ter exportado com um taxa cambial menos manipulada, portanto mais equilibrada. Exportamos 44,6% em produtos básicos, com baixíssimo valor agregado, voltando a prevalecer o “neo-colonialismo” nesta nossa atividade, enquanto somente 39,4% de manufaturados que é grande gerador de emprego e renda.
Em contrapartida, estimuladas pelo real apreciado, as importações cresceram 41,6% atingindo a US$ 181,6 Bi. Não se critica a importação de bens de capitais ou insumos, nem mesmo o volume de produtos acabados com conotação de complementaridade a produção nacional, mas o fato é que ocorreu uma “invasão” de produtos em substituição ao produto nacional e um sem número de produtos não essenciais.
O saldo da balança comercial atingiu superávit de US$ 20,3 Bi, após o “surpreendente” superávit de US$ 5,3 Bi em dezembro, resultado que por si só foi muito ruim, mas que teria sido desastroso se tivesse sido confirmada a projeção de US$ 15,0 Bi.
O câmbio precisa ser “liberado” das amarras que o fizeram coadjuvante da taxa de juro no controle da inflação, para com um preço mais equilibrado de forma natural, algo como R$ 1,85, possa viabilizar a retomada da exportação manufatureira brasileira, que contudo, precisará ser beneficiada por desonerações por parte do governo.
Para um cenário que indica probabilidade de déficit em transações correntes para este ano em torno de US$ 70,0 Bi, a nossa balança comercial precisará sofrer forte otimização.
As reservas cambiais cresceram em 2010 US$ 49,521 Bi totalizando no conceito de liquidez internacional US$ 288,575 Bi. Muito ou pouco é uma questão de particularidades de análise, mas o fato concreto e preocupante é que o custo de carregamento atingiu em 2010, segundo dados compilados por áreas especializadas, algo como US$ 24,0 Bi, consequência direta da elevada taxa de juro interna versus a taxa de juro externa, visto que não temos poupança interna para tanto, o que implica em captar reais a SELIC e manter as divisas aplicadas as taxas de juro internacionais. Entre os emergentes, o Brasil é o país com o maior custo de carregamento de suas reservas por praticar a taxa de juro líder no mundo.
É uma cifra extremamente relevante, um custo muito elevado, isto sem considerarmos ainda, que com a apreciação do real há um custo adicional de perda de valor do estoque face à dívida contraída para sua constituição.
Como se pode notar é absolutamente inviável a continuidade do “status quo” atual no juro e no câmbio.
Por isso, é fundamental que seja alterada a matriz das estratégias da política econômica, passando a focar a gestão das causas e não o combate das consequências.
O Brasil conceituado como “investment grade”, que quer ser grande em termos efetivos, precisa ser atraente por sua pujança e oportunidade de negócios, catalisando investimentos estrangeiros de qualidade, e afastar-se do conceito de “oásis” financeiro, altamente atrativo para capitais especulativos de todas as origens.
Isto passa por rigor fiscal, corte no juro absolutamente desalinhado com o seu conceito de risco a nível internacional e taxa cambial equilibrada.
É possível? Acreditamos que sim, sendo necessário o rompimento da matriz viciada de controle da inflação.
É preciso aferir-se os efeitos contingenciadores das medidas prudenciais adotadas pelo governo em dezembro, cuja efetividade não deve ser menosprezada, que poderão até vir a ser complementadas por novas na mesma linha.
Temos distorções internas que deverão contribuir para as pressões neste início do ano, pois com um IPCA próximo de 6,0% temos um IGP-M ajustando serviços a 11,32%, com grande concentração ao início do ano.
Um grande desafio para debate continua sendo a necessidade de ter-se um único índice inflacionário para todos os reajustes no país.
Do cenário externo há pressões sobre o item alimentos, que podem fragilizar-se com a melhora da economia americana que desestimula a especulação com as “commodities”, mas há pressão pontual sobre os preços do petróleo provocada pelo severo inverno no hemisfério norte.
Mas, por enquanto, é preciso dar um tempo para que ocorra a mudança que vem sendo propagada, enquanto isto, mesmo contrariando a vontade explicita do Ministro Mantega, o real precisará continuar apreciado em excesso para ser o antídoto mais imediato e eficaz no confronto das pressões inflacionárias presentes.