Análise do Mercado – 04/08/2011

O fluxo cambial divulgado ontem, relativo ao mês de julho, apontou expressivo saldo positivo de US$ 15,825 Bi, o que, de pronto, provoca notícias e manchetes efusivas, e se faz propagar com adjetivações como “enxurrada de dólares”, etc…

O fluxo cambial divulgado ontem, relativo ao mês de julho, apontou expressivo saldo positivo de US$ 15,825 Bi, o que, de pronto, provoca notícias e manchetes efusivas, e se faz propagar com adjetivações como “enxurrada de dólares”, etc.

Mas é preciso verificar mais detidamente as origens deste excelente número para então se ter a efetiva percepção para proceder a análise.

Foram US$ 6,25 Bi de origem comercial e US$ 9,57 Bi de origem financeira, totalizando então os US$ 15,825 Bi, dos quais o BC no período retirou do mercado com seus leilões de compras o montante de US$ 6,63 Bi.

Nos US$ 9,57 Bi de saldo financeiro, há um ingresso pontual em 11 de julho, data do início da semana de ajuste das posições “vendidas” dos bancos ao novo limite, isento de recolhimento de compulsório, de US$ 1,0 Bi por instituição financeira, em torno de US$ 7,0 Bi, ocorrida à margem dos negócios do mercado, nominada como uma transação “direta”.

Nos US$ 6,25 Bi de saldo comercial, houve ingressos de dólares de exportações liquidadas e que vinham sendo mantidos no exterior da ordem de US$ 5,1 Bi, que promoveu redução do estoque que era de US$ 21,3 para US$ 16,2 Bi, exatamente quando anunciadas as medidas atingindo o mercado de derivativos.

Os bancos reduziram suas posições “vendidas” de US$ 14,69 Bi em junho para US$ 6,30 Bi em julho.

É possível identificar sinergia entre o movimento de ingresso dos dólares estocados pelos exportadores no exterior, sem motivação de elevação do preço da moeda americana, com o movimento de redução das posições “vendidas” dos bancos.

O contexto dá racionalidade à ilação de que os exportadores, com os seus saldos externos de dólares mantidos no exterior, poderiam estar mantendo operações estruturadas com os bancos para que os dólares não ingressados se prestassem a ser o “funding” de sustentação às posições vendidas dos bancos, que, por sua vez, viabilizavam a captação de reais no mercado interno e eram operacionalizados nos vários segmentos do mercado financeiro, com ênfase no câmbio e derivativos.

Promovida a retração obrigatória das posições “vendidas” dos bancos, parcela deste “funding” externo perdeu a finalidade, provocando então que os exportadores os imigrassem para o mercado local.

Esta possibilidade se fortalece ao verificarmos que os volumes preponderantes de exportações não se deu sobre a forma de operações com ACC´s ou Pagamentos Antecipados, mas sim como “outras” que sugere fossem dólares de exportações já liquidadas no exterior.

Como se pode deparar, o número do saldo positivo do fluxo cambial é expressivo, mas considerando-se as “atipicidades” ocorridas, deixa de ser tão relevante como fato pontual.

O cenário tenso e incerto instalado mais fortemente a nível global, a partir deste mês de agosto, sugere atenção, pois não se pode descartar uma intensificação de saída de recursos externos do país aplicados em renda variável, pois tudo sugere aplicações com menor risco e forte propensão à manutenção de liquidez em caixa por parte dos investidores globais.

Pelos sinais emitidos pelo comportamento da BOVESPA este movimento já pode estar em curso, e, pode se acentuar o “sell off” presente.

No contexto considerado em nossas análises não descartamos também que ocorra saída dos estrangeiros dos papéis de renda fixa, já que nestes momentos a opção deixa de ser a rentabilidade, mas sim, a mitigação de riscos e preservação de liquidez, e, por outro lado ocorra retração do fluxo de IED´s para o Brasil.

Certamente o acesso ao crédito externo será onerado em seus custos e isto pode ter reflexos na disponibilidade de recursos para o crédito interno, levando o sistema financeiro a maior rigor seletivo e elevação de suas taxas.

O preço da moeda americana tenderá a ser pressionado, levando o real à depreciação nesta fase de ajustes, como consequência natural.

Parece-nos que cada vez mais assumem características positivas as medidas recentes das autoridades monetárias reduzindo as posições “vendidas” dos bancos e buscando inviabilizar os movimentos especulativos no mercado de derivativos, com a introdução de tributo do IOF com a flexibilidade de 0 a 25%.

Prematura a conclusão de que as medidas não impactaram no mercado e na formação do preço, pois o mercado perdeu a liquidez e os “players” com posições especulativas “vendidas” líquidas estão praticamente “sentados” em cima de seus posicionamentos, pois se fizerem algum movimento para zerarem vão promover acentuada depreciação do real. Este fato, provoca que ainda não tenha havido impacto mais sustentável no preço da moeda americana.

Contudo, é importante salientar que as medidas não buscam artificializar o preço da moeda americana no sentido oposto, depreciando o real, mas sim descontaminar a formação do preço da submissão à especulação pró-real predominante no mercado de derivativos.

No cenário global o ambiente é de profundo desalento, parecendo ocorrer um retrocesso forte e mais intenso do que se poderia projetar, com intensidade que chega a surpreender.

As bolsas de uma forma generalizada revelam a ocorrência de “sell-off” face às pífias perspectivas de recuperação das economias mais desenvolvidas, deixando evidente a opção pela liquidez por parte dos investidores.

O BCE decidiu manter a taxa de juro em 1,5%, com forte expectativa concentrada na fala do Presidente Jean Claude Trichet, pois os problemas de natureza fiscal dos países integrantes da eurozona estão se agravando e tomando proporções preocupantes no mercado internacional. Acentuam-se as preocupações sobre a Espanha e a Itália, economias de maior relevância no contexto europeu, deixando evidente que o contágio da crise fiscal tende a envolver a quase totalidade dos países da comunidade.

O Banco Central da Suíça teve que defender o franco-suíço de excessiva valorização pelo deslocamento de recursos mundiais em busca de segurança, reduziu o juro e elevou os depósitos obrigatórios dos bancos.

O Banco Central do Japão defendeu o yen vendendo 1 trilhão de yens, equivalente a US$ 12,6 Bi, e acabou provocando uma queda de 4% do yen frente ao dólar.

Ocorre forte demanda sobre os T-Bills americanos, em especial 10 anos que vêm se valorizando rapidamente e fechando a curva de juro “yeld” que aponta rentabilidade de 2,56%, o que tem em contrapartida na valorização do US$ frente ao Euro de já significativos 1,21% cotado a US$ 1,4158. O ouro futuro entrega dezembro sustenta alta de 1% cotado a US$ 1.683,50.

Enfim, está claro o movimento em busca de ativos de menor risco e de liquidez, e este fato atinge diretamente, também, os mercados emergentes que passam a registrar crescente movimento de saída de investidores estrangeiros.

Toda atenção agora se concentra sobre os dados do “pay roll” americano a serem divulgados amanhã, que se vier com indicadores negativos poderá acentuar em muito o péssimo humor predominante.

Os níveis de riscos contidos nos mercados estão se acentuando de forma consistente dia após dia, fortalecendo os posicionamentos de precaução por parte dos investidores

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