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Análise do Mercado – 03/08/2011

Acordo americano firmado, o diagnóstico é que é ruim, mas poderia ser bem pior sem ele, e fica um sentimento de que as economias desenvolvidas estão de mal a pior, “from bad to worse”, e as perspectivas de recuperação só podem ser consideradas…

Acordo americano firmado, o diagnóstico é que é ruim, mas poderia ser bem pior sem ele, e fica um sentimento de que as economias desenvolvidas estão de mal a pior, “from bad to worse”, e as perspectivas de recuperação só podem ser consideradas numa visão de longo prazo, parecendo procedente as insinuações que tendem ao perfil duradouro de crise à semelhança com o Japão.

A solução americana evita o caos imediato, mas não resolve a questão da dívida americana que assume proporções elevadíssimas em relação ao PIB, sugerindo que, em perspectiva, o país deverá necessariamente enfrentar uma dura reforma fiscal.

A elevação do teto do endividamento em US$ 2,1 Tri o que representará US$ 16,4 Tri, ante pleito de US$ 4,0 Bi do governo Obama, a necessidade de corte de gastos da ordem de US$ 900,0 Bi imediatos e mais US$ 1,5 Tri em plano para 10 anos a ser desenvolvido por comitê bipartidário, sem a permissão de elevação dos impostos, permite tão somente uma sobrevida à crise atual, mas não proporciona fundamentos para as alusões feitas a respeito de retomada do ritmo de atividade econômica, pós-acordo, e muito menos longevidade.

Desemprego elevadíssimo com sinais de intensificação de demissões, PIB absolutamente anêmico, tendência ao consumo da população americana em queda, e uma situação que impõe fortes limitações às ações do governo, não permitem otimismos quanto à revitalização sustentável da economia americana.

As discussões em torno do acordo deixaram a “nu” toda a complicada situação americana, que não sugere soluções mediáticas, mas sim de longo prazo e com disciplina, que podem afetar a condição americana de “âncora” base da economia mundial.

Houve evidente desgaste de imagem americana deixando evidente a grande dificuldade política para a gestão do endividamento do país, o que deve ser foco nos debates das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos, no sentido de que o Presidente precisa ter maioria na Câmara e no Senado.

As agências de rating demonstraram sensatez, provavelmente para não agravar mais o quadro, visto que um “downgrade” nos Estados Unidos poderia alterar a arquitetura do mercado financeiro mundial, criando volatilidade intensa.

Por outro lado, a situação da Europa não é muito diferente e pior por envolver inúmeros países com situações agravadas e difusas, que também têm na questão fiscal a enorme fragilidade, mantendo perspectivas pessimistas em relação aos países periféricos, mas também em países com economias mais relevantes, como a Itália.

O Japão continua “patinando” sem conseguir restabelecer o dinamismo de sua economia, e, ainda, agravada pelas catástrofes que afetaram seu parque industrial.

A China que já é uma realidade, não sendo mais emergente, tem ainda a fragilidade do consumo interno face à baixa renda da população, portanto, muito dependente das suas exportações altamente competitivas em decorrência do controle da artificialização do preço da sua moeda e do baixo custo de mão de obra, tornou-se grande e poderosa em reservas cambiais com as quais financia o déficit dos Estados Unidos, mas que não está pronta e nem deseja assumir o papel que os Estados Unidos vêm desempenhando no comércio mundial.

Com este cenário pouco otimista predominante é muito difícil projetar-se recuperação da economia mundial num curto prazo.

As bolsas asiáticas e europeias operam em baixa, enquanto as americanas buscam construir um movimento recuperatório após o “mergulho” de ontem. A sustentabilidade deste movimento poderá ser frágil, mesmo que ocorra sob o argumento de que os preços estejam baixos.

O dólar fragiliza-se frente ao Euro, caindo quase 1%, cotado a US$ 1,4326, o que, a rigor, não faz muito sentido, visto que a situação europeia é tão complicada ou mais do que a americana.

Os T-Bills sofreram valorização nos últimos dias, tendo fechado suas curvas de juros “yeld”, com os papéis de 10 anos tendo reduzido o rendimento até 2,62% aa, hoje abrindo a 2,63%aa.

Contudo, o ouro, refúgio habitual dos investidores mais experientes em momentos de incerteza, abriu forte cotado a US$ 1,668.10 a onça troy, alta de 1,44%.

A busca pela segurança deslocou-se para o franco suíço, que sofre forte valorização e ensejou o anúncio de medidas do seu Banco Central de redução drástica do juro, deixando muito próximo a zero e elevando os depósitos dos bancos.

Está claro que com este cenário pouco promissor as “commodities” perdem atratividade como alternativa ao dólar fragilizado.

Nossa expectativa é que será necessário um certo período para que a economia mundial revele bem suas mazelas, num ambiente já sem “fartura” de liquidez e que induza a busca pela liquidez em caixa, opção por investimentos menos arriscados, propensão a consumo menor em beneficio da poupança, etc.

Não há como os emergentes passarem ao largo deste quadro, pois certamente perderão atratividade para o direcionamento de recursos focados em rentabilidade, de certa forma para investimentos no setor produtivo dada à opção pela liquidez das grandes corporações, e, ficarem muito expostos a serem foco de venda dos países desenvolvidos e restritos para as exportações face à valorização das suas moedas. O crédito externo poderá ser menos acessível e mais oneroso, havendo reflexos no nível de crédito para consumo.

O Brasil não pode viver a ilusão de estar imune ao cenário negativo envolvendo as grandes potencias, não é uma ilha e é dependente do intercâmbio natural do mundo globalizado.

Pode ocorrer uma inversão de fluxo de recursos externos, intensificando-se o retorno ao exterior de recursos dos investidores, face à opção pela liquidez ou aplicações de menor risco.

O BC, nas normas recentes focando o mercado de câmbio e derivativos, demonstrou sensatez ao antecipar-se com medidas “travestidas” de tributárias, mas no fundo mais prudenciais e com objetivo de inviabilizar as operações de derivativos, já que seria inadequado proibir, procurando mitigar riscos, o que parece não ter sido muito bem entendido por grande parte do mercado.

Ontem, tardiamente, o governo anunciou um “pacote” para ajudar a capengante indústria brasileira no setor exportador. Projeções de renúncia fiscal destacando números dantescos, algo como R$ 24,0 Bi, mas temporárias, o que não permite planejamento estratégico de incremento das exportações por parte das empresas, que é um processo de longo prazo.

A medida mais elogiada pelas empresas, batizada como Reintegra, que concede aos produtores de bens manufaturados, a restituição do equivalente a 3% de suas exportações como compensação ao pagamento de tributos ao longo da cadeia, tem um certo “cheiro de naftalina dos anos 70”, quando foi praticada e que, canhestramente, pode ser interpretada como um “uper” indireto na taxa cambial debilitada, e que, naquela oportunidade, foi foco de denúncia a OMC, o que certamente ocorrerá de novo.

Não nos parecem medidas, até pela vigência temporária, adequadas para reativar as exportações do setor industrial não agrícola.

Acreditamos que possa efetivamente ocorrer uma relativa intensificação de saída de recursos do país, o que pode ter reflexos no preço da moeda americana, mas isto demandará alguns dias ou semanas para uma conclusão melhor, até porque é preciso verificarmos se as “commodities” sinalizam movimento de queda dos preços.

No momento, o preço do dólar deve ter comportamento volátil.

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