Exageros no mercado global?
Naturalmente ocorre, mas que há problemas há. E não são pequenos e de curto prazo. Serão necessárias medidas de gestão de médio e longo prazos, que podem…
Exageros no mercado global?
Naturalmente ocorre, mas que há problemas há. E não são pequenos e de curto prazo. Serão necessárias medidas de gestão de médio e longo prazos, que podem intensificar o roteiro para a recessão ao invés da tão focada recuperação das atividades econômicas por parte dos países tidos como desenvolvidos.
Esta é a realidade que assusta e cria inquietação.
Países e regiões reconhecidas como desenvolvidas tendem à recessão, num quadro bastante diferente de 2008, já que o endividamento está concentrado nos governos que, em grande parte, comprometeram suas políticas fiscais buscando fomentar suas economias abaladas pelas consequências da crise de 2008, que deixaram visível a fragilidade dos seus sistemas financeiros e da grande maioria das instituições.
O Congresso americano provocou um dos confrontos mais absurdos na disputa política envolvida na aprovação de um novo teto de endividamento para o país, desnudando o que faltava ser visto nas fragilidades presentes nos Estados Unidos, e, por fim “rasgaram” as lições keynisianas para situações do tipo, colocando o país num ambiente desanimador e com perspectivas remotas de recuperação sustentável da atividade econômica, sem antes transitar por uma recessão e uma séria reforma fiscal/tributária.
Hoje saíram os dados do “payroll” americano indicando que foram criados 117 mil novos postos em julho, na realidade 154 mil no setor privado e uma perda de 37 mil nos governos estaduais e municipais. Dado bem melhor do que as projeções que estavam entre 75 e 85 mil, e superiores aos meses de junho e maio. O desemprego ficou em 9,1%, porém este índice é visto de forma relativa, pois há muito subemprego considerado como emprego. Existem ainda 13,9 milhões de americanos desempregados, 44% deles desempregados a mais de 6 meses.
Foi um pequeno alento, depois de seguidos dados negativos sobre gastos dos consumidores, atividade industrial, cortes de empregos anunciados, PIB do 2º semestre, etc., etc., mas só deixou por poucos minutos a sensação de poderia melhorar o ânimo do mercado financeiro, o que não se confirmou. As bolsas retomaram o “selloff”, enquanto a relação US$/Euro se mantém estável em US$ 1,4186 e os T-Bills de 10 anos também estáveis com rentabilidade de 2,47%. O petróleo cai 0,30% na Nymex cotado a US$ 86,35 o barril e o ouro sobe 0,5% cotado a US$ 1,668.30.
A Europa e sua eurozona sofrem as consequências de ter desenvolvido a adoção de uma nova moeda entre parceiros substantivamente diferentes economicamente e o BCE deixou de estabelecer regras de monitoramento efetivo das políticas fiscais e monetárias, e, na primeira crise mais séria, 2008, foi revelada a absoluta desorganização, que agora demonstra que está mais propensa ao agravamento do que à recuperação, a despeito de todo arsenal de recursos financeiros e concessões adotadas pela comunidade, com apoio do FMI. A comunidade da eurozona deverá repensar as regras de criação da moeda Euro, para não correr o risco de comprometer sua continuidade e a unidade dos aderentes à mesma.
Já não há condições dos governos renovarem as benesses concedidas em 2008.
Parece-nos que o bem maior foi atingido: a credibilidade, e quando isto acontece, prevalecem as incertezas e negativam-se as perspectivas.
Nesta nova fase da crise internacional, os países emergentes já não estão tão vigorosos quanto em 2008, também cometeram excessos no período de bonança com o qual conviveram, e agora estão sujeitos a ajustes rigorosos para não ocorrer descontroles e retroagir nos avanços conquistados.
Como a postura dos investidores tende a busca de segurança e da liquidez, os países emergentes não passarão ilesos e deverão sofrer grande retirada de recursos de investidores estrangeiros, mesmo que revelem situação de equilíbrio e, como no caso brasileiro, rentabilidade elevada nas aplicações de renda fixa.
Os mercados de renda variável e de risco tendem a sofrer baixas, como as que estamos vendo nas principais bolsas mundiais.
No Brasil temos reflexos no mercado financeiro.
A BOVESPA, que não é representativa inconteste da economia brasileira, muito atrelada em papéis de “commodities” reflete a tendência de queda das mesmas em ambiente que sugere recessão e não crescimento, e, os papéis de consumo, por si só, já estariam menos promissores num ambiente em que a economia brasileira está se ajustando para crescer pouco mais do que 50% do ano antecedente, também tem as perspectivas afetadas. Com o agravamento do cenário externo o crédito ao consumo deverá perder intensidade, seja pela retração das captações externas, seja pelo encarecimento, seja pela seletividade natural que se intensificará por parte do sistema financeiro e, além de tudo, pela reação prudencial do sistema.
Difícil vislumbrar movimento recuperatório imediato para a Bovespa, mesmo com os preços dos papéis ficando atraentes, até porque a dependência do investidor externo é elevada, e este, tende a afastar-se do risco.
No mercado de câmbio, certamente, haverá pressões de demanda efetiva. Empresas tenderão a “limpar as gavetas” e resgatar seus passivos em moeda estrangeira, ante sinais negativos do exterior, enquanto outras, seguramente, poderão antecipar as remessas de juros sobre capital, lucros e dividendos que estavam sendo represados no pais para rentabilização e que agora irão reforçar os caixas de suas matrizes no exterior.
No mercado de derivativos onde há posicionamentos especulativos sujeitos a perdas na ocorrência de uma variação mais aguda na taxa cambial, os “players” que já vinham mantendo suas posições imutáveis desde as recentes normas do governo, tributando com IOF situações definidas na legislação e “observando”, agora poderão ser colocados a teste de resistência, pois, se agirem com precipitação, poderá impactar elevando a taxa cambial.
O Brasil poderá sofrer retração nas projeções de IED´s para este ano, pois as corporações devem preservar a liquidez de seus caixas.
Acreditamos que a moeda americana tenderá a flutuar entre R$ 1,58 a R$ 1,60 ou um pouco mais, porém sem sustentar-se acima de R$ 1,60 por ser pontual. Não vemos cenário sugestivo de especulação sobre o real, como aconteceu em 2008, apostando na sua derrocada e nem na busca do mesmo como reserva de valor, que provocaria sua valorização.
Movimentos típicos do mercado deverão determinar o comportamento da taxa cambial, podendo, contudo, ter algum reflexo de pressão maior se os “vendidos” no mercado de derivativos forçarem a reversão destes posicionamentos, o que não nos parece sensato ocorrer de imediato.