Análise do Mercado – 03/11/2010

Mais do que palavras e indicativos de linha de atitude do novo governo, o mercado financeiro precisa conhecer os nomes dos novos ocupantes do Ministério da Fazenda e do Banco Central do Brasil. O perfil de cada ocupante destes postos chave do novo…

Mais do que palavras e indicativos de linha de atitude do novo governo, o mercado financeiro precisa conhecer os nomes dos novos ocupantes do Ministério da Fazenda e do Banco Central do Brasil.

O perfil de cada ocupante destes postos chave do novo governo poderá tornar mais evidente o entendimento das recentes manifestações da Presidente Dilma Rousseff, que tem merecido entendimentos diversos por parte da imprensa.

Há comprometimentos apontados inicialmente nas falas da Presidente que sinalizam para maior rigor fiscal e responsabilidade, sugerindo padrão de governo com um conteúdo de gestão que pode ter faltado nos últimos 8 anos.

Enfim, há, neste momento, um sentimento de governo similar, sendo contudo um pouco diferente, e, se as interpretações forem corretas, para melhor.

O Brasil efetivamente grande e sustentável precisa passar por uma gestão de rigor na área fiscal, menos expansionista nos gastos e mais focado em formação de poupança e investimentos estruturais improrrogáveis, e, buscando, com base na maioria conquistada no Congresso, implementar as reformas imprescindíveis para o país.

Os gastos de governo devem crescer menos que o crescimento do PIB, para que ocorra poupança fiscal e aumento de investimentos estruturais.

O juro e o câmbio precisarão ser geridos de forma mais apropriada para um país que deseja ser efetivamente grande. Política monetária e fiscal deverá ter foco em reduzir o juro e com isto não precisar mutilar a política cambial para controlar a inflação e permitir que o equilíbrio da taxa cambial surja naturalmente.

É preciso discutir a existência de reais fundamentos determinantes de uma taxa SELIC tão elevada no país. Por que o Brasil é diferente de países semelhantes? Realidade ou crença estimulada pelos beneficiários?

Urge que o país pratique uma taxa de juro decente, não só em termos de SELIC mas em todas as linhas acessíveis a população, que hoje atingem percentuais além do conceito de agiotagem.

É preciso eliminar as maquilagens no superávit . Da mesma forma no câmbio, que por estratégias pontuais é manipulado para ficar tendente a apreciar o real e assim ser “âncora” do controle inflacionário.

No mercado de câmbio continuam prevalecendo expectativas de que novas medidas intervencionistas de parte do governo possam ocorrer, contudo, certo parece que enquanto não houver definição de nomes para o Ministério da Fazenda e do BCB nada deve acontecer, já que o momento impõe que ocorra esta sinergia entre as partes.

O BCB parece refém da estratégia com a qual deliberadamente estimulou a montagem de posições “vendidas” pelos bancos no mercado à vista focando a apreciação do real, e não há muita margem para que não permaneça no contraditório de assinar normas visando à contenção de movimentos especulativos no mercado futuro de dólar, ao mesmo tempo em que, com seus leilões de compras diários, continua estimulando a apreciação especulativa do real no mercado à vista.

O jornal Valor, em sua edição de hoje, aponta que a Dívida Externa de curto prazo do país atingiu 21,74% no final do 3º trimestre acima dos 15,63% que representava ao final do ano de 2009, ou seja um crescimento de 71%. As arbitragens de taxas de juros é que fomentaram este acréscimo de curto prazo e neste contexto, indiscutivelmente, estão os movimentos envolvendo as posições “vendidas” dos bancos no mercado à vista, pois são fontes de recursos em reais extremamente baratos que se prestam para especulações no mercado de cupom cambial e não só de cupom cambial e também para aplicação no mercado interno, o que força o viés de apreciação do real por parte dos bancos.

Como a Dívida Externa registrava ao final do 3º trimestre US$ 243,8 Bi, poderíamos, em tese, apontar que o risco de uma saída imediata e abrupta, na eventualidade de um evento negativo e importante no cenário global, é da ordem de US$ 53,0 Bi, volume bastante para fazer um “estrago” na formação do preço da moeda americana no mercado à vista, com repercussão nos demais segmentos.

Como o BCB não altera sua dinâmica nos leilões de compra diários e continua estimulando as posições “vendidas” por parte dos bancos, não há por que o mercado mudar o viés, e não acreditando na viabilização de novas medidas intervencionistas no câmbio, pelo menos até ter novos nomes para o BCB e MF, como os bancos continuam “vendidos” no mercado à vista e os estrangeiros “vendidos” no mercado futuro, o real volta a acentuar a tendência de apreciação.

Aliás, entendemos que o novo governo deveria reavaliar a colocação do BCB no rigor da responsabilidade fiscal, que não obteve apoio político nas vezes anteriores.

No exterior, Barack Obama perdeu na Câmara mas ficou com o Senado, embora com maioria menor, e as mais recentes sinalizações sugerem algo maior do que os US$ 500,0 Bi, e desta forma a moeda americana já se posicionou em depreciação ante as principais moedas do mundo.

Logo à tarde saberemos!

Mas, na medida em que o novo choque de liquidez cria otimismo para o mercado financeiro global, não promove maior entusiasmo para as perspectivas da economia americana. Nos planos anteriores o fluxo dos recursos para a economia e para o crédito foram pífios, sendo desviados para aplicações no mercado financeiro mundial ou aumento das reservas voluntárias dos bancos.

Desta forma, não aumentou a fluidez do crédito e nem a geração de empregos, animando somente os inúmeros segmentos do mercado financeiro.

Por que seria diferente desta vez?

 

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