Análise do Mercado – 01/11/2010

Finalizado o período eleitoral. Dilma eleita! A opção da sociedade brasileira foi, supostamente, pelo continuísmo, mas certamente o novo governo precisará dar uma “meia volta volver” extremamente firme, para após ter sido o grande beneficiário…

Se persistir determinadamente no continuísmo pode sofrer desgaste pelo que não fez, mas ser responsabilizado por ter sido parte. A conta pode ser elevada e então sujeitar o país a um cenário indesejável de retrocesso lento e gradual.

A política fiscal clama por um choque de efetiva responsabilidade, pois se o desvestirmos das maquilagens, o que sobrará sanciona preocupações efetivas.

Na saída, o novo governo deve comprometer-se com o rigor nos gastos públicos, de forma a fomentar expectativas positivas e desautorizar as expectativas de viés altista da curva SELIC, que já vem sendo prognosticadas pelo mercado financeiro.

Houve um aumento substantivo de despesas orçamentárias irreversíveis permanentes no atual governo, comprometendo em grande parte a parcela que deveria ter havido de elevação da poupança fiscal num ambiente de crescimento da economia a um ritmo forte, que certamente não poderá ser repetido nos anos próximos.

Num ambiente que sugere menor ritmo de crescimento do PIB, por insustentável o ritmo atual dada às relevantes deficiências de infra-estrutura e falta de reformas fundamentais, as receitas tendem a ser cadentes ante um orçamento inflado por despesas permanentes de grande monta.

O novo governo, valendo-se da enorme maioria no Congresso, poderá criar sua marca forte buscando implementar as reformas trabalhistas, visando desonerar as folhas de pagamento e flexionando as relações trabalhistas empregador-empregado; tributárias, desonerando a produção e os investimentos; política; etc. criando desta forma identidade própria e fortalecendo-se perante a sociedade brasileira.

Na falta de poupança fiscal criou-se um volume de reservas cambiais em torno de US$ 280,0 Bi tão decantadas como grande mérito, porém formada com o crescimento da Dívida Interna e que, segundo cálculos criveis, representam um custo de carregamento de R$ 50,0 Bi anuais, isto sem considerar-se a perda de valor das mesmas se confrontando o preço médio de aquisição com o preço atual da moeda americana. Este volume de custeio das reservas cambiais, decorrente da diferença de juro interno versus externo, é maior do que os investimentos realizados pelo governo.

É importante destacar que o volume de reservas cambiais é excessivo e os sinais claros disto é que já não sensibiliza os conceitos de risco do país, que se mantém entre 170 a 200 pontos, independente de continuarmos a aumentá-las.

E mais, é fundamental reconhecer que o país não pode continuar elevando suas reservas cambiais com elevação da Dívida Interna.

O especulador observa as reservas, aferindo a capacidade de pagamento do país, enquanto o investidor de qualidade vai mais além e observa a Dívida Pública Bruta, a política fiscal, os problemas trabalhistas, tributários, etc.

Se quisermos efetivamente o Brasil grande, bem dimensionado e sem os pés de barro, será necessário mudar. E isto é um grande desafio, mas pode determinar que o que parecia igual pode ser bem diferente.

É preciso que o novo governo execute a “receita do bolo” visando com mão firme sobre os gastos, foco em poupança fiscal, objetivo em reduzir o juro, construa o ambiente próprio para que o preço do câmbio seja formado efetivamente livre, como nunca o foi no país.

O câmbio dito no país como “flutuante” sempre o foi de forma “suja”, ou seja “flutuante” pela frente e “administrado” pelas costas, e assim utilizado como “âncora” principal ou secundária no controle da inflação, já que mantendo um ritmo alucinante de gastos públicos e não construindo poupança fiscal, o próprio governo executou uma política inflacionária, que levou o BCB a ter que utilizar além da elevada taxa de juro SELIC que o país mantém a despeito de seu crescimento, como algo endêmico, mecanismos estratégicos induzindo a apreciação do real, para que não permitisse que a inflação se afastasse em muito da meta estabelecidas pelo CMN.

No fundo, para o grande público, sempre sustentou que o fluxo cambial é o causador da apreciação do real, quando na realidade o BCB sempre esterilizou os excedentes do fluxo, em grande parte de recursos de má qualidade por serem especulativos, e foi além, e neste além é que induziu o real a apreciação, fato quase que não percebido pela grande maioria.

A mixagem de política monetária com política cambial e agora mais recentemente com maior intensidade fiscal, para cumprir objetivos não confessados de apreciar o real e agora fiscal para tentar conter fluxo maior de divisas que já sufocam o BCB com os custos de carregamento de reservas cambiais excessivas, são atitudes absolutamente inapropriadas para um país que quer denominar o seu câmbio de flutuante.

Por isso, ou corrige a postura de gestão focando contenção de gastos, etc. e coloca o dólar no preço de equilíbrio pelas regras naturais do mercado, ou muda o sistema cambial e assume efetivamente o “câmbio administrado”, na impossibilidade de “fazer corretamente a lição de casa”.

Buscar atalhos não é uma boa solução!

 

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