Análise do Mercado – 02/03/2011

O Banco Central do Brasil tem sido diferente operacionalmente no mercado de câmbio neste novo governo, interfere mais, dá suporte ao preço da moeda americana evitando que o real sofra maior apreciação por manipulações conhecidas, desbancar…

O Banco Central do Brasil tem sido diferente operacionalmente no mercado de câmbio neste novo governo, interfere mais, dá suporte ao preço da moeda americana evitando que o real sofra maior apreciação por manipulações conhecidas, desbancar o mercado futuro/derivativos e os “especuladores” como indutores principais do preço, enfim, está fazendo as coisas “mais às claras”, embora nem todos possam ter esta percepção, não escondendo-se na justificativa que só está retirando os excedentes, que sempre foi uma meia verdade no passado, mas não tendo constrangimento em deixar evidente que temos um “sistema de câmbio marrom”.

Afinal, como já salientamos inúmeras vezes, este é um mercado onde prevalecem os espertos e há muito poucos distraídos, e a autoridade monetária deve coibir as práticas inadequadas que distorcem a formação do preço da moeda americana, e, está tornando isto efetivo com a sua dinâmica operacional.

A taxa cambial não tem condições naturais de mercado para ultrapassar o preço de R$ 1,67, mas o BC dá evidências de que entende que este seja o preço de equilíbrio possível atualmente, e assim atua balizando-a no entorno deste ponto, inibindo movimentos de apreciação do real.

Nossa única ressalva é o crescimento do estoque dos “swaps cambiais reversos” no mercado, tendo em vista que no primeiro momento interferem positivamente para a sua estratégia no cupom cambial, mas na ponta final estes instrumentos têm forte poder de indução à apreciação do real, consequente da sua formulação remuneratória.

Num ambiente com bastante incerteza externa, nossa economia necessariamente em desaquecimento não se pode ter otimismo excessivo quanto ao ingresso de IED´s no país, a ponto de, ao agregar-se ao saldo da balança comercial do ano, que também deve continuar muito abaixo do nosso potencial face à perda de competitividade decorrente da baixa taxa cambial, gerar suficiente volume para financiar o projetado déficit em transações correntes da ordem de US$ 70,0 Bi.

Como não vislumbramos um ano positivo para Bovespa, não consideramos que possa agregar volume de fluxo positivo líquido para o país. Por outro lado, os efeitos do IOF que focava os investidores em renda fixa de curto prazo parece ter atingido, também, os investidores de longo prazo, afetados também pelos temores inflacionários.

Este cenário prospectivo sugere que possamos ter um preço da moeda americana tendente à alta ao final do ano, porém, até o final do 1º semestre, é de toda conveniência para o governo que o preço permaneça no entorno de R$ 1,67, praticamente neutro para gerar pressões inflacionárias, e, evitando críticas novas dos setores exportadores.

O governo sinaliza que os importados terão regras mais duras na alfândega, que naturalmente não devem se limitar aos pontos salientados como regras sanitárias, de segurança, metrificação, embalagem, etc., mas devem ir ao fiscalizatório na aduana em termos de produtos e preços.

As entidades representativas das indústrias de máquinas e implementos vêm salientando que em torno de 60% dos seus produtos acabados são de partes e peças importadas, que são mais baratas no exterior. Este fato com tendência crescente e atingindo inúmeros segmentos, inclusive do material de construção, é potencialmente gerador de desemprego em nossa economia. Por isso, é necessário que as burocracias de exigências impostas aos produtos nacionais sejam aplicadas aos produtos importados.

Espera-se, contudo, que o governo venha a se revelar mais incisivo na proteção à indústria nacional, impondo elevação de tarifas aos produtos concorrentes dos produtos nacionais. Da mesma forma, aguarda-se também medidas de incentivo e desoneração às exportações de produtos não agrícolas.

Hoje o COPOM finaliza a sua reunião para definição da taxa de juro SELIC e avaliação abrangente da economia brasileira.

O consenso indicando uma alta de 0,5% atinge 90% do mercado financeiro, mas se vier 0,75% pode surpreender uma boa parte dos “players”, mas há um contingente que consideraria normal este percentual mais alto, apesar de estar indicando 0,50%.

Afinal, se o BC mudou a sua forma previsível de atuar no câmbio, por que não pode surpreender positivamente sendo mais incisivo numa decisão da SELIC, buscando agilizar os efeitos objetivados com a medida, ancorando as expectativas, e, quem sabe, até “economizando” parte das altas previstas pelo mercado, na eventualidade do desaquecimento da economia equalizar oferta e demanda, ajudada pelas medidas macroprudenciais adotadas.

O BC poderá, a exemplo do que vem fazendo no câmbio, ser diferente e mais estratégico.

O humor externo piora muitíssimo com a alta do petróleo e das “commodities”, no primeiro momento em decorrência dos conflitos no Oriente Médio/África, mas agora também pelos temores sobre os danos que podem causar sobre a recuperação da economia dos países desenvolvidos, largamente dependentes do petróleo, e pelos impactos inflacionários consequentes.

Ben Bernanke salientou isto ontem e reforça hoje, evidenciou os temores e a necessidade de manter ainda por longo período os estímulos. Provavelmente, o programa de US$ 600,0 Bi em compras de títulos do Tesouro, previsto para terminar em 30 de junho, seja prorrogado e o risco é termos um “quantitative easing 3”, que alavancaria mais a liquidez, provocando mais inflação, manteria o dólar desvalorizado e o juro baixo, preço do petróleo e alimentos em alta, e na ponta um mercado financeiro “feliz e eufórico”, afetando fortemente os países emergentes.

O grande problema é que o sentimento predominante é que “ninguém se sente responsável por nada do que está acontecendo”. Os Estados Unidos não admitem que o dólar fraco promove a fuga para as “commodities”, atribuindo à China a culpa pela demanda. A China entende que a fragilização do dólar é que determina a alta das “commodities”.

O Brasil fala em “guerra cambial”, mas fez largamente política induzindo à apreciação do real para combater a inflação ao longo do governo passado, portanto auto vitimando-se, e, se a China valorizar o “Yuan” seguramente vai buscar compensação no preço das nossas “commodities”, e se os Estados Unidos elevar o juro certamente perderemos atratividade de parte dos capitais buscando rentabilidade, normalmente os de melhor qualidade.

Por isso, urge que o governo atue para debelar as pressões inflacionárias, e, com a consciência de que o preço do dólar no nosso mercado não poderá ser recuperado a ponto de devolver competitividade ao setor exportador, por isso deve desonerá-lo rapidamente, da mesma forma que deve, com estratégia, banir da nossa pauta importadora bens não essenciais e que exercem concorrência predatória a nossa indústria nacional.

Afinal, neste momento está na base do “cada um por si”, então, devemos zelar e bem pelos nossos interesses, visando preservar os avanços conquistados.

 

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