Câmbio News

Análise do Mercado – 03/03/2011

A percepção mais evidente no “day-after” da decisão do COPOM é que a grande maioria que apontou a alta de 0,50% para “acertar”, admitia, pelas manifestações de hoje, que pudesse ser de 0,75%, entendendo que representaria um posicionamento…

A percepção mais evidente no “day-after” da decisão do COPOM é que a grande maioria que apontou a alta de 0,50% para “acertar”, admitia, pelas manifestações de hoje, que pudesse ser de 0,75%, entendendo que representaria um posicionamento mais contundente da autoridade monetária.

O comunicado pós-reunião foi curtíssimo, “sem considerandos”, mais parecendo uma notificação de “dever cumprido”, ao sancionar “dando seguimento ao processo”.

Por isso, tornou-se mais relevante a divulgação e leitura da Ata na próxima semana, para uma avaliação, se for possível, da visão macroeconômica da autoridade, principalmente em perspectiva, já que o mercado financeiro começa a perceber que a propensão de elevação de taxa de juro do governo pode ser inferior às que vêm sendo projetadas pelos analistas.

O “recado” que pode ter ficado da decisão é que o governo tem mais expectativas positivas quanto aos impactos contracionistas na inflação das medidas prudenciais introduzidas em dezembro, focando liquidez do sistema bancário e restrições ao crédito ao consumidor; dos cortes orçamentários anunciados e desaquecimento da economia, do que o mercado financeiro.

Parece-nos que este novo governo busca ser mais estratégico e isto o leva a utilizar múltiplas ações impactantes no controle da inflação, abandonando a “única via do juro”, controlando melhor o necessário equilíbrio entre oferta e demanda, se bem que tem a dura missão de corrigir o desequilíbrio presente decorrente dos excessos de incentivos concedidos no governo passado além do tempo adequado, o que o levará a maior rigor na política monetária focando liquidez e crédito.

O mesmo comportamento também está sendo observado no mercado de câmbio onde também tem sido mais estratégico e operacional, procurando ser menos previsível e focando suporte ao preço da moeda americana num ponto “neutro”, já que não tem instrumentos para elevar o preço, que, a rigor, não seria também conveniente num ambiente em que as pressões inflacionárias estão presentes.

Há quem atribua esta “mudança” da forma de agir ao fato da composição do BC ser agora menos de “banqueiros” e mais de técnicos, o que não faz menor suas capacidades e formações acadêmicas, mas lhes atribui maior liberalidade para praticar logísticas e estratégias menos presumíveis pelo mercado financeiro, que não seja unicamente elevar o juro.

Todo juízo nesta fase é prematuro, mas o fato é que o governo tem a “espinhosa” incumbência de conter a espiral inflacionária, procurando manter a perspectiva de um PIB crescente de 5,0% e preocupado para que não confirme as projeções negativas que o colocam em perspectiva de abaixo de 4,0%. E ainda, que ao conter as pressões de demanda do mercado interno, não desestimule o investimento, que é fundamental para otimizar a oferta do setor produtivo.

É um “pisar em ovos”, não pode errar nas “doses”.

Parece-nos carente de melhor aferição a contumaz afirmativa que a elevação do juro atrairá mais recursos para o país. Em tese, seria lógico, mas é preciso aferir melhor os números, pois dezembro e janeiro não revelaram números nesta direção e a nossa BOVESPA não parece ser atualmente a primeira escolha dos investidores estrangeiros. O saldo de US$ 15,0 Bi em janeiro e os US$ 6,0 Bi até o dia 25 último do fluxo cambial líquido teve participação mais acentuada de captações de recursos externos por empresas brasileiras e entrada não explosiva de IED´s.

A percepção é que o IOF vem desincentivando os investimentos em renda fixa, mas não somente os de curto prazo, também os de longo prazo, e as pressões inflacionárias podem despertar preocupações aos investidores, embora o dólar tenda a se manter estável ao longo do ano, salvo ocorrências relevantes nos conflitos em áreas economicamente importantes.

Contudo, é bom lembrar que em 4 de abril próximo os bancos deverão estar enquadrados em suas posições “vendidas” no mercado físico. O BC até o dia 25 de fevereiro havia retirado do mercado físico à vista US$ 7,166 Bi ante um fluxo cambial positivo de US$ 7,216 Bi, porém não se sabe qual é o montante de câmbio a termo que os bancos venderam ao BC e que esteja “em ser”, para considerar. O BC, quando adotou a medida focando as posições “vendidas” no mercado físico dos bancos, estimou que recuariam até 4 de abril a US$ 10,0 Bi, para não serem atingidas pelo depósito compulsório.

No nosso entendimento o BC está atuando no mercado de câmbio físico e futuro com o claro intuito de manter a taxa cambial num patamar neutro.

Face este entendimento é que temos manifestado a urgente necessidade de incentivar o setor produtivo não agrícola para que possa recompor a competitividade externa e não se sinta desestimulado ao investimento, compensando desta forma recuo previsto da demanda interna.

O IBGE divulgou hoje o PIB brasileiro de 2010. Dentro da expectativa predominante ficou em 7,5%, considerado expressivo, porém por ter sido excessivo sem infraestrutura adequada, sabidamente é limitante ao crescimento do PIB em 2011, até porque, construído fortemente por incentivo e ampla liquidez para fomentar a demanda que determinou elevação de 7% no consumo familiar em relação a 2010, atualmente faz presente na economia pressão inflacionária que precisa ser coibida pelo novo governo.

Há que se considerar também que a base de comparação, 2009, é bastante fraca.

A taxa de investimento foi de 18,4% do PIB, ainda inferior aos 19,1% de 2008, pré-crise. A Formação Bruta de Capital Fixo FBCF que mede o investimento no país aumentou 21,8%, com destaque para máquina e equipamentos que representou mais da metade.

Dado importante a ser observado é a queda do ritmo de investimentos no quarto trimestre, quando subiu tão somente 0,7% no confronto com o trimestre antecedente.

Os números e a análise retrospectiva sugerem, na opinião predominante dos especialistas, a total impossibilidade de repetição desta performance sem investimentos expressivos na infraestrutura, pouco focada em termos efetivos pelo governo, e investimentos na geração de mão de obra qualificada, que é um desafio face a baixa escolaridade do operário brasileiro.

Por isso, é imperativo desaquecer a economia, por ordem na casa, crescer menos em bases sustentáveis para que tudo não se transforme no “vôo da galinha”.

 

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