O discurso que vem sendo sustentado pelo governo ao início deste ano de 2013 pouco difere do que assistimos ao início de 2012.
Projeções exacerbadas a partir do Ministério da Fazenda são repetidas para o crescimento econômico, sabidamente insustentável e fora do que o contexto atual pode colocar como perspectiva, mas com indefinições e duvidas maiores do que o ano passado, com a inflação mais aquecida e um ambiente revisional de projeções macroeconômicas que se revigora precocemente quebrando a linha do otimismo.
Há pouca clareza sobre a efetiva opção de política monetária que está sendo perseguida pelo governo para sair do complexo cenário presente, que tende a se configurar como estagflação, já que temos inflação aquecida e crescimento nanico, com baixíssima tendência ao investimento pelo setor produtivo, que assim incentiva a importação de bens duráveis e insumos, além do que se possa imaginar, haja vista a redução de 4% na FBCF ocorrida em 2012.
Não temos neste ano o fluxo de capitais externos que o país atraiu no 1º trimestre do ano passado e nem mesmo o desempenho da balança comercial.
O desempenho negativo se faz presente tanto no fluxo cambial quanto na balança comercial, e contraditoriamente neste ambiente adverso o governo optou pela apreciação artificial do real para buscar conter as pressões inflacionárias, distorcendo a sua efetiva função, relegando a SELIC, à qual caberia ser o instrumento prioritário de contenção, a um papel de fomentar o estimulo ao crescimento econômico.
Esta política heterodoxa não está indicando sucesso no alcance de seu objetivo.
Naturalmente, há constrangimentos por parte do governo em utilizar a elevação da SELIC, cuja redução é uma das conquistas catalogadas pelo atual governo, mas tudo indica que será inevitável a retomada da sua utilização. O TOP 5 do Boletim Focus divulgado ontem pelo BC indica que as instituições com maior margem de acerto esperam uma alta de 0,5% até o final do ano.
O discurso do Ministro Mantega indicando que o juro é o instrumento correto para conter a inflação e a confirmação pelo BC de que poderá eventualmente utilizá-lo, certamente, não tem a concordância imediata da Presidenta Dilma que tem se mantido silenciosa sobre o tema, embora tenha salientado o foco no controle da inflação.
Mas as diretrizes mudam rapidamente, à conveniência do momento. Lembram-se do dólar nunca abaixo de R$ 2,00 no discurso do Ministro Mantega e na confirmação efusiva da Presidenta?
Nada é definitivo, portanto não se deve excluir o retorno da SELIC ao seu efetivo papel e certa folga ao preço do dólar para tentar reanimar a inanição da indústria brasileira.
Por tudo ser possível é que existem duvidas e incertezas que não se dissipam no mercado.
No câmbio estamos vislumbrando dificuldades de administração do preço pelo BC num ambiente de conforto, pois com o fluxo de recursos externos cadente, é natural esperar-se pressões altistas, motivadas pelos reflexos na liquidez. Por enquanto o BC tem conseguido ancorado na parceria com os bancos que estão soberbamente vendidos no mercado à vista e no mercado futuro, mas se o cenário prospectivo for confirmando a “ressaca” de ingresso de divisas, haverá desconforto e a pressão de alta será inevitável.
Hoje tem inicio a reunião do COPOM que se encerrará amanhã e que deliberará sobre a taxa SELIC, e expressará o sentimento do governo a partir do BC a respeito do quadro atual. Não há previsão de que ocorra mudança na SELIC de 7,25%, mas será muito importante o relatório pós-reunião e a Ata da reunião divulgada na quinta feira da semana seguinte. A expectativa é que se consiga ter indicativos sobre o “caminho” das políticas de governo focando a redenção do PIB brasileiro em 2013 e contenção da inflação.
O tempo se exaure muito rapidamente e conspira contra as ambições do governo de fazer o país crescer em 2013, por isso é necessário que haja menos experimentos e mais definições concretas e objetivas.
E o governo precisa fazer a “lição de casa”, visto que quando observamos o exterior não há sinais efetivos de melhoras no curto prazo.
Os Estados Unidos está sendo submetido ao corte automático de gastos, denominado “sequestro”, e isto impacta na retomada do crescimento econômico e coloca em risco a recuperação dos níveis de emprego, problema relevante da economia americana.
Na Europa, índices de desemprego altamente preocupantes deixam evidente que os planos de austeridade podem ter sido excessivos e não estão atingindo os objetivos, podendo acentuar a crise. O exemplo mais crítico atual é o da Itália que promove expressivo retrocesso político e que deve criar sérios problemas para o país com reflexos a toda euro zona, pois é a 3ª economia europeia e a detentora do maior nível de endividamento.
A China adota medidas de cautela no setor imobiliário para evitar a ocorrência de uma bolha, já que os preços subiram excessivamente. O país projeta crescer 7,5%, mas é sabida a grande dependência do seu setor exportador, que de sua parte depende da Europa e Estados Unidos.
Enfim, o cenário externo não é alentador.
Portanto, é preciso definir com clareza por qual caminho o governo pretende fazer a economia trilhar para recuperar a linha de crescimento, caso contrário podemos ter 2013 muito semelhante a 2012, com alguns agravantes novos.