O Brasil precisa redefinir suas estratégias em busca do crescimento perdido, visto que utilizando um modelo que o tempo envelheceu, tende a colher mais desapontamentos se persistir na mesma “bitola”.
O país vive ainda num cenário ambíguo. O emprego, a renda e o consumo, este em grande parte turbinado por crédito publico, ainda resistem bravamente, mas tendem a perder intensidade, pois foram fatores alavancados com a ocupação em 2009 da capacidade ociosa, mão de obra desempregada e baixo nível de endividamento da sociedade brasileira, em especial das classes mais baixas, existentes naquele ano. Da outra parte, temos o setor produtivo cuja indústria de transformação representa mais de 50% do PIB industrial, encolhendo em 2012, com a taxa de investimentos cadente.
O Brasil tem notoriamente optado por importar mais máquinas e equipamentos do exterior, e na mesma linha, insumos e outros bens duráveis. O processo de desindustrialização otimizado com a indução da prática do real apreciado a serviço do controle inflacionário por longos períodos, parece ter desestimulado a expansão do parque industrial brasileiro, que utiliza produtos importados, até sob encomenda de modelagem, para manter a sua atividade.
Assim, o crescimento foi forjado num espaço envolvendo emprego, renda e consumo que havia em nossa economia, exaurindo as ociosidades existentes no setor produtivo, que não investindo buscou a complementariedade para atender a demanda no mercado externo.
O governo vem buscando conceder incentivos, pontuais e não generalizados e definitivos como seria desejável, não realiza a reforma tributária e nem trabalhista e, não tem logrado motivar o setor produtivo ao investimento de forma a aumentar a oferta e conquistando produtividade e competitividade.
Há um “corner” de alta complexidade no contexto da economia brasileira. Crescer como? Combater a inflação como? Como conciliar ambas as situações que sugerem estratégias conflitantes entre si?
Sem definições claras na politica monetária e cambial, as expectativas pioram!
Hoje, o COPOM decide sobre a taxa SELIC, não se esperando novidade na decisão que deve mantê-la em 7,25%, mas é imprescindível que a nota pós-reunião e a Ata que será divulgada na quinta da semana próxima apontem para um norte, desanuviando o quanto possível as incertezas.
É preciso clareza na definição dos objetivos, para que a economia não opere tentando adivinhar o que pode vir e desta forma continue não ocorrendo decisões.
Não é positivo para o governo negar a manipulação da taxa cambial como instrumento de busca de controle das pressões inflacionárias, ainda mais quando a prática ocorre num ambiente adverso de fluxo cambial, que sugere exatamente o oposto. Melhor seria silenciar a respeito, já que todos sabem o que está ocorrendo. E, neste contexto, o setor produtivo, que já viu as regras serem mudadas sem grande cerimônia, convive com incertezas que passam pelo questionamento da sustentabilidade desta estratégia e, também, pela incerteza quanto a sua eficácia.
Qual é a efetiva possibilidade de utilizar a elevação da taxa SELIC para confrontar com a pressão inflacionária? O quanto pesa na inibição da decisão o impacto no encarecimento do crédito ao consumo?
Enfim, sobram incertezas e dúvidas e a certeza que há é de que o quadro é muito complexo e conflituoso.
Claramente, o modelo no qual se pretende assegurar o crescimento está dando mostras de esgotamento, podendo se persistir criar bolhas e problemas de inadimplência ascendente num futuro próximo, com impactos diretos nos bancos públicos que ampliaram muito as suas participações no mercado de crédito.
O país está precisando imediatamente de ideias e ações estimulantes novas e, isto passa obrigatoriamente pela utilização dos instrumentos de politica monetária e cambial da forma adequada para cumprirem seus papéis, diminuindo as improvisações, que ao que tudo indica têm a perspectiva de provocarem mais efeitos negativos do que positivos.
É ilusória esta calmaria que se vê no câmbio. O contexto atual não a sanciona, e só esta sendo possível porque os bancos continuam parceiros na mesma linha de interesse do governo, por estarem vendidos nos mercados à vista e futuro, esperando melhora do fluxo cambial para gradativamente cobrirem esta exposição cambial.
Todavia, se o fluxo cambial não evidenciar tendência de recuperação, certamente a calmaria se transformará em volatilidade, com viés de alta do preço, independente de qual seja a intenção do BC.