O Brasil grande que predomina nos discursos governamentais tem demonstrado tendência a tornar-se menor nos últimos 2 anos, necessitando, portanto, reinventar-se para recompor seu alinhamento com o crescimento econômico.
Mas, da mesma forma, ressurgem em seu cenário macroeconômico as pressões inflacionárias, que tornam complexo o quadro e complexa a busca de alternativas para conjugar dois problemas que sugerem tratamentos diferentes, quais sejam, estratégias de crescimento e estratégias de contenção das pressões inflacionárias.
Outro dia, provocativamente, colocamos em nossos comentários que o governo enfrentava o dilema de Sofia, tendo necessariamente que optar por uma das estratégias, crescer convivendo com um nível de inflação mais alto ou conter a inflação e comprometer o crescimento econômico.
A dupla conquista é algo praticamente improvável, sendo mais factível que ambas sejam conduzidas ao fracasso se houver a tentativa.
Há sinais comprometendo o otimismo em relação a este 2013 advindos dos mais diversos setores, havendo, portanto, a extrema e urgente necessidade do governo conseguir mudar as expectativas.
Ainda persiste muita incerteza e dúvida sobre a política monetária que vem sendo executada pelo governo, até certo ponto fomentando a descrença sobre o rigor com a inflação em benefício do crescimento.
Contudo, recentemente, o Presidente Tombini do BC, como que dando uma resposta ao mercado financeiro, reafirmou que a inflação continua sendo a preocupação do BC, que de sua parte não tem comprometimento com as metas de crescimento.
Foi uma declaração peremptória, firme, focando desfazer dúvidas e se estas ficaram foi no que tange a conduta do governo de atuar apreciando o real, absolutamente óbvia e perceptível, porém negada pela autoridade monetária.
Se a opção é controlar a inflação, isto certamente passará pela elevação da taxa de juro SELIC e, a rigor estaria colocando em posição secundária, pela impropriedade de buscar-se ambas as coisas ao mesmo tempo, o crescimento econômico, o que, contudo não parece estar no contexto de vontade da Presidenta Dilma e do Ministro Mantega.
Desta forma entendemos que o BC busca fortalecer a sua imagem de que está atento ao processo inflacionário e o tem sobre seu controle com autonomia para agir, mas persiste a dúvida, visto que não nos parece que haja consenso de que é preciso dar um tempo ao crescimento.
Tudo leva a crer que as manifestações visaram fortalecer o BC, mas a tentativa do governo será mesmo de conter a inflação e buscar o crescimento econômico e, então haverá o risco de conquistarmos duas derrotas, não contermos a inflação e não crescermos.
A afirmativa do Presidente Tombini de que há coisas mais importantes do que o fluxo de capitais, procura “quebrar” a relevância que vem sendo dada à perda de atratividade do país aos investidores estrangeiros, porém este é um item importante para o país que precisa financiar seu déficit em transações correntes. As reservas cambiais de US$ 350,0 Bi parecem suficientes, mas não são tão grandes e consistentes a ponto de considerar-se algo menor a redução de fluxos de capitas externos para o país.
Este cenário adverso de fluxo de capitais para o país compromete e tende a inviabilizar a estratégia de utilizar-se o real apreciado como “ancora” ou mesmo “coadjuvante da taxa SELIC” no combate às pressões inflacionárias.
Um fluxo de ingressos irregular e fragilizado tende a criar volatilidade na formação do preço da moeda americana no nosso mercado cambial, criando um contexto ainda mais negativo para os exportadores do que a taxa baixa que inviabiliza o crescimento dos negócios.
A afirmação, também do Presidente Tombini, de que o dólar não agregará pressão inflacionária neste ano como ocorreu em 2012 é uma sinalização passível de entendimento de que, mesmo com a elevação da SELIC, a apreciação do real poderá persistir.
Mas, estaria disposto o governo a utilizar as reservas cambiais para prover o mercado de cambio com liquidez para bancar o real apreciado? Pressões altistas certamente ocorrerão, face à queda do fluxo de recursos externos.
No fundo, fica a impressão de que está sendo mudado o discurso, mas na prática continua a mesma coisa, ou seja, persiste o anseio de reduzir a inflação em concomitância com a conquista do crescimento econômico.
Tudo indica que se não houver a priorização de um dos dois objetivos, ficaremos sem conquistar ambos.
Enfim, renovadas as declarações, resta a certeza de que as incertezas continuam prevalecendo neste ano de 2013.