Os números recentes relativos a fluxos de recursos externos estão, cada vez mais, confirmando que o cenário prospectivo tende a se configurar desconfortável para o Brasil.
Os sinais que vem sendo emitidos pelo fluxo cambial líquido negativo para o país acentuam a percepção de que a atratividade do Brasil, perante aos investidores estrangeiros se confirma cadente e, além disto, a nossa balança comercial vem demonstrando números desfavoráveis, demonstrando nossa fragilidade se acentuando no comércio exterior.
Mas, ainda estava distante a percepção de que poderíamos ter um déficit em transações correntes recorde logo no inicio do ano, ou seja, em janeiro da ordem de US$ 11,371 Bi, muito acima da projeção de US$ 8,300 Bi do BC e do montante de US$ 7,050 Bi do mesmo mês em 2012.
Os IED´s que são a base de sustentação do financiamento do déficit deram sinais de fragilização caindo para US$ 3,7 Bi em janeiro quando em 2012 representaram US$ 5,4 Bi.
Estes números colocam em perspectiva o não alcance das projeções para este ano de 2013 dos IED´s em torno de US$ 60,0 Bi e déficit em transações correntes de US$ 63,0 Bi.
A conta de serviços mostrou-se negativa em janeiro em US$ 3,68 Bi, com participação substantiva dos gastos com viagens no exterior, que já expressou números magnânimos no exercício de 2012.
O Brasil efetivamente perde atratividade perante os investidores estrangeiros com reflexos em todos os tipos de investimentos e, está gastando com turismo no exterior acima da sua capacidade.
Com este cenário na largada do ano, embora possa haver perspectivas favoráveis quanto às safras agrícolas, podemos ter que utilizar parte das nossas reservas cambiais para financiar o nosso déficit este ano.
Por isso, é extremamente importante a ida do Ministro Mantega aos Estados Unidos fazer um “road show” das oportunidades existentes no Brasil para investimentos em infraestrutura. Precisamos vender bem estas oportunidades reais aos investidores estrangeiros para aumentar os IED´s que é o caminho correto, em detrimento da opção de criar investidores locais com os recursos do BNDES, que é oneroso ao Tesouro Nacional.
Então, fica a questão quanto à política heterodoxa que o governo vem praticando utilizando a apreciação do real para conter a intensa pressão inflacionária presente, embora não admitida pelos dirigentes do BC e autoridades do MF. Resistirá?
Parece-nos inevitável que será necessária e introdução do instrumento juro para conter a pressão maior da inflação, e isto, sem que a SELIC tenha sido alterada, como aponta matéria de hoje do jornal Valor, já vem ocorrendo, pois o “swap prefixado de 360 dias” já subiu de 1,50% para 2,24%, como reação às manifestações de desconforto do governo com os níveis de inflação.
A questão é que o emprego começa a emitir sinais desalentadores, tendo, segundo o CAGED, sido criado líquidos em janeiro tão somente 28,9 mil novos postos ante 118,9 mil em 2012.
Com o setor produtivo não respondendo com investimentos, fator preponderante para ganho de competitividade e produtividade, aumentando a oferta, já que o país não tem problema de demanda, e, desmotivado quando às perspectivas de exportar face à taxa cambial estar sendo deprimida pelo governo, não se pode afastar a possibilidade de termos novidades negativas também no quesito emprego.
Há com que se preocupar; o cenário prospectivo não esta sugerindo otimismos.
Mas, como estamos ainda ao início do ano, observa-se com certa surpresa o contexto, mas a grande maioria dos analistas, incluindo os dados compilados pelo BC para formulação das projeções medianas do Boletim FOCUS, procuram não fomentar de forma acentuada a exacerbação do quadro, mas é preciso que não se menospreze a mensagem contida nos números gerados pela economia.
O Boletim FOCUS reduziu a projeção para o IPCA nos próximos 12 meses de 5,53% para 5,49% e para 2013 de 5,70% para 5,69%, que podem estar influenciadas pela perspectiva de que o BC venha a elevar a SELIC. Contudo, dentro da linha de sensatez e observação as instituições financeiras não projetaram a elevação da SELIC, à qual esperam. Da mesma forma, num cenário bastante adverso no ambiente cambial, ousam em reduzir a projeção do dólar para 2013 de R$ 2,02 para R$ 2,00, quem sabe até por conveniência própria, visto que estão “vendidos” em montante em torno de US$ 15,0 Bi entre mercado a vista e futuro, e não seria conveniente projetarem alta com este posicionamento.
Dentro do contexto de sensatez promoveram até uma pequena alta na projeção do crescimento do PIB de 3,08% para 3,10% e na produção industrial de 3,00% para 3,10%. Elevou discretamente a projeção do déficit em transações correntes de US$ 62,65 Bi para US$ 63,10 Bi e manteve inalterada a projeção de balança comercial em US$ 15,20 Bi e IED´s em US$ 60,0 Bi, sendo bastante provável que a tomada destas projeções tenha ocorrido antes da divulgação dos dados da última sexta-feira.
O fato concreto é que os números estão “dizendo” que esta estratégia de apreciação do real para conter a inflação não tende a ser sustentável. Portanto, deve ser mudada, ainda que gradualmente, retornando-se ao juro o seu papel efetivo como instrumento adequado e, aliviando um pouco o preço do dólar para incentivar a indústria.
Não há como sustentar que este preço do dólar é equilibrado, num ambiente de fluxos externos cadentes e já negativos.