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O fator dólar no objetivo do Banco Central do Brasil conter a inflação, enquanto o ministério da fazenda foca o crescimento. Como fica o contraditório?

O nosso PIB continua “pibinho” findo o 1º trimestre do ano; a inflação continua preocupante; mas há novos sinais nos últimos números que desarmam a estratégia de crescimento utilizada desde o governo anterior. O consumo das famílias, base do crescimento, começou a decrescer e o país não tem como readquirir tração focando o mercado exterior, portanto, parece que o modelo se esgota e agora é preciso focar mais detidamente o investimento pelo setor produtivo e a oferta de bens e serviços.

Mas o país precisa de muito investimento, e isto, leva tempo para tornar-se efetivo e os resultados não surgem no curto prazo.

O IMD, considerada e acreditada escola de gestão sediada em Lausanne, Suíça, divulgou matéria do seu Centro de Competitividade Mundial, apontando que o Brasil perdeu 5 posições em competitividade entre 60 países elencados, sendo agora o 51º na lista, e destaca como causa principal a falta de eficiência do governo, enfatizando os problemas burocráticos, atraso nas reformas estruturais e a falta de implementação de projetos já decididos.

Há evidências fortes de que a inflação, considerando o modelo brasileiro de crescimento atrelado ao estímulo do consumo com incremento de crédito, conspirou contra o crescimento econômico brasileiro, deixando evidente que a tese de que “um pouquinho mais de inflação ajuda o crescimento” não se fez verdadeira no Brasil. O consumo das famílias declinou, e isto deixa evidente que o otimismo e euforia dos consumidores vêm sendo afetados pelo contexto atual.

Salvou-se o agronegócio que cresceu e perdura otimista pelas perspectivas externas onde os preços estão em alta em decorrência de problemas nas safras de outros países, e, por isso a super safra não foi capaz de inibir a pressão inflacionária dos alimentos, dado ao suporte dos preços internacionais.

Um sinal de melhora ainda modesto e muito aquém das necessidades do país no que se refere aos investimentos.

E nada mais, no restante, a partir do incremento de 0,6% no PIB ante expectativa bem maior, só houve desapontamentos e fontes de preocupações.

O Banco Central do Brasil, certamente surpreendendo a grande maioria do mercado, sancionou de forma unânime uma alta de 0,5% na taxa Selic, exatamente na data da divulgação do pífio PIB de 0,6%, que havia provocado a reversão de expectativa do mercado para uma elevação mais amena de 0,25%. A nova Selic é de 8% a.a., temos agora a 4ª maior taxa de juro do mundo.

O recado passado pela autoridade monetária é de que não vai ser tolerante com a inflação, pois ela corrói a confiança de forma generalizada nas perspectivas a respeito do país, afetando diretamente o crescimento, como ficou evidenciado nos dados tabulados a partir dos números da nossa economia no 1º trimestre.

Nenhuma dúvida sobre o propósito do Banco Central do Brasil, conta muito para sua credibilidade, visto que não tangenciou num momento de relevante importância.

Contudo, à margem, porém com peso, há o fator “Mantega” ao qual coube desalentadora atribuição de explicar o pífio resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, de 0,6% sobre o último período de 2012. Tarefa ingrata de ter que explicar o que os números provam ao contrário das suas contumazes e entusiásticas afirmações e previsões quase sempre não atingidas.

Os números em si do PIB já são uma decepção, auto explicável por si sós, porém a parte “traumática” para o Ministro Mantega é prospectar as “poucas migalhas” que restaram e as tornar superlativas a ponto de ancorar perspectivas muito favoráveis para os próximos trimestres. Neste momento, ao expô-las parece, por vezes, afastar-se do contexto real. São só virtudes nos números!

É verdade que cabe ao governo “sustentar tese de otimismo”, mas o exagero fere a credibilidade.

Observações à parte, o foco principal das nossas considerações é a questão cambial. Neste quesito então, a confusão parece assumir contornos preocupantes.

Instado a falar sobre câmbio, o Ministro Mantega, ante a relevante alta do preço da moeda americana no nosso mercado, destacou que o câmbio flutua em conformidade com os mercados. Só não observou que naquele momento, o dólar caia 0,8% no mercado internacional e subia quase 2% no mercado brasileiro.

Outro ponto, e este realmente preocupante, é a afirmação de que o dólar mais valorizado era bom para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros.

Bom lembrar que após a reunião anterior do Copom, o diretor Carlos Hamilton do BC enfatizou como fator de relevante impacto nos índices inflacionários a alta do preço do dólar que o próprio governo estimulou num passado recente, quando preocupado com o fraco desempenho da indústria nacional optou por este atalho para o estímulo, e, que posteriormente detectando seus efeitos negativos para inflação e a não reação da indústria com investimentos foi descontinuado.

É óbvio que a declaração do Ministro Mantega confronta diretamente com a visão do BC, o que nos leva a crer que há um forte desencontro e contraditório entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil, o enquanto um deseja incrementar a atividade industrial no país pelo real desvalorizado, pelo menos é o que fica entendido pela declaração realizada, o outro tem forte preocupação com a inflação pela atitude de sancionar a alta de 0,5% na Selic, e que não deve considerar um real depreciado.

A questão que ficou é sobre o efetivo risco da alta do dólar anular com ganho os efeitos objetivados com a alta da taxa Selic.

Afinal, um preço de dólar em torno de 5% acima do ponto teoricamente neutro pode impactar na inflação e destruir rapidamente os efeitos das altas da taxa Selic sancionadas até o momento pelo Copom.

O déficit em transações correntes, já projetado pelo mercado em US$ 72,0 Bi, tem viés crescente e tem deixado transparecer que os fluxos de recursos para país este ano serão insuficientes para seu financiamento, o que obrigará o governo, se não houver medidas para reverter este cenário, a  utilizar as reservas cambiais.

Este contexto e suas perspectivas são fundamentos que alavancam a taxa do dólar no país.

Não estivessem os bancos e os fundos estrangeiros “vendidos” no mercado futuro de dólares, e o preço da moeda americana já estaria bem acima dos R$ 2,11 que atingiu na última quarta-feira num evento, por enquanto, especulativo.

Foi perceptível que o preço da moeda americana “subiu forte no vazio” na última quarta feira, muito em função da disputa entre “comprados” e “vendidos” no mercado futuro na BM&FBovespa, onde os investidores institucionais nacionais detêm quase US$ 20,0 Bi de posições “compradas” em dólares, e naturalmente estão fortes para “orquestrar” um movimento especulativo de alta para consumar seus lucros.

Evidentemente que o contexto das perspectivas negativas quanto ao fluxo de recursos para o país com aumento do déficit em transações correntes; a divulgação do PIB desapontador que criou um sentimento negativo; a concomitância da reunião do Copom, a superlativação da importância para o país da eventual redução do programa americano de estímulos à sua economia, etc. criaram ambiente fértil para o movimento especulativo.

E mais, sabedores que, tecnicamente, o BC não deveria agir até a virada do mês, pois estaria interferindo na “disputa do jogo entre comprados e vendidos”, ficou fácil especular.

O mercado nutria expectativas a respeito do fluxo oriundo do ingresso dos dólares da PETRO, mas já há incertezas a respeito disto, e, não se atribui grande relevância ao leilão de NTN cambiais do Banco Econômico no montante de US$ 4,0 Bi no próximo dia 4.

Os bancos desejam que o governo libere o ingresso de recursos externos de curto prazo direcionado a renda fixa sem o tributo do IOF, o que irrigaria a liquidez no mercado à vista e, consequentemente, permitiria melhora da oferta no mercado futuro aliviando-os em suas posições vendidas, não sem antes apreciar a taxa do real como efeito primário. O momento é sugestivo, pois a alta da Selic poderia atrair os investidores especuladores.

E é bastante factível que esta medida venha a ser adotada, mas é necessário virar o mês, pois certamente, a despeito do “equívoco” da colocação feita pelo Ministro Mantega sobre o aumento da competitividade, certamente, este nível de taxa de câmbio não interessa de forma nenhuma ao governo no seu esforço de promover a contração das pressões inflacionárias.

Há o que se esperar por parte do governo na questão cambial! Se desonerar os ingressos de curto prazo o desafogo não deverá ser sustentável por longo período, pois os fundamentos em torno das contas externas brasileiras sugerem alta do preço da moeda americana, mas é quase o caminho que resta para apreciar o real.

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