Sintetizando poderíamos afirmar, o quadro macroeconômico fica cada vez mais complexo, com baixíssima probabilidade de melhora no curto prazo.
O dilema é como coibir a espiral inflacionária aquecida e disseminada pela economia, num cenário em que o país precisa crescer e, para tanto, o nível de investimentos precisa aumentar substancialmente.
Analistas entendem que o crescimento de 4% a 4,5% que o governo almeja seria compatível com um nível de investimento na economia da ordem de 25%, e a realidade é que estamos na faixa de 18%, absolutamente insuficiente e desestimulado pelo ambiente a ser aumentado por parte do setor produtivo.
O COPOM salienta que taxas de inflação elevadas “geram distorções que levam a aumento de riscos e deprimem os investimentos”, e na ponta, “reduzem o potencial de crescimento da economia, bem como a geração de empregos e de renda”.
Este quadro coloca em perspectiva a possibilidade de desemprego com impacto na renda e, consequentemente, na demanda aquecida que tem sido o fator de suporte da economia.
O mercado de juro está em ebulição certo de que o COPOM deverá elevar a taxa SELIC por razões imperativas presentes, já que o real apreciado não cumpre bem o papel de contingenciador das pressões inflacionárias, ainda mais quando ocorrem de forma disseminada na economia.
O real apreciado convive com o contraditório. Na semana passada quando o preço do dólar caiu abaixo de R$ 1,95, o fluxo cambial retomou seu alinhamento negativo, ou seja, ocorreu movimento induzido pela autoridade monetária e pelos bancos que se revelou artificial e excessivo, razão pela qual o BC veio ao mercado ofertando “swaps cambiais reversos”.
O contexto inflacionário deixa cada vez mais evidente que a apreciação do real não é o instrumento capaz de interferir na dinâmica inflacionária, e que o comportamento do fluxo cambial com viés sustentável negativo torna-se obstáculo efetivo para esta prática de interferência na formação do preço.
O fluxo cambial até o dia 8 deste mês está negativo em US$ 368,0 M e no ano acumula negativo US$ 2.859,0 Bi. No ano passado no mesmo período o fluxo cambial era positivo em US$ 17.587,0 Bi, ou seja, uma diferença de US$. 20.446,0 Bi a menos de ingressos este ano.
Os bancos estão com posições “vendidas” no mercado à vista em torno de US$ 8,8 Bi, que vem sendo financiada por linhas de banqueiros estrangeiros, e questiona-se se estejam com “hedge” visto que também estão “vendidos” no mercado futuro de dólar em US$ 1,94 Bi e no cupom cambial-DDI em US$1,28 Bi.
Enquanto estiverem “vendidos” tendem a ser aliados do governo na manutenção do real apreciado, mas o fato é que se o fluxo cambial não apresentar reversão que os permita cobrir estas posições pode ocorrer o desconforto com esta exposição.
Há no exterior um substancial saldo de exportações liquidadas que deverá entrar no mercado de câmbio como oferta, mas seguramente não a este nível de taxa, e os exportadores têm prazo elástico para mantê-los no exterior.
Continuamos com o entendimento que esta estratégia atual no câmbio e os parâmetros de taxa cambial que vem sendo administrada pelo governo, tendem a se revelar insustentáveis.
Com tantas incertezas sobre a política monetária e cambial fica muito difícil ao empresariado realizar planejamento, assim não ocorrem investimentos e não há estímulo ao crescimento.
E, num ambiente complexo, especuladores encontram campo fértil para colocar boatos, como o insinuado de que uma agência de rating estaria revisando a nota soberana do Brasil para pior, o que não se confirmou.
Por isso, entendemos que nada é definitivo ainda no câmbio este ano.