A dinâmica da inflação é preocupante, deixando evidente que a utilização do real apreciado no contexto atual é inapropriada e ineficaz

Os juros flutuam na BM&FBovespa no ritmo das variantes de incertezas acerca da política monetária que o governo adotará para reverter a inflação presente, e mais a sua dinâmica que apresenta o risco de continuidade sustentável, salvo se for freada com aperto monetário rigoroso.

O câmbio está com o preço dado e absolutamente inelástico em relação ao que ocorre no exterior, o dólar tem o preço que o governo quer e deseja neste momento, banda entre R$ 1,95 a R$ 2,00, mas a estratégia do real apreciado tem pouco impacto em itens relevantes que pressionam a inflação, revelando-se estratégia inadequada e que pode estar não beneficiando o controle da inflação, mas prejudicando o ambicionado crescimento da atividade econômica.
 
O fato é que o governo está num “corner”, pois se realizar o aperto monetário rigoroso pode comprometer o crescimento, que depende de investimentos, que, contudo não se realizam na intensidade necessária, sendo que a baixa margem de lucro é uma das justificativas já que foi corroído pela alta dos custos, no qual se inclui agora o da mão de obra.

A indefinição, o retardamento na efetivação do aperto monetário e o uso inadequado da estratégia de conduzir o real apreciado, poderão comprometer o crescimento do PIB neste ano de 2013 que ainda, otimistamente, vem sendo projetado no entorno de 3,0%.

O Presidente do BC, Alexandre Tombini, falou ontem em evento em Varsóvia, mencionando que a inflação foi muito resiliente desde a segunda metade do ano passado e continua sendo, e mais, que a nova classe média emergente pressionou a economia.

Faltou precaução ou pró-atividade na gestão da política monetária, provocando assim a consolidação de uma tendência inflacionária sustentável? Houve fatores políticos que inibiram esta ação previdente?

É neste ponto que o mercado financeiro, por vezes, contesta a independência do BC.

Mas, as expectativas vão piorando, e das projeções iniciais de que uma alta na SELIC de 0,50% seria suficiente, já houve a evolução para 1,0% até o final do ano, tentando evitar que a dinâmica atual da inflação avance para 2014.

Tombini destacou a alta no IPCA de 12,5% nos alimentos e bebidas e, de 8,7% nos serviços.

Ambos os segmentos pouco respondem à apreciação do real, salvo os produtos alimentares agrícolas que somos exportadores, por isso o governo busca via isenção de tributos federais minimizar a alta nos alimentos, que para as classes emergentes deve até ter superado os 12,5%. Mas o problema inflacionário é mais relevante pelo fato de ter se disseminado por todos os setores da economia e isto requer medidas abrangentes e de choque e não pontuais.

A reação imediata do mercado de juro, pós fala de Tombini, foi de alta, enquanto o dólar por razões decorrentes do nosso mercado e não do exterior ou da fala de Tombini, apresentou alta ontem, deixando transparecer que o fluxo cambial que havia dado sinais de melhora voltou a ficar desfavorável nesta semana, cujos dados só saberemos no próximo dia 20.

As incertezas persistem. Há baixa margem para projeções confiáveis neste momento, mas o certo é que nem a possibilidade desta estratégia de uso do real apreciado ser revertida e nem a de ocorrência de um aperto monetário mais rigoroso podem estar fora de foco, mas existem pontos altamente conflitantes neste ambiente em que o país precisa conter a inflação e ao mesmo tempo ter crescimento, já que a priorização de um prejudica o outro, enquanto tentar os dois ao mesmo tempo pode provocar o insucesso absoluto.

Por enquanto, acreditamos que o preço do dólar ficará dentro da banda de conforto do BC até que venha a fazer uso do aumento da SELIC, cuja expectativa é que seja consumada na próxima reunião do COPOM em abril.

 

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