A captação de US$ 12,0 bi da Petrobrás no exterior traz um alento no momento em que o déficit em transações correntes já acende “luz vermelha”.

Os indicadores de fluxo de recursos externos relativos ao Brasil neste ano não são confortáveis, mas prematuramente neste início do 2º trimestre já se acentuavam as preocupações visto que as projeções presentes já colocam o déficit em transações correntes, ao nível de US$ 70,5 Bi, em condição superior à somatória das projeções para os Investimentos Estrangeiros Diretos e o saldo da balança comercial, ao nível de US$ 69,5 Bi, num ambiente em que o fluxo financeiro vem sendo negativo.

Este cenário adverso ocorre em concomitância com a ocorrência de exuberante liquidez no mercado internacional, consequente dos programas de incentivo à retomada da atividade econômica por parte dos Estados Unidos e Japão, e, adicionalmente por recursos oriundos da Europa que focam melhores rendimentos face á redução do juro por parte do BCE.

Há forte evidência de que o Brasil não está sendo beneficiado por estes fluxos presentes no mercado internacional, visto que por inúmeras razões soberbamente conhecidas e já abordadas tem perdido atratividade dos investidores estrangeiros. Por outro lado, embora tenha havido inúmeros anúncios de captações externas recentemente, seus volumes parecem ter sido insuficientes para reverter a condição negativa do fluxo financeiro.

Nossa performance no setor comercial (exportação/importação) revelou melhora no mês de abril e deve repetir o comportamento neste mês de maio, mas é algo pontual repercutindo as exportações das safras agrícolas. Não se nutre expectativas que coloquem o saldo da balança comercial ao final do ano em patamar superior a US$ 9,0 Bi.

Por isso, consideramos meramente especulativa a colocação de que a eventual redução gradual do programa de incentivo americano pudesse ser responsável pela alta do dólar no Brasil, como o será no mundo, visto que o país não tem sido agraciado com fluxos intensos da liquidez presente no mercado internacional. De fato, o efeito de eventual decisão nesta direção pelo FED americano provocará apreciação do dólar, mas no Brasil não deverá repercutir, pois não podemos repercutir o encerramento ou redução daquilo em que não estávamos participando e sendo beneficiados.

Contudo, a captação anunciada pela Petrobrás tem expressão pela magnitude e pelo momento adverso do fluxo de recursos para o país, e, certamente, dará um alento, mesmo que não definitivo, ao fluxo financeiro, embora seus ingressos devam ser administrados indiretamente pelo BC para não causar efeitos impactantes na formação do preço, mas só o fato em si será suficiente para amortecer o viés de alta do preço da moeda americana presente no mercado de câmbio.

Esta operação da Petrobrás alivia a situação do BC ante o quadro evolutivo negativo que vinha se consolidando no mercado de câmbio, que deixava claro e evidente que o país estava cada vez mais carente de fluxo de recursos, o que poderia leva-lo a ter que oferecer divisas efetivas em leilões aos bancos autorizados a operar em câmbio.

Provavelmente, por saber das tratativas que vinham sendo desenvolvidas pela Petrobrás, o BC tolerou as pressões altistas recentes sem esboçar qualquer atitude intervencionista, já que a depreciação do real não é conveniente neste momento de inflação aquecida e ainda sem uma estratégia eficaz de contenção da tendência.

No nosso entendimento, de forma pontual, esta captação da Petrobrás atenua a pressão altista das perspectivas pouco otimistas que vinham predominando em relação ao fluxo cambial para o Brasil, que no confronto com o mesmo período do ano passado revelava uma redução no fluxo liquido da ordem de US$ 22,0 Bi.
Atenua, porém não resolve definitivamente, mas será suficiente para colocar o preço da moeda americana, muito provavelmente, abaixo de R$ 2,00, num ponto neutro de conforto para o governo, contribuindo para que não exerça pressão inflacionária.

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