Na falta de melhor observação dos movimentos efetivos de ingressos e saídas da moeda americana do nosso mercado à vista ao longo deste ano, nota-se a busca de razões no cenário externo para justificar os movimentos do preço localmente, o que pode estar sendo um foco errado.
A probabilidade do FED americano vir a rever seus programas de apoio à retomada da atividade econômica, reduzindo como consequência as compras de ativos, ainda é algo remoto a partir das opiniões externadas pelo Presidente do órgão, Ben Bernanke, mas têm se tornado frequente as manifestações de Presidentes de FED´s regionais neste sentido.
É perceptível que a economia americana vem recuperando atividade, porém ainda que o FED americano venha a reduzir o grau e a intensidade do programa que desenvolve, temos presente no mercado global a liquidez advinda do programa iniciado pelo Japão que envolverá algo como US$ 1,4 Tri em 2 anos, ao mesmo tempo em que o BCE deu inicio a redução da taxa de juro na Europa, o que promove a busca pelos investidores europeus de novas oportunidades de melhor rentabilidade fora da região.
A grande realidade é que a liquidez expressiva presente no mercado global não tem fluído para o Brasil, por inúmeras razões sobejamente conhecidas que impactaram determinando perda considerável de atratividade por parte do país.
Desta forma, nos parece um falso argumento atribuir-se ao fato da eventual mudança no programa americano a causa da alta do dólar no Brasil.
Isto seria verdadeiro, ainda com ressalvas, se o Brasil estivesse sendo fortemente beneficiado por fluxos de recursos externos em razão do programa americano, o que não ocorre a muito, desde quando vislumbramos “tsunamis monetários” que não se confirmaram na prática.
O fato concreto é que o fluxo de recursos estrangeiros está insuficiente e inconstante para o país neste ano, e este fato concreto é que vem determinando as mutações do preço da moeda americana.
Este contexto é amplamente sugestivo à tendência de alta do preço da moeda americana, que, contudo, vem sendo mitigada por saber-se que o governo não deseja, neste momento, movimento altista por confrontar com as medidas de contenção da inflação presente no país. Embora se reconheça que as atuações do BC, via instrumentos financeiros denominados “swaps cambiais”, podem não ser eficazes quando a demanda for efetiva de divisa disponível, não se descarta que o BC venha a fazer uso das reservas cambiais do país para ofertar moeda efetiva caso ocorra expansão do preço.
O total de fluxo líquido neste ano ainda não foi suficiente sequer para dar suporte ao montante de posição vendida dos bancos autorizados a operar em câmbio que migraram de 2012 para 2013, e o fluxo financeiro está negativo.
Como já destacamos em comentários anteriores ocorreu até 3 de maio último um ingresso líquido a menor de divisas no montante de US$ 22,5 Bi, sendo US$ 13,1 no fluxo comercial e US$ 9,4 Bi no financeiro.
O fluxo cambial está positivo no ano em US$ 2,1 Bi, enquanto os bancos passaram de 2012 para 2013 com posição “vendida” de US$ 6,0 Bi, o que os faz manter posicionamento “vendido” até este momento, ancorando-o nas linhas externas que detém junto a banqueiros no exterior.
Como temos salientado, precisamos ter um olhar mais acentuado para as causas internas para vislumbrarmos que predominantemente as consequências decorrem de fatores próprios do país neste momento, e muito pouco ou quase nada de fatores externos.
Se o governo flexionar tão somente o prazo dos empréstimos captados no exterior sujeitos ao IOF de 6% de 1 ano para 90 dias, seguramente o fluxo cambial terá uma melhora imediata, o que contribuiria para pressionar as taxas de juros internas. Adicionalmente, se o próprio mercado futuro não gerasse o “hedge” para estas operações, então, o BC poderia atuar fomentando esta liquidez.
É importante que o governo sinalize alguma atitude frente a este quadro adverso, já que as projeções para o déficit em transações correntes do país estão com a luz “vermelha” acesa e já superam as projeções para ingressos de IED´s somados ao superávit da balança comercial, como evidencia o Boletim FOCUS divulgado hoje pelo BC. O déficit está projetado em US$ 70,05 Bi enquanto os IED´s estão em US$ 60,0 Bi e o saldo da balança comercial em US$ 9,05 Bi.
O Boletim FOCUS também eleva as projeções para o IPCA-2013 de 5,71% para 5,80% e do dólar de R$ 2,00 para R$ 2,01, algo muito discreto, mas que entendemos que tem o sentido de marcar a observação, mantendo a projeção para o PIB em 3,0% e para a SELIC em 8,25%.
Enfim, no nosso entendimento as causas da volatilidade discreta que se observa no preço da moeda americana decorrem de fatores identificáveis relacionados ao fluxo de divisas para o país, que não tem perspectivas favoráveis para este ano, o que fortalece um viés de alta pelos fundamentos.