Operações do Banco Central ajudam JBS a reduzir exposição cambial

Operações do Banco Central ajudam JBS a reduzir exposição cambial

Sidinei Nehme diz que é uma hipótise citada no mercado e precisa de confirmação.

São Paulo e Brasília, 13/04/2016 – Uma das maiores companhias de processamento de carne do mundo, a JBS teria contado com a ajuda do Banco Central para evitar prejuízos financeiros. A empresa, que no ano passado lucrou com posições de proteção (hedge) em derivativos cambiais, estaria vendo os ganhos se transformarem em perdas neste ano em função da forte baixa do dólar ante o real. De acordo com fonte do mercado, a empresa teria demonstrado ao BC sua disposição de reverter a posição, o que pode ser a explicação para as atuações mais fortes do BC nos leilões de swap cambial reverso.

Procurada pelo Broadcast, a JBS afirmou que “não comenta rumores e nem especulações do mercado”. Afirmou ainda por meio de nota que não fez nenhum contato telefônico com o Banco Central. “São mentirosas e falsas as afirmações e as especulações de que a JBS teria feito contato com o Banco Central do Brasil para informar ou comunicar uma eventual desmontagem de posição no mercado de câmbio”, diz a nota.

Para analistas o departamento de Relação com Investidores da JBS negou que a empresa esteja alterando sua política de hedge.

No ano passado, a JBS, que tem como acionistas controladores a FB Participações SA e o Banco Original, chegou a carregar uma posição comprada em dólares de cerca de US$ 12,5 bilhões, de acordo com profissionais do mercado. Sempre que o dólar subia, a empresa registrava ganhos. Foi assim no terceiro trimestre de 2015, quando a companhia indicou em seu balanço ganho financeiro de R$ 9,5 bilhões, com operações de hedge, com base em um dólar (ptax) de R$ 3,9729.

O problema para a empresa teria surgido neste ano após o dólar assumir tendência de baixa. Os resultados do primeiro trimestre ainda não foram divulgados, mas relatório do Credit Suisse, assinado pelos analistas Viccenzo Paternostro e Victor Saragiotto, calcula que a inversão cambial pode provocar uma perda de R$ 5,1 bilhões para a companhia no primeiro trimestre de 2016. O cálculo considera que a empresa não reduziu sua posição de hedge, mantendo-a em torno de US$ 12 bilhões.

No entanto, alguns números que circulam no mercado apontam que a JBS desarmou desde o fim do ano passado US$ 2,5 bilhões de sua posição comprada de US$ 12,5 bilhões. Assim, ainda restariam US$ 10 bilhões a serem zerados.

Em 21 de março, o Banco Central voltou a fazer leilões de swap cambial reverso, algo que não era feito há três anos. As operações foram repetidas desde então, com montantes variados. Na visão do mercado, o BC voltou com a operação para reduzir a volatilidade do câmbio, em meio à euforia dos investidores com a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A oportunidade de o BC reduzir sua posição em contratos de swap cambial tradicional, acima dos US$ 100 bilhões, também é citada como motivo para as operações. Profissionais lembraram ainda que muitas empresas assumiram no ano passado posições compradas em dólar para se proteger (hedge). Agora, com a moeda desvalorizada, essas posições passaram a significar prejuízo e as companhias se valeram dos swaps reversos para reduzir suas exposições.

“O Banco Central já havia colocado cerca de US$ 4,5 bilhões em swap reverso desde que reiniciou as operações. Apenas na terça-feira, foram mais US$ 8 bilhões”, comentou Vitor Carvalho, sócio da gestora de recursos LAIC-HFM. “A demanda para zeragem de hedge não é só da JBS, mas é inquestionável que ela está reduzindo.” Nesta quarta-feira, o BC comprou do mercado mais US$ 5,250 bilhões em swap reverso.

 

JBS

Durante a apresentação dos resultados do quatro trimestre, em março deste ano, o CEO global da JBS, Wesley Batista, foi questionado sobre o posicionamento da empresa em relação à proteção por meio de hedge. Na época, Batista citou que “o momento de volatilidade e incerteza nos traz a ideia de que temos de nos proteger e que se não estivermos protegidos (hedge) é um risco”, afirmou.

Em dezembro de 2015 a dívida bruta da JBS era R$ 65,882 bilhões, sendo 91% em dólar. Como a empresa é exportadora e, segundo relatório do Credit Suisse, 84% da receita líquida é denominada em dólar, ela já possui uma proteção natural em moeda estrangeira. O problema é que carregar as operações de hedge com dólar em queda pode resultar em prejuízo financeiro, que irá reduzir o ganho dos acionistas.

O Banco Central informou que não comenta operações específicas. O Broadcast apurou que, quando o BC faz leilões de swap, ele atua com instituições financeiras – e não diretamente com as companhias. Portanto, o BC não atuaria para favorecer uma ou outra empresa. No caso do swap reverso, a operação é ainda mais pulverizada, porque não são apenas os dealers que atuam, mas também outras instituições financeiras. Dentro do BC, a informação é de que a JBS não fez contato com a instituição.

Fonte: Broadcast Estadão

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