O Presidente do FED americano afirmou que a economia americana está crescendo em ritmo mais forte desde o final do ano passado, e esta observação sugere ao mercado acreditar que poderão ocorrer quatro elevações de taxa de juros neste ano.
Isto foi ontem, embora hoje tenha sido anunciado o crescimento do PIB do 4º trimestre americano em 2,5%, dentro do previsto, mas aquém dos 3,2% do 3º trimestre. O crescimento econômico americano desacelerou discretamente mais do que o esperado no quarto trimestre de 2017, uma vez que ritmo mais forte de gastos do consumidor em três anos atraiu importações e reduziu estoques.
O FED, por seu Presidente, tem uma avaliação bastante otimista em relação a economia americana, sendo mais incisivo e fortalecendo a expectativa de mais contundência no trato da taxa de juro.
Estes movimentos em perspectiva na taxa de juro americana e a nossa SELIC bastante baixa, com forte torcida de que seja mais reduzida, diminui margem de manobra para os investidores estrangeiros, massivamente especulativos, aportados em nosso mercado financeiro com recursos forjados em operações de “carry trade” em sua grande maioria.
O nosso BC precisa estar atento ao contexto externo, visto que pode impactar forte no nosso mercado financeiro, motivando até processo reversivo, com reflexos no preço do dólar e no comportamento da BOVESPA e mesmo no mercado de renda fixa.
Avisos não têm faltado, pois ontem mesmo a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagardé, afirmou que a economia global evidencia um crescimento amplo, mas o cenário está mudando com os riscos elevados de disputas comerciais, normalização da política monetária e mudanças tecnológicas.
A OCDE, a qual o Brasil quer integrar, sugere que o Brasil observe melhor eficiência nos gastos e economia de até 7,9% do PIB. Publicou um levantamento Economic Survey of Brazil 2018 com amplo detalhamento de diversos aspectos da economia brasileira, trazendo conjunturas e sugerindo medidas para corrigir distorções nos resultados do país em relação a outras nações, conforme matéria da Agência Reuters.
A agência de rating continuando o foco sobre o Brasil rebaixou o rating de Petrobrás, Eletrobrás, e outras.
É possível que o cenário bastante favorável ao Brasil tenda a modificar-se no médio/longo prazos, mas já causando preocupações no curto prazo.
Afora a severa crise fiscal, hoje mais preocupante, pois o BNDES adiou a devolução de R$ 30,0 Bi ao Tesouro, prometendo que o fará até 2 de abril e considerando que ainda terá que devolver mais R$ 100,0 Bi neste ano fundamentais para não haver a quebra da “regra de ouro”, há anúncios que se contrapõe a euforia atual em relação a economia.
O desemprego medido pelo Pnad cresceu no trimestre envolvendo janeiro e atingiu 12,2% algo como 12,7 milhões de desempregados, e grande parte da crença de que o PIB poderá crescer 3% está centrada no aumento do consumo familiar.
A SERASA divulga que o número de empresas inadimplentes chega a 5,4 milhões, o que é bastante expressivo e preocupante.
Não se observa a existência de medidas que possam atenuar a crise fiscal, e este é um problema para um país que já esta a 3 degraus abaixo do grau de investimento.
Há absoluta indefinição do quadro político sucessório, não havendo como se prospectar perspectivas em relação a um futuro governo, o que é lamentável. Muitos são os pretensos candidatos, poucos são os viáveis.
Gradualmente, o que se observa é que as realidades que tem merecido baixo foco por parte do mercado financeiro, em especial na Bovespa, vão despontando e deixando evidente que embora a economia venha revelando números até animadores, há enorme vulnerabilidade em torno deste cenário.
A maior evidência da falta de sustentabilidade é que qualquer “ruído” mais significativo externo, a reversão imediata na Bovespa e no preço do dólar ocorre, e isto, sem considerar os desafios e incertezas internas que vem sendo neutralizadas por discursos e afirmativas eufóricas.
É necessário aumentar o grau de atenção, prudência e sensatez. Bovespa e preço do dólar no foco.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO