O Presidente do BC, Ilan Goldfajn, acredita que em 2018 haverá recuperação consistente da economia, com a inflação controlada, mas demonstra ser previdente ao salientar que há riscos.
O fortalecimento da economia americana está no foco, e as preocupações estão em torno das preocupações de que o FED americano possa ser mais contundente ao elevar a taxa de juros ante pressões inflacionárias.
Naturalmente, há riscos também de retração da exuberante liquidez predominante no mercado internacional, e que provocaria relevantes impactos nos países emergentes, grandes beneficiários neste momento.
Afora isto, há os riscos locais não tão salientados pelo Presidente do BC, como a dramática crise fiscal ainda sem perspectiva de solução atenuante, visto que as medidas paliativas propostas após a não aprovação da reforma previdenciária, nem de longe, amenizam o problema fiscal e a pressão sobre a dívida pública crescerá como consequência, como bem salienta o Tesouro Nacional.
No horizonte, embora ainda minimizado está o contexto indefinido das eleições presidenciais, pois faltando praticamente 7 meses para as eleições não se tem clareza quanto a candidatos efetivos e viáveis, estando tudo muito nebuloso, sendo muito difícil vislumbrar perspectivas positivas contrapondo-se ao cenário preocupante em perspectiva.
Os próximos meses, com um breve interregno de distração com a Copa do Mundo, deverão ser muito tensos com o cenário político relegando o econômico a um segundo plano, e, por que não, até certo ponto prejudicando-o pelas incertezas e dúvidas que podem neutralizar, ainda que temporariamente, os ânimos pró investimentos no país, de nacionais e estrangeiros, e até a saída de investidores especulativos no mercado financeiro de renda variável e renda fixa.
No momento, os sinais da economia continuam positivos, porém carecem de fundamentos sustentáveis visto que ainda há riscos sobre pontos ainda extremamente vulneráveis, e que têm sido focados pelas agências de rating nas decisões de rebaixamento dos ratings do país.
A tendência de alta no juro longo aflora a preocupação com as perspectivas com a dinâmica do país no médio/longo prazo, ainda mais quando não se tem, ainda, mínima ideia de quem será o novo governante maior.
A arrecadação federal de janeiro merece destaque ao atingir R$ 155,6 Bi com um aumento de 10% em relação a janeiro de 2017, porém houve fatores pontuais como a arrecadação do REFIS de quase R$ 8,0 Bi e a alta do PIS/COFINS sobre combustíveis, com R$ 2,5 Bi. Expurgados estes valores restou um aumento de 2,36%, em grande parte decorrente da maior atividade industrial que foi expressiva.
Nas contas externas, chama a atenção o retorno de empresas brasileiras aos investimentos diretos no exterior em janeiro, atingindo um total de US$ 2,476 Bi, e em contraposição, também foi surpreendente os ingressos de investimentos diretos do exterior que somaram US$ 6,466 Bi.
Embora o mercado financeiro tenha menosprezado no primeiro momento o novo rebaixamento de rating do país, agora pela FITCH, é notório que o grau de cautela se acentua quando o olhar avança para o médio e longo prazos indefinidos para o Brasil política e economicamente, visto haver muitas incertezas, e isto pode afetar a dinâmica tão otimista da BOVESPA e do preço do dólar cadente.
Hoje a expectativa está centrada na fala do Presidente do FED americano Jerome Powell,que irá realizar seu primeiro depoimento semestral de política monetária ao comparecer perante a Comissão de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes ao meio-dia. Uma versão escrita do depoimento será divulgada 90 minutos antes de seu início, às 10h30.
Continuamos acreditando que há riscos de reversão em perspectiva face à grande dependência do “status quo” externo que tende a mudar e aos locais que não são pequenos em torno da crise fiscal e das turbulências presumíveis em torno das eleições presidenciais.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO