O fluxo cambial está insuficiente para atender a demanda presente e em perspectiva no mercado de câmbio brasileiro, e, agrava-se na medida em que isto fica evidente da mesma forma que também se torna evidente a perspectiva do crescimento do déficit em transações correntes do país.
Adicionalmente, os ruídos em torno do programa americano de incentivo monetário capitaneado pelo FED apontando para o seu término motivam a dinamização de saída de recursos do país por parte das empresas, antecipando-se a um cenário que, em tese, deve revelar maior pressão altista do preço da moeda americana quando se tornar efetivo.
Está claro que a postergação do programa americano não sugere aumento de fluxo cambial para o Brasil, mas em contrapartida a perspectiva de sua redução e/ou término estimula a ideia de que se intensificarão os volumes de saída.
A alternativa do BC no momento é continuar com os leilões de “swaps cambiais” no mercado futuro sempre que detectar que a pressão advém deste segmento procurar desenvolver uma estratégia que precisa da participação dos bancos construindo posicionamento vendido no mercado à vista para gerarem liquidez, para que não seja levado a realizar leilão de venda de dólares à vista, que poderia desencadear movimento especulativo sobre o real.
O BC se mostra favorável a conceder linhas de financiamento aos bancos em moeda americana para que possam ancorar suas posições vendidas, caso não lhes convenha por fatores vários obtê-las junto aos banqueiros estrangeiros, mas esta estratégia pode resultar em liquidez no mercado à vista, sem, contudo, contribuir para atenuar a pressão altista no preço da moeda americana.
Há pelo menos 3 hipóteses que colocamos ontem. Se as linhas se prestarem a focar operações de pagamentos ao exterior e na contra-ponta os reais auferidos forem utilizados operacionalmente no próprio mercado de câmbio, adquirindo dólares de exportações nas suas mais variadas formas ou ingressos outros que evitem que constituam posições vendidas, a alta poderá ser mitigada, não acreditando que possa causar apreciação do real.
Contudo, se os reais obtidos com a venda ao mercado dos dólares das linhas obtidas não forem aplicados no próprio mercado de câmbio, o que levaria a constituírem posições vendidas, então não haveria quaisquer benefícios na sensibilização da alta do preço da moeda americana, e pior, os bancos teriam que comprar proteção (hedge) para esta exposição, que seria um fator a mais de pressão de alta do preço da moeda americana.
A pressão sobre a formação do preço da moeda americana tem potencial para levá-la além dos R$ 2,30 e ,inquestionavelmente, aporá pressão inflacionária que não acreditamos controlável com política monetária.
O câmbio é neste momento e assim deverá perdurar durante o 2º semestre o grande vilão da inflação brasileira, conspirando contra os esforços do governo, que neste momento festeja o IPCA de julho de 0,03% que acumulou nos últimos 12 meses 6,27%, euforicamente considerado “dentro” da meta, embora o centro objetivado seja de 4,5%.
O índice do IPCA de julho precisa ser observado com moderação e sem tanto ufanismo, visto que repercute o impacto da redução das tarifas de transportes públicos e de uma redução dos preços dos alimentos que poderá ser absolutamente temporária, pois a partir de agosto deverão ter viés de alta provocada já pela pressão da alta do dólar. Ademais, deve ser considerado que há uma defasagem bastante relevante no preço dos combustíveis no país, cujo efeito na inflação está sendo represado pela contenção dos aumentos, o que está levando a Petrobrás a importar gasolina a preços mais elevados do que os que são praticados no mercado interno.
A reação dos empresários e executivos das principais empresas brasileiras é de desanimo com a economia, não havendo nenhuma simetria com a visão propalada pelo Ministro Mantega.
A grande participação dos produtos importados na nossa economia, estimada em 25%, é também um fator de transmissão rápida e contributiva para intensificação e disseminação da inflação na nossa economia.
Julho fechou com fluxo cambial negativo de US$ 1,447 Bi confirmando as previsões e é bastante provável que esta seja a tendência do fluxo cambial até o final do ano.
Nossa balança comercial tende a um discretíssimo saldo positivo, havendo quem a projete deficitária e os fluxos financeiros não têm perspectiva de incremento e reversão da tendência negativa que já se verifica desde fevereiro deste ano.
Por outro lado, tudo leva a crer que o déficit em transações correntes poderá superar as projeções atuais, atingindo montante superior ao das captações para financiá-lo, o que levará o governo a ter que utilizar parte das reservas cambiais.
Este contexto coloca a perspectiva de que o BC terá que vender dólar à vista como inevitável, porém se os bancos resolverem constituir posições vendidas para ancorar a diferença gerando liquidez para o mercado, a autoridade monetária poderá ser poupada desta necessidade, mas não será possível conter o viés consistente e fundamentado de alta do preço da moeda americana.
Houve descuidos no trato e percepções de fluxos de recursos para o país, agora o que se presencia é a consequência, que tem muito pouco a ver com o contexto externo.