Notoriamente, como temos destacado, o Banco Central do Brasil busca todas as formas e meios para evitar ser levado pelas circunstâncias presentes a realizar leilão de dólares “spot” no mercado de câmbio à vista, já que os números de fluxos e posicionamentos dos bancos indicam que a liquidez está escassa.
É clara a intenção da autoridade monetária que os bancos assumam a postura de serem os geradores desta liquidez operacional, o que implica em adotarem a prática de posicionamento “vendido”, impondo a necessidade de utilização de linhas de financiamento em moeda estrangeira de bancos estrangeiros e/ou fornecidas pelo Banco Central do Brasil através venda de dólares efetivos à vista conjugada com recompra futura.
O BC sinalizou para os bancos, através da palavra do seu Presidente Alexandre Tombini, que a autoridade monetária poderá vender dólares nestas linhas de financiamentos, assegurando “funding” para que as posições vendidas possam ser ancoradas, na eventualidade dos bancos não desejarem tomá-las diretamente junto aos banqueiros externos ou encontrarem alguma dificuldade nisto.
O fato expressado garante aos bancos liquidez em moeda estrangeira para que possam repassá-la ao mercado à vista.
Desta forma, dependendo do contexto desenvolvido a partir de então, a medida gerará liquidez, mas poderá ser ou não ser tão eficiente na contenção da pressão de alta sobre o preço da moeda americana.
Se os bancos utilizarem as linhas para atender a demanda por dólar do mercado, o que gera caixa em reais, e utilizarem estes recursos para conceder ACC´s ou ACE´s, ou mesmo, comprarem dólares oriundos de exportações já liquidadas ingressando no país, ou ainda, entradas financeiras, o contexto oferta/procura ficará equilibrado e não exigirá rigorosamente que os bancos assumam posições vendidas.
Neste caso, a pressão altista poderia ser mitigada.
Contudo, se os bancos utilizarem as linhas para atender a demanda por dólar do mercado e utilizarem a geração de caixa em reais para aplicação em outras carteiras, assumirão posições vendidas em moeda americana e precisarão realizar “hedge” para protegê-las, o que virá a exercer pressão altista do preço da moeda via mercado futuro de dólar/derivativos.
Ainda se considerarmos um mix da destinação dos reais captados pelos bancos com a venda dos dólares obtidos através das linhas de financiamento, haverá a necessidade de “hedge” da parte que ficar como posição vendida e que requisitará “hedge”.
A oferta de linhas pelo BC pode efetivamente conter as pressões de alta do preço da moeda, não sendo crível que tenha potencial para apreciar o real do ponto atual, mas pode não ter efeito nenhum sobre a pressão altista. Tudo dependerá de como os bancos as utilizarão na prática, sendo que a única coisa certa é que promoverão liquidez, mas tão somente temporal, pois ela será retomada no momento futuro (vencimento da recompra pelo BC), caso o mercado não retome a capacidade própria de geração de liquidez.
Mas, nas circunstâncias atuais em que ocorre a conjunção de demanda, tanto no mercado à vista quanto no mercado futuro/derivativos, o BC deve continuar mitigando a pressão altista advinda do mercado futuro/derivativos com leilões de “swaps cambiais” e tem na venda de linhas de financiamentos , que envolve venda à vista com recompra futura a última alternativa, se contar com a adesão dos bancos para evitar ter de realizar leilão de dólares à vista ao mercado.
Entendemos que o esforço do BC evitar de todas as formas realizar leilão de dólares à vista é meritório e muito importante, visto que há posicionamentos especulativos no mercado futuro de dólares e derivativos que, na ocorrência de leilão desta natureza, poderiam desencadear um movimento fortemente especulativo sobre o real.
É perfeitamente compreensível que o Presidente do BC mantenha o discurso de que a autoridade monetária dispõe de meios de conter a alta do dólar e até pela política monetária evitar a sua contaminação inflacionária na economia. Não poderia ser diferente, contudo, devemos considerar que a tarefa está ficando cada vez mais difícil.
Quando Tombini afirma que a percepção está mais pessimista que a realidade no Brasil cumpre o seu papel como autoridade governamental, não poderia ser diferente.
Análises de bancos americanos não evidenciam atratividade dos estrangeiros por investimentos em renda variável no Brasil, havendo grande preferência pelo México e outros mercados emergentes.
Quanto aos rumores em torno do programa de incentivo do FED, que ontem voltou a provocar ruídos pelas declarações de Presidentes regionais falando em proximidade da redução das compras do programa, continuamos entendendo que só tendem a fortalecer a pressão de alta do preço da moeda americana no nosso mercado, pois provocará saídas de recursos, enquanto a sua postergação se vier a ocorrer, terá poucos reflexos visto que o Brasil está fora do radar dos grandes investidores.
A despeito do conteúdo da fala de Tombini, já há sinais de percepção de que a economia continua patinando e que teremos PIB fraco também no 3º trimestre, tendo em vista que a atividade econômica foi fraca em julho.
Tudo indica que o crescimento econômico nanico trará em contrapartida benefícios em relação à inflação, mas, no nosso entendimento, é preciso aguardar este mês para se averiguar os impactos da alta do preço do dólar na espiral inflacionária.
Mas, entendemos que o preço da moeda americana em torno de R$ 2,30 é bastante consistente e fundamentado, não sendo desprezível o risco de ir um pouco acima.
Em julho o IPCA desacelerou ao registrar alta de 0,03%, influenciado pelo item Alimentação e Transportes. No ano acumula 3,18% e nos últimos 12 meses 6,27%. O Boletim Focus evidenciava projeção de 0,04%.