Tensões internas e externas difusas podem determinar consequências não esperadas

O mercado financeiro global tem inúmeros vetores de influência impactante presente no momento.

As bolsas globais tendem a queda com o peso da decisão do FED e suas perspectivas postas por Powell, seu Presidente. O aumento da taxa para a faixa de 1,50% a 1,75% era prevista pelo mercado global, ainda há dúvidas se serão 3 ou 4 alterações este ano, mas a mediana das previsões ainda aponta para 3, assim como para 2019, neste caso mais do que o previsto, e o ponto médio da taxa médio da taxa está agora em 3,4% em 2020. Enfim, em todo o considerando ficou claro que, como salientou Powell, “haverá uma política modestamente restritiva, modestamente de aperto”. A estimativa do FED para sua taxa referencial no prazo mais longo foi elevada para 2,9%. Contudo, poderão ocorrer mudanças desde que se confirme a perspectiva de aumentos de preços.

Custos mais elevados no crédito nos Estados Unidos podem acarretar consequências não esperadas, por isso há certa apreensão.

Por outro lado, há muitos receios em torno do envolvimento agora de forma mais acentuada da China, com o Presidente Trump devendo anunciar tarifas sobre produtos chineses. Trump assinará hoje pela manhã um memorando “enfrentando a agressão econômica da China”, que será implementado nos termos da seção 301 da Lei de Comércio dos Estados Unidos de 1974.

Este será um enfrentamento de gigantes, não podendo se perder de vista o poderio chinês e o fato da China, também, ser o grande financiador da dívida pública americana. Há ainda o risco de incluir restrições de investimentos chineses nos Estados Unidos.

O temido é a capacidade de retaliação em represália por parte da China.

Naturalmente isto coloca tensão nos mercados globais.

Na Europa, o BCE vê movimento de crescimento forte na zona do euro, bastante robusto podendo superar as expectativas de curto prazo.

Não se pode perder de vista que o BCE ainda mantém o plano que impulsiona a liquidez, que com a economia “andando sozinha” poderá vir a ser reduzido.

E no nosso Brasil, o COPOM continua visualizando “céu de Brigadeiro” para a inflação, etc…. e reduziu a SELIC para 6,5%, deixando aberta a possibilidade para uma nova redução.

Pouco fala, provavelmente até intencionalmente, da grave crise fiscal, que representa “o muro onde o país pode colidir” caso não encontre solução sustentável e possa ser submetido ao “voo da galinha”, com forte retrocesso a partir, provavelmente, já em 2020.

Prospectamos “virtudes” e ignoramos os efetivos desafios que continuam existindo no médio/longo prazo que conspiram contra uma visão otimista mais consistente. O estado atual é mais ou menos o “da mão para a boca”, visão de curtíssimo prazo. O sentimento do “tudo vai bem perdura”, ainda mais quando a SELIC é reduzida e não causa grandes efeitos na economia diretamente, mas é benéfica para o mercado financeiro que paga menos nas captações e empresta sempre sem reduzir efetivamente os gastos ou ampliar o acesso ao crédito. Os juros continuam exorbitantes para os demandadores de crédito.

A queda da SELIC e a alta do juro americano e perspectiva de que as tendências continuem inversas coloca em atenção o custo benefício das operações de “carry trade”, que fomentam os capitais estrangeiros especulativos que aportam no nosso mercado bursático e de renda fixa.

Os sinais de saída de recursos do país continuam se acentuando. Na semana de 12 a 16 deste mês o saldo líquido de recursos financeiros retirado do país atingiu mais US$ 1,65 Bi.

O fluxo de recursos financeiros após um positivo em janeiro de US$ 5,5 Bi, já registra negativo em fevereiro até 16 de março US$ 12,2 Bi, com tendência crescente visto que em fevereiro registrou negativo US$ 4,8 Bi e em março, tão somente meio mês, já acumula US$ 7,4 Bi. O fluxo líquido financeiro no ano está negativo em US$ 6,7 Bi com tendência de intensificação, o que sinaliza que os estrangeiros estão saindo do Brasil e isto pode se acentuar com as últimas alterações em torno das medidas do FED e do COPOM.

E, no campo político a cena vai gradualmente ficando tensa, seja em torno do ex-Presidente Lula, TRF-4, STF, etc…. mas no ambiente prospectivo em torno das eleições presidenciais, severamente posto em praça pública e discussão aberta com enorme antecedência, mas eivado de incertezas e dúvidas, que certamente pode levar aos investidores estrangeiros, mesmo os especulativos, a um recuo e a acentuar a saída preventiva do país.

Enfim, o momento tem inúmeros fatores difusos que tendem a impactar com reflexos na Bovespa e no preço do dólar.

É preciso ficar atento, e muito!


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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