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Mercado se vê com otimismo. Há razões que a própria razão desconhece para cautela

Depois de uma semana um tanto quanto tumultuada, os sinais emitidos pelos mercados globais é de recuperação do ânimo, pelo menos na abertura.

Mas a verdade é que há inúmeros vetores previsíveis e até imprevisíveis que no contexto atual podem impactar alterando o humor.

No cenário externo a guerra comercial mais diretamente entre Estados Unidos e China tem uma orquestração para o sentimento de que está se acomodando, mas isto parece improvável, a rigor parece que o problema está tão somente no seu nascedouro.

A China afirma que “intimidação econômica” dos Estados Unidos chegou ao fim. Por outro lado, o pessoal do alto escalão americano replica afirmando que a “era da rendição” do seu país acabou. A China parece desdenhar um pouco das afrontas americanas ao falar que a hegemonia americana terminou, com a autoridade de quem é o maior financiador mundial da dívida americana e se reafirma com a confiança de possuir a capacidade de defender seus interesses legais.

Poderá haver muitas repercussões neste confronto e isto continuará impactando no “sistema nervoso” do mercado global. O problema chino-americano num ambiente conflituoso causará estragos em todo o mundo, levando ao clima de cada um estabelecer suas próprias defesas, sem ir a Organização Mundial do Comércio.

Já no Brasil, o BOLETIM FOCUS expressa todo o otimismo dos economistas do sistema financeiro, que continuam vendo “céu de Brigadeiro” no horizonte, tendo em vista que a imprecisão, como é contumaz ao se confrontar dados com o fechamento do ano, nada acontece e haverá sempre um conjunto de variáveis para fundamentar o erro.

O Brasil tem “n” fatores adicionais à mediana do mercado global para ser precavido, pois como emergente e não protagonista no contexto mundial corre o risco dos efeitos mais drásticos da disputa comercial que pode prosperar, a despeito de ter atenuado o problema em torno das taxações sobre as exportações de aço e alumínio até maio, está na iminência de ver e conviver com um ambiente extremamente “envenenado” no campo jurídico e político, que poderá afetar o ânimo e apetite dos investidores estrangeiros, especulativos e não especulativos presentes no nosso mercado de renda fixa e variável, ainda mais com o fato adicional do Brasil estar tendente a reduzir sua taxa básica de juro, contrapondo-se a tendência de elevação da taxa de juro americano pelo FED.

Desta forma foge à percepção de análises gráficas vetores que podem afetar o “momento” e são peculiares a cada país, e o Brasil já está em clima eleitoral aberto e tendente ao acirramento desestabilizador, afora ter em perspectiva um severo problema fiscal, que certamente criará embaraços para a formulação do orçamento de 2019.

Há muitas dúvidas e incertezas na trajetória até as eleições que podem causar mudanças nas perspectivas para o país, e que poderão ser agravadas ou aliviadas dependendo do resultado eleitoral.

Por enquanto o cenário político está em crescente ebulição com grande capacidade de influenciar e subjugar o econômico, impondo-lhe até perda de ritmo por razões cautelares.

O cenário atual e mais ainda prospectivo do Brasil no curto/médio prazo sugere que os segmentos do nosso mercado financeiro e os preços dos ativos possam apresentar relevante volatilidade.

O fluxo cambial vem sinalizando saída de recursos financeiros do país e, certamente, a parte substancial é de recursos especulativos externos que previdentemente estão retornando as origens, até porque as margens para operações de “carry trade” estão ficando apertadas.

É natural que os formadores de opinião, quer da Bovespa quer do dólar, apregoem o melhor dos cenários, pois isto estimula o giro dos negócios e é postura típica, por vezes até decorrentes de seus posicionamentos ou de suas instituições, mas acreditamos que, muito antes do previsto, estejamos entrando num período em que deve prevalecer a cautela.

O BC realiza hoje leilão de 14.000 contratos de swaps equivalentes a US$ 9,0 Bi, rolando assim o saldo que restava da posição vincenda em abril e com isto vai mantendo o controle sobre o preço da moeda americana, pois se deixar de rolar o preço naturalmente subiria.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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